14 de novembro de 2024
EXPLOSÕES EM BRASÍLIA

PF afirma que extremistas estão ativos e que ataque não foi isolado; Barroso afasta anistia

Inquérito foi instaurado, sob sigilo, para investigar atentado contra o Estado Democrático de Direito e atos terroristas; anistia seria perdoar sem antes sequer condenar, diz Barroso
PF investiga atividade extremita que levou a atentado em frente ao STF - Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom / Agência Brasil
PF investiga atividade extremita que levou a atentado em frente ao STF - Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom / Agência Brasil

O diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues, afirmou nesta quinta-feira (14), que “grupos extremistas estão ativos” e que o episódio das explosões na noite de quarta (13) em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília, “não é fato isolado” e está “conectado com várias outras ações que a PF tem investigado no período recente”. Também nesta quinta, o presidente do STF, ministro Luiz Roberto Barroso, criticou a possibilidade de anistia a quem atenta contra a democracia. Seria “perdoar sem antes sequer condenar”, apontou.

Diante das evidências de que extremistas continuam ativos, Rodrigues declarou que a situação requer que a PF e todo o sistema de justiça criminal atuem “de maneira enérgica”. Um inquérito policial foi instaurado pela PF, sob sigilo, e as autoridades trabalham com a hipótese de atentado contra o Estado Democrático de Direito e atos terroristas. O caso também será investigado pelo STF e o ministro designado é Alexandre de Moraes.

“Determinei instauração de inquérito policial, que foi inicialmente feito aqui na superintendência da Polícia Federal, e encaminhamento à Suprema Corte, em razão das hipóteses criminais de atos que atentam contra o estado democrático de direito e também de atos terroristas”, afirmou o diretor-geral.

PF vê indícios de planejamento de longo

A Polícia Civil do Distrito Federal identificou o autor do atentado como Francisco Wanderley Luiz, um extremista ligado ao PL de Santa Catarina que concorreu a vereador em outubro e não foi eleito. Ele próprio lançou artefatos em direção ao STF, segundo as investigações, e depois se deitou sobre um explosivo, que foi detonado, causando sua morte.

O diretor da PF afirmou que Wanderley Luiz já esteve em Brasília em outras oportunidades, inclusive no começo de 2023, quando aconteceram ataques à sede dos três poderes por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele também fez uma fotografia durante visita ao Supremo.

“Ainda é cedo dizer se houve participação direta nos atos de 8 de janeiro. Isso a investigação apontará”, reforçou ele.

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Rodrigues disse ainda que os artefatos usados pelo homem foram construídos de maneira artesanal, mas com grande poder de destruição. Luiz levava, por exemplo, um extintor de incêndio que estava cheio de gasolina. A suspeita é de que ele poderia utilizar o equipamento com o efeito de um lança-chamas.

As autoridades encontraram também, no porta-malas de um veículo, fogos de artifício montados e apoiados em tijolos. “Vamos tentar estudar o processo produtivo para tentar identificar a origem desse material explosivo”, afirmou o diretor.

Na casa onde o extremista estava no Distrito Federal, alugada temporariamente, a PF apreendeu um celular e explosivos. Além disso, Rodrigues revelou que uma equipe fez buscas com um robô antibombas e que, ao abrir uma gaveta para fazer uma busca, houve uma explosão. “O uso do robô salvou a vida de alguns policiais.”

“Onde perdemos a luz da alma para a escuridão do ódio?”, lamenta Barroso

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, reagiu nesta quinta ao ato terrorista em frente à Corte na noite anterior, criticando duramente a possibilidade de anistia a quem atenta contra a democracia. O ministro afirmou que quem defende anistiar golpistas quer “perdoar sem antes sequer condenar”.

“No curso das apurações, nós precisamos, como país e como sociedade, fazer uma reflexão profunda sobre o que está acontecendo entre nós. Onde foi que nós perdemos a luz da nossa alma afetuosa, alegre e fraterna para a escuridão do ódio, da agressividade e da violência?”, questionou Barroso ao abrir a sessão do Supremo desta quinta.

O presidente do STF não citou nomes, mas lembrou objetivamente episódios de ataques às instituições do Poder Judiciário, como ofensas feitas pelo ex-deputado Daniel Silveira e ações de extremistas e apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), correlacionando com a tensão extremista que levou aos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 e atentados terroristas como o de quarta. Ele resumiu tudo como resultado de discursos de ódio e violência.

Sobre o 8 de janeiro, Barroso definiu: “milhares de pessoas, mancomunadas via redes sociais e com grave cumplicidade de autoridades” invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes da República. Nesse ponto, fez abertamente a defesa de punição aos envolvidos e disse que minimizar o episódio incentiva atos semelhantes.

O discurso do presidente do STF foi seguido por falas de outros ministros na mesma linha.

Moraes lembra “gabinete do ódio”

Designado como relator do inquérito sobre o atentado de quarta, Alexandre de Moraes afirmou que as explosões registradas na área central de Brasília é resultado do ódio político que se instalou no país nos últimos anos. “O que ocorreu ontem não é um fato isolado do contexto. […] Queira Deus que seja um ato isolado, este ato. Mas o contexto é um contexto que se iniciou lá atrás, quando o famoso gabinete do ódio começou a destilar discurso de ódio contra as instituições, contra o Supremo Tribunal Federal, principalmente. Contra a autonomia do Judiciário, contra os ministros do Supremo e as famílias de cada ministro”, afirmou.

Moraes foi outro a falar contra a anistia. Na opinião dele, a “pacificação” do país não pode envolver a anistia a golpistas e vândalos.

“Ontem é uma demonstração de que só é possível essa necessária pacificação do país com a responsabilização de todos os criminosos. Não existe a possibilidade de pacificação com anistia a criminosos”, disse.

“Fanatismo político e indústria de desinformação foram largamente estimulados no governo anterior”, diz Gilmar Mendes

Gilmar Mendes, ministro mais antigo da Corte, fez um longo apanhado de eventos nos últimos anos, desde a campanha presidencial de 2018, que culminou na eleição do hoje ex-presidente Jair Bolsonaro, ligando os fatos.

“A reconstrução histórica dos últimos acontecimentos nacionais demonstra que o ocorrido na noite de ontem não é um fato isolado. Muito embora o extremismo e a intolerância tenham atingido o paroxismo em 8 de janeiro de 2023, a ideologia rasteira que inspirou a tentativa de golpe de Estado não surgiu subitamente”, disse Gilmar Mendes.

Ele ainda completou afirmando que “o fanatismo político e a indústria de desinformação foram largamente estimulados no governo anterior. Fruto de um sectarismo infértil, o radicalismo político grassou nas eleições de 2018”.

Sobre o atentado desta quinta-feira, o ministro disse que o episódio “merece a atenção de todos”.

País dormiu preocupado, cita Carmem Lúcia

Também a presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a ministra Cármen Lúcia falou sobre o atentado ao abrir a sessão da Corte nesta quinta.

Ela disse que o Brasil “foi dormir preocupado” com o episódio, mas que os cidadãos amanheceram “ocupados” em manter as funções para garantir a “continuidade, estável, segura e contínua das instituições democráticas”.

“Nesse sentido, nós damos continuidade aos nossos trabalhos com a mesma tranquilidade, destemor, e principalmente comprometimento com a democracia brasileira”, declarou Cármen Lúcia.

“Graves acontecimentos não comprometem o que é mais sério e de nossa responsabilidade, que é trabalhar para que a democracia brasileira se sustente, como vem se sustentando, em qualquer tipo de adversação que possa, de alguma forma, abalar a sua estrutura e dinâmica”, completou.


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