O diretor do jornal nicaraguense La Prensa, Juan Lorenzo Holmann, foi preso às 3h da madrugada de ontem, após 19 horas de uma ocupação policial iniciada na sexta-feira na sede da publicação, em Manágua.
A alegação da Polícia Nacional é que os diretores são investigados por “fraude aduaneira e lavagem de dinheiro”. Holmann foi levado para a prisão de “El Chipote”, supostamente para assinar documentos, escreveu no Twitter o jornalista Carlos Fernando Chamorro, primo dele.
A ação ocorreu um dia depois de o veículo denunciar a retenção de papel por autoridades aduaneiras e suspender sua circulação impressa. Policiais entraram nas instalações do diário por volta do meio-dia de sexta-feira. Veículos ligados ao governo publicaram em suas redes sociais fotos do depósito do jornal, onde afirmaram que existe material abundante para prosseguir com o trabalho de impressão, embora o veículo tivesse denunciado o confisco. Funcionários alegaram que a quantidade de papel não era suficiente para imprimir uma edição.
A três meses das eleições, Holmann eleva para 33 o número de críticos do regime de Daniel Ortega presos, entre eles Cristiana Chamorro, vice-presidente do La Prensa e uma dos sete candidatos à presidência presos.
Por meio das redes sociais, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) afirmou que o servidor interno do jornal foi suspenso durante a operação. “O acesso à internet foi cortado e seus trabalhadores ficaram incomunicáveis, afetando gravemente o livre exercício da liberdade de expressão na Nicarágua”, diz a publicação. Em seguida, a CIDH declarou que condena o que classificou como uma “constante perseguição à imprensa na Nicarágua”. “As pressões diretas ou indiretas destinadas a silenciar o trabalho da imprensa afetam o debate democrático e são incompatíveis com o direito à liberdade de expressão”, concluiu.
A prisão foi condenada também pela Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), da qual Hollman é vice-presidente regional, trabalhando em uma comissão de liberdade de imprensa e informação. Segundo a SIP, a operação policial foi feita sem ordem judicial e com confisco de informação contábil, computadores e servidores da área financeira.
Em cerimônia na sexta-feira, Ortega declarou que as acusações feitas pelo diário contra o governo são uma “calúnia ao Estado”. O jornal La Prensa existe há 95 anos e é o único veículo impresso de circulação nacional. É a segunda vez que o periódico tem a edição impressa interrompida por falta de matéria-prima. Segundo o diário, os problemas com retenção de papel ocorrem há pelo menos três anos.
Em 2019, o jornal Nuevo Diario finalizou as operações após denunciar um bloqueio à importação do insumo por parte da alfândega nicaraguense. (Com agências internacionais)
(Conteúdo/Agência Estadão)