24 de novembro de 2024
Brasil • atualizado em 13/02/2020 às 01:05

Planilha da propina era semanal, diz delator da Odebrecht

Sede da Odebrecht em São Paulo.
Sede da Odebrecht em São Paulo.

Em audiência com o juiz Sergio Moro tornada pública nesta quarta (12), o delator Fernando Migliaccio, que gerenciava o pagamento de propinas pela Odebrecht, afirmou que recebia semanalmente uma planilha com ordens de pagamento de vantagens indevidas.

Os montantes chegavam a milhões de reais ou dólares por semana.

“As solicitações eram feitas via sistema, até sexta. Na segunda-feira, tínhamos uma planilha. Eu recebia e ordenava os pagamentos”, afirmou o executivo.

O interrogatório de Migliaccio a Moro foi realizado há duas semanas. Ele é o único dos 78 delatores da Odebrecht cujos depoimentos ainda não foram liberados pelo STF (Supremo Tribunal Federal), porque seu material chegou depois ao gabinete do ministro Edson Fachin.

As propinas, segundo ele, eram pagas em dólares no exterior, ou em reais, no Brasil.

A orientação da empreiteira, porém, era preferencialmente fazer os pagamentos no exterior, para evitar riscos com o transporte de valores no Brasil.

A planilha semanal já vinha com os apelidos, senhas, contrassenhas e endereço ou conta para entrega dos valores. 

Quem determinava os codinomes, como Todo Feio, Decrépito e Boca Mole, eram os próprios executivos das unidades de negócio da empreiteira, que tinham a anuência de Marcelo Odebrecht para solicitar as propinas.

No exterior, os pagamentos sempre passavam por contas de intermediários antes de chegarem ao beneficiário final, para evitar o rastreio dos valores, segundo Migliaccio.

No Brasil, os saques em dinheiro eram entregues pessoalmente aos beneficiários ou a seus prepostos, sempre diante do uso de uma senha e contrassenha. Um dos casos relatados por Migliaccio foi o saque de até R$ 1 milhão em espécie pelo assessor do então ministro Antonio Palocci, numa mochila.

Migliaccio, que permaneceu no setor de propinas por quase oito anos, afirmou ter administrado cerca de 20 contas da Odebrecht no exterior, fora as de intermediários.

O nome do departamento de propinas, chamado Setor de Operações Estruturadas, foi dado pelo chefe de Migliaccio, Hilberto Mascarenhas da Silva -que “não gostaria que outros soubessem [o que ele fazia na empresa]”, segundo relatou o herdeiro do grupo, Marcelo Odebrecht.

COMEÇO DE 2016

O setor de propinas, segundo o delator, funcionou até “o comecinho de 2016”. Cerca de duas semanas após a prisão de Marcelo Odebrecht, porém, a área foi encerrada, e restaram apenas pagamentos finais a prestadores de serviço e advogados que ajudavam a manter as operações.

Antes disso, o executivo e a família haviam se mudado para os Estados Unidos, a pedido da empresa, para evitar o descobrimento do setor pela Operação Lava Jato.

Ele, porém, continuou operando os pagamentos, direto da República Dominicana.

Migliaccio foi preso na Suíça, no início do ano passado. Depois do acordo de delação premiada, foi liberado, com o uso de tornozeleira.

Em nota divulgada nesta semana, a Odebrecht informou que sua colaboração com a Justiça faz parte de “um compromisso com o Brasil e com o futuro”, e que já adotou um novo modelo de governança e de combate à corrupção no grupo, com “vigilância permanente”.

A empresa diz querer “voltar a merecer a confiança da sociedade”. (Folhapress)

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