Investigadores que atuam na apuração sobre o atentado que matou o candidato a prefeito de Itumbiara (GO) José Gomes (PTB) passaram a descartar a hipótese de “questões eleitorais” no crime. A informação foi dada à reportagem pelo comandante do 6º Comando Regional da Polícia Militar de Goiás, sediado em Itumbiara, coronel PM Adalberto Quixabeira.
A investigação é conduzida pela Polícia Civil, mas a PM de Itumbiara participa e dá apoio à apuração. Segundo o coronel, a hipótese mais forte é um motivo “pessoal”, embora as circunstâncias ainda não estejam claras. “Uma coisa que a gente está descartando é a questão eleitoral. É coisa pessoal mesmo. Mas ainda vamos chegar [a uma resposta]”, disse o coronel.
No final da tarde desta quarta-feira (28), o servidor da prefeitura municipal Gilberto Ferreira do Amaral, 53, atacou a tiros de pistola uma camionete que transportava Gomes e seus apoiadores em uma carreata pelo centro da cidade. O candidato, considerado o nome mais forte para as eleições do próximo final de semana, morreu com um tiro.
Um segurança do evento, o policial militar Vanilson Rodrigues, revidou ao ataque e também foi morto por Amaral, que depois foi cercado por outros policiais e morreu sentado em seu carro, quando tentava deixar o local. Também foi baleado o vice-governador de Goiás, José Eliton, que participava da carreata representando um apoiador de Gomes, o governador Marconi Perillo (PSDB), e acumula o cargo de secretário estadual de segurança.O corpo de Gomes foi enterrado no cemitério municipal no final da tarde desta quinta-feira (29).
Cerca de 16 mil pessoas passaram pelo velório no teatro municipal, conforme estimativa do Corpo de Bombeiros, e 6 mil foram ao cemitério, segundo estimou a PM.Itumbiara, no sul de Goiás, tem cerca de 100 mil habitantes. Gomes foi enterrado com honras militares, salva de tiros e fogos de artifício. Um violeiro tocou músicas sertanejas admiradas por Gomes. Logo após o enterro, o pai do candidato, Saul, cumprimentou e abraçou eleitores, enquanto enxugava lágrimas e era amparado por familiares. “A vida é feita de altos e baixos”, repetia Saul.
Para um eleitor que se aproximou aos prantos e o abraçou, Saul respondeu: “Esse choro seu vale tudo”.A Polícia Civil de Goiás, que formou uma força tarefa para apurar o crime, confirmou à imprensa poucas informações, embora afirme ter conseguido “muitos avanços” na apuração. Na noite desta quinta-feira (29), a polícia confirmou à reportagem pedaços da investigação: Amaral foi visto com uma arma de fogo nos dias anteriores ao crime; nesta manhã, foram apreendidos cerca de 80 quilos de maconha na casa de um dos filhos de Amaral, que está sendo procurado pela polícia, mas não se sabe se há alguma ligação entre a droga, Amaral e o crime; por fim, um segurança de Gomes negou, em depoimento, que ele ou o candidato tenham tido uma briga corporal com Amaral horas antes do assassinato.
Os rumores sobre a suposta briga circularam ao longo de todo o dia em Itumbiara e nas redes sociais na internet, mas a família de Gomes também negou com veemência qualquer briga corporal entre o candidato e Amaral.Para os aliados de Gomes, que já foi prefeito municipal, o crime teve motivações políticas. O deputado federal Jovair Arantes (PTB-GO), relator do processo de impeachment na Câmara da então presidente Dilma Rousseff, que também estava na carreata e é considerado um dos maiores apoiadores de Gomes, afirmou que foi “um crime político”.
Ele disse que Amaral trabalhava como motorista para a campanha de um candidato a vereador na coligação adversária de Gomes.”A Polícia Federal tem que entrar nisso e prender os culpados, não só o que morreu. O que matou, morreu. Mas quem foram os autores intelectuais disso? Para tirar do centro da comunidade uma liderança como o Zé? Derrotasse ele na urna, era tão fácil, era só ir lá dar o voto. Mas não”, disse Arantes.
Em entrevista coletiva concedida em Goiânia, o secretário interino de segurança Pública, Edson Costa, afirmou que o crime foi “um atentado político”, mas “no sentido de que foram feridos os direitos políticos” dos candidatos e das pessoas que participavam da carreata.HERDEIRO POLÍTICOA coligação que apoiava Gomes tinha um prazo de 24 horas para indicar um novo nome para um substituto do candidato do PTB.
O nome escolhido foi José Antonio (PTB), deputado estadual goiano de 27 anos e, segundo os petebistas, um “filho político” de Gomes.À Folha de S.Paulo, logo após o enterro de Gomes, José Antonio afirmou “jamais, absolutamente”, houve qualquer briga entre Amaral e Gomes antes do crime e também negou que o ex-prefeito tenha recebido ameaças. “Isso eu posso afirmar com segurança. Não é que nunca comentou, nunca houve [briga com Amaral]”.
Antonio disse “que estava se despedindo de um pai”, mas que “sinceramente não consegue identificar nenhuma causa, nenhuma ocasião, nenhuma motivação”.”É claro que [Amaral] não era um aliado nosso, foi um adversário que cometeu esse ato. Mas eu não posso afirmar isso [motivação política].”O principal adversário de Gomes na disputa de domingo, Álvaro Guimarães (PR), manifestou-se no horário eleitoral gratuito na TV na noite desta quinta-feira (28). Uma mensagem em letras brancas e fundo preto afirmou “o mais profundo repúdio e indignação pelo atentado nefasto e inescrupuloso que vitimou” Gomes. “Uma atrocidade, um absurdo, uma tragédia”, completou o texto, que anunciou “luto” pelas mortes.
No horário eleitoral da TV, Jovair Arantes apareceu ao lado de Antonio para anunciar o novo nome na disputa. Dirigindo-se ao eleitor, afirmou: “Você também entende que o sonho não pode acabar. Decidimos lançar como candidato, para substituir o Zé Gomes -ele é insubstituível, mas temos que apresentar um outro nome-, é o deputado José Antônio. A violência a gente vence com ideias, é com o sonho que pode prosperar através da materialização das urnas. Vai aparecer [na urna] a foto do Zé Gomes, mas você estará votando em Zé Antonio.” (FolhaPress)
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