05 de dezembro de 2025
Ameaça ao meio ambiente

Pesquisa liderada por Goiás aponta microplásticos em 70% das praias brasileiras

Estudo apoiado pela Fapeg analisou 1.024 praias e identificou poluição em 709; iniciativa reúne mais de 100 pesquisadores de todo o país
Foto: Fapeg
Foto: Fapeg

Sete em cada dez praias brasileiras apresentam contaminação por microplásticos. O dado é resultado do maior levantamento já realizado sobre o tema no país, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg).

Publicado em outubro na revista internacional Environmental Research, da editora Elsevier, o estudo integra o Projeto MicroMar, coordenado pelo Instituto Federal Goiano (IF Goiano – Campus Urutaí), e identificou a presença dessas partículas em 709 das 1.024 praias analisadas.

Invisíveis a olho nu, os microplásticos representam uma ameaça crescente ao meio ambiente e à saúde humana. O artigo, por nome “Microplastic pollution across the Brazilian coastline: Evidence from the MICROMar project, the largest coastal survey in the Global South”, é o primeiro resultado do Projeto MicroMar.

Coordenado a partir de Goiás, o trabalho reúne mais de 100 pesquisadores e técnicos de universidades e centros de pesquisa públicos e privados de todo o país. Mesmo sem litoral, o estado se destaca como líder nacional em uma pesquisa de impacto global, consolidando sua presença na agenda científica internacional.

Maior levantamento sobre microplásticos já feito no país

De acordo com o coordenador do projeto, professor Guilherme Malafaia, o MicroMar é “um marco para a ciência goiana, nacional e global”. O pesquisador explica que a iniciativa preenche uma lacuna histórica na compreensão da poluição por microplásticos no litoral brasileiro.

“Mesmo sem litoral, Goiás demonstrou capacidade científica e organizacional para liderar a maior investigação costeira já realizada no Brasil”, afirma Malafaia.

O levantamento analisou 1.024 praias em 211 municípios, ao longo de 7.500 quilômetros de litoral, entre abril de 2023 e abril de 2024. O resultado mostra que a poluição plástica é ampla, persistente e atinge tanto áreas urbanas quanto regiões de conservação.

As partículas encontradas têm origem em embalagens, tecidos sintéticos, produtos domésticos e materiais de pesca, evidenciando a ligação direta entre o consumo cotidiano e a contaminação marinha.

Subsídio para políticas públicas ambientais

Os dados do MicroMar oferecem subsídios concretos para políticas públicas e estratégias de gestão costeira. O estudo está alinhado à Estratégia Nacional Oceano sem Plástico (ENOP), do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), e a projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional, como o PL 2524/2022, que restringe o uso de plásticos descartáveis, e o PL 1874/2022, que cria a Política Nacional de Economia Circular.

“O MicroMar fortalece a base técnica e social para a implementação dessas políticas e para uma transição sustentável ‘da fonte ao mar’”, ressalta Malafaia. Para o presidente da Fapeg, Marcos Arriel, o estudo reforça o compromisso da Fundação com a pesquisa científica de ponta.

“É por meio da pesquisa de fronteira que surgem soluções para desafios complexos. Elas se traduzem em tecnologias e políticas públicas que beneficiam toda a sociedade”, afirma.

Além do artigo científico, o MicroMar prepara um relatório técnico para o MMA e as secretarias estaduais de meio ambiente, e deve ampliar o monitoramento para regiões insulares e estuarinas, consolidando um banco de dados nacional sobre microplásticos.

“Traduzir o conhecimento científico em soluções práticas é o caminho para reduzir a poluição plástica e preservar os ecossistemas costeiros”, conclui Malafaia.

Pesquisa financiada pela Fapeg forma novos cientistas

Entre os autores do estudo está o doutorando Thiarlen Marinho da Luz, bolsista do Programa de Bolsas de Doutorado de Excelência da Fapeg. Para ele, o apoio da fundação foi decisivo para o avanço do trabalho.

“O investimento da Fapeg vai além da formação individual; representa a aposta do estado em jovens pesquisadores capazes de enfrentar desafios ambientais de escala global”, afirma Thiarlen.

O programa investe R$ 3,9 milhões no edital que apoia doutorandos de excelência, com bolsas de até R$ 7 mil mensais por três anos. O pesquisador, que também foi bolsista de mestrado, destaca que o investimento “demonstra sensibilidade e visão de futuro, fortalecendo a presença de Goiás na ciência mundial”.


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