O mundo está mudando, de olho nos novos comportamentos e hábitos das pessoas. Se antes o nosso sonho era ter o meu próprio carro, os jovens de hoje estão em busca de mobilidade, com uma maior consciência do futuro, do valor das coisas e dos seus atos. Eles priorizam a bicicleta, pegam carona, usam aplicativos de celular. Moram perto do trabalho.
As cidades precisam ser pensadas também para acompanhar essa mudança da sociedade. Uma questão essencial é avaliar as discussões e propostas para o Plano Diretor: suas diretrizes estão sendo pensadas com base na tendência dos próximos anos? Uma delas, as vagas de garagem, está totalmente ancorada no passado, olhando para o retrovisor, o que não faz sentido algum.
A legislação municipal de Goiânia em vigor hoje exige, no mínimo, uma vaga individual por apartamento. Isso desconsidera o fato de que maior parte da população não tem condições de comprar seu próprio veículo. Com essa exigência, a prefeitura quer que todos os que quiserem comprar apartamento, obrigatoriamente pague também pela vaga de garagem, uma vez que no preço de venda estará embutido o custo de construí-la. Isso torna a moradia popular mais cara em Goiânia do que em outros municípios, e inviabiliza o acesso à moradia por aqueles de menor poder aquisitivo.
Isso faz sentido? Num tempo em que há uma forte tendência das novas gerações em “usufruir mais”, e “ter menos”? Eles sabem que podem ir e vir de carro para qualquer lugar, sem precisar ter o investimento, as despesas e os transtornos que a propriedade de automóvel proporciona. É uma tendência ainda inicial. Mas é preciso entender que as mudanças tem acontecido em uma velocidade enorme, e isso pode impactar em muito a nossa realidade nos próximos 10 anos.
É evidente que isso não é a realidade de todos os tipos de produtos imobiliários. Lançamentos de apartamentos maiores sem vagas com certeza não seriam bem sucedidos.
A redução de exigência de vagas de garagem por apartamentos em Goiânia democratizaria a moradia na cidade, dando acesso à população de menor poder aquisitivo. Me desculpe, mas quem considera que todo apartamento, pelo menor que seja, deve ter uma vaga de garagem individualizada, não está antenada no que é tendência de comportamento das novas gerações, e desconhece a condição econômica da maioria das famílias do nosso país.
Marcelo Moreira é diretor da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Goiás (Ademi-GO)