23 de novembro de 2024
Economia

Petrobras puxa queda do investimento

São Paulo – Com dificuldades de caixa, dívida excessiva e suspeitas de corrupção, a Petrobras está puxando a economia brasileira para baixo. Não fosse a freada da estatal em 2014 e 2015, a queda dos investimentos no Produto Interno Bruto (PIB, total da renda gerada no País) acumulada nestes dois anos poderia ser 1,4 ponto porcentual menor, segundo simulações feitas, a pedido do ‘Estado’, pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).

No ano passado, os investimentos caíram 4,4%, segundo o IBGE, mas o recuo poderia ter sido de 3,7%, se a Petrobras tivesse cumprido seu plano de investimentos 2014-2018. Para este ano, o Ibre/FGV espera um tombo de 7,2% nos investimentos. Já a equipe da corretora Gradual Investimentos prevê queda de 4%. Se a estatal mantivesse seus aportes, a baixa seria de 6,5%, no primeiro cenário, ou de 3,3%, no segundo.

Efeitos indiretos. Na prática, os efeitos negativos podem ser muito maiores, pois a conta não considera os impactos na cadeia de fornecedores nem do aumento da incerteza na economia. “A gente não sabe a extensão do impacto das investigações (da Operação Lava Jato) sobre as empresas associadas à Petrobras, que atuam tanto no setor de petróleo e gás quanto na construção”, diz Vinicius Botelho, pesquisador do Ibre/FGV, que fez as simulações.

Ele diz que os números devem ser vistos com cautela, porque os valores não levam em conta a variação de preços dos investimentos. Ainda assim, as simulações sinalizam os efeitos da freada da Petrobras – em 2014, os investimentos da estatal responderam por cerca de 8% do total da economia.

“A Petrobras permanecerá como a empresa que mais investe no Brasil, mas, agora, isso onera e afeta a economia”, afirma o economista Antônio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP, estimando que, quando seus fornecedores entram na conta, o peso da petroleira nos investimentos sobe para cerca de 10%.

Quando anunciou o plano 2014-2018, em fevereiro do ano passado, a estatal planejava investir US$ 220,6 bilhões em cinco anos. Apenas para 2014, informou que investiria R$ 94,6 bilhões. Para 2015, a então presidente Graça Foster previu um valor “ligeiramente” menor.

Tudo isso antes da Operação Lava Jato, deflagrada pela Polícia Federal em março de 2014. Agora, ao divulgar seus resultados financeiros de 2014, após cinco meses de atraso, a Petrobras informou que investiu R$ 87,140 bilhões em 2014, 7,9% menos do que o previsto. Para este ano, presidente da estatal, Aldemir Bendine, estimou os investimentos em US$ 29 bilhões (os mesmos R$ 87 bilhões).

Incerteza. Na visão do economista-chefe da Gradual Investimento, André Perfeito, para além do efeito direto da redução dos investimentos, a crise da Petrobrás traz incertezas generalizadas porque o projeto de exploração do pré-sal, com incentivo a fornecedores locais, protagonismo da estatal e apoio do governo, funcionava como um horizonte para a economia.

Diante da instabilidade política e da crise na economia, faltam rumos claros, algo necessário para garantir investimentos privados, sobretudo os de longo prazo. O problema é que a redução nos investimentos da Petrobrás é cobrada pelo mercado como saída para aumentar a rentabilidade da estatal no momento de dificuldades financeiras. O anúncio do plano de investimentos da Petrobras, para o período 2015-2019, já atrasado e aguardado com ansiedade pelo mercado, foi prometido por Bendine para daqui a cerca de um mês. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

(Estadão Conteúdo)

 


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