Um projeto de pesquisa do Sistema de Tradutor Bidirecional de Língua de Sinais, que está sendo desenvolvido por um grupo de pesquisadores do Instituto Federal de Goiás (IFG), propõe que uma pessoa possa conversar vestindo uma luva e por meio dos gestos, o que ela quer disser aparece na forma escrita na tela de um computador, em português, inglês e várias outras línguas.
Ao todo, o projeto recebeu recursos da ordem de R$ 1,1 milhão, para custear bolsas a estudantes e pesquisadores, material e a produção dos kits a serem distribuídos.
Em reunião para demonstração do protótipo da luva e do sistema, uma parte do grupo mostrou o funcionamento e destacou seus principais benefícios, principalmente para a comunidade surda, tanto das instituições de ensino, como para a população que possui essa necessidade específica e que usualmente utiliza os serviços dessas instituições.
Além de possibilitar a comunicação direta entre surdos e ouvintes, há uma outra possibilidade em desenvolvimento que, a partir do texto escrito que aparece na tela do computador e com a utilização de um aplicativo que faça a leitura oral do que está escrito, o diálogo entre uma pessoa cega e uma pessoa surda.
A proposta se constituirá em um instrumento importante para facilitar o diálogo dos surdos dos Institutos Federais com toda a comunidade acadêmica e externa, além de apoiar essas pessoas na utilização dos serviços da biblioteca, na busca por informações na recepção das unidades de ensino ou mesmo em um diálogo informal e, em especial, nas atividades de ensino.
Somente no IFG, existem cerca de 23 estudantes surdos matriculados. Esses alunos frequentam cursos nos câmpus Aparecida de Goiânia, Jataí, Itumbiara, Anápolis e, além deles, há professores surdos nos Câmpus Goiânia e Goiânia Oeste, segundo dados da Pró-Reitoria de Ensino. A Instituição possui tradutores e intérpretes de Libras, que assistem esses estudantes nas atividades acadêmicas, mas na rotina escolar, fora da sala de aula, o processo de aprendizagem é desafiador.
“É um instrumento de tecnologia assistiva que vai trazer um ganho para comunidade de surdos, porque você ter a condição de colocar um surdo pra se comunicar com um cego ou com qualquer pessoa, é fantástica. Se pensarmos hoje, no IFG, seria interessante ter nas bibliotecas, pois há momentos em que não há intérprete de Libras por lá. Daí o surdo chega, veste a luva e teria uma conversa. Poderia ser utilizada em uma quantidade enorme de locais, pois o objetivo é facilitar o diálogo e não eliminar a necessidade de ter intérpretes. É um instrumento a mais pra compor toda uma política de ações assistivas da Instituição”, ressalta o coordenador do projeto, professor Wesley Pacheco.
Projeto
O projeto vem sendo desenvolvido desde 2014, recebe há dois anos apoio financeiro da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec), do Ministério da Educação (MEC), e está em processo de montagem de 50 kits a serem distribuídos a todos os Institutos Federais do país, ao Colégio Pedro II, aos Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefet) e à Universidade Federal Tecnológica do Paraná (UFTPR).
Cada kit será composto por um par de luvas bidirecionais de língua de sinais, um computador, um aparelho Kinect (que é um aparelho usado em jogos de vídeo games para captar movimentos/gestos por meio de um sensor para serem traduzidos), um software tradutor e interpretador de língua de sinais.
Etapas
Entre as etapas realizadas do projeto estão a de consultoria para desenvolvimento do hardware, que deu origem ao protótipo da luva bidirecional; a de construção do banco de dados para validação dos gestos e tradução na forma escrita; que está sendo iniciada agora. A terceira fase será a montagem e o acoplamento dos circuitos na luva e envio para que uma empresa, que já está em contato com a equipe do projeto, faça a produção da luva em série.
Após, haverá a fabricação em série e conexão dos circuitos eletrônicos na luva, precedida do treinamento para utilização do sistema e distribuição dos kits às instituições da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica.
Para dar suporte à luva e as expressões a serem traduzidas, está sendo elaborado um banco de dados com palavras, frases e todo o vocabulário (gestos) da Libras traduzida para o português, etapa que conta com a participação dos professores Thiago Cardoso Aguiar e Waléria Vaz, ambos do Câmpus Aparecida. Eles estão inserindo os gestos e as traduções no banco de dados, que deve ser dinâmico e pode ser adequado conforme os regionalismos e as expressões que a própria Libras possui nas diversas regiões do país.
Estudante do mestrado profissional em Educação Profissional e Tecnológica (ProfEPT) e professor do IFG, Diego Leonardo Pereira Vaz é surdo e afirma que o projeto é “importantíssimo. Essa luva vai facilitar o processo de comunicação, tanto para o aluno surdo como pra mim, que também sou aluno. Quanto mais trabalharmos nessa luva, mais vai facilitar a comunicação pra comunidade surda do Brasil”, conta.
O projeto conta com uma equipe formada por estudantes, professores e servidores dos câmpus Senador Canedo e Aparecida de Goiânia. São 26 bolsistas, 16 pesquisadores, sendo cinco do Instituto Politécnico do Porto (instituição parceira), quatro de Aparecida, sete de Senador Canedo, mais 23 voluntários e um professor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC).
Parcerias
A parceria iniciada com o IPP começou em 2014, quando o projeto efetivamente começou. A Instituição possuía o software que fazia a leitura dos gestos, mas não tinha uma luva que fosse financeiramente acessível e nem que tivesse todos os recursos. O custo da luva em outros países é de cerca de 5 mil dólares cada par.
Em tratativas entre o reitor do IFG, professor Jerônimo Rodrigues da Silva, e representantes do IPP, ficou acertado que o Instituto brasileiro desenvolveria toda a estrutura eletrônica da luva e confeccionaria também a parte têxtil. E isso vem ocorrendo desde então. Hoje, o custo das luvas produzidas pela equipe brasileira é de R$ 1.000 cada par.
Atualmente, a luva funciona com o auxílio de um software de teste, também elaborado pela equipe de pesquisadores do projeto, por meio de um cabo conectado entre a luva e o computador. A ideia agora, segundo Pacheco, é aperfeiçoar a luva e eliminar o cabo, que hoje serve como alimentador de energia e conexão com o computador.
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