27 de dezembro de 2024
Brasil

Pesquisa da USP reprova vermífugos, mas revela novos candidatos contra a Covid-19

Vermífugo ivermectina está sendo amplamente usado, sem comprovação, contra a Covid-19. (Foto: Reprodução)
Vermífugo ivermectina está sendo amplamente usado, sem comprovação, contra a Covid-19. (Foto: Reprodução)

Uma pesquisa do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP reprovou o uso dos vermífugos ivermectina e nitazoxanida (Annita) contra a Covid-19. Os dois medicamentos estão sendo amplamente utilizados como profilaxia e tratamento para a doença causada pelo coronavírus Sars-CoV-2, mas cientistas não encontraram eficácia das drogas nos testes in vitro.

Ambos demonstraram efetividade antiviral, porém não seletiva. Em outras palavras: elas eliminaram o vírus das amostras, mas também mataram as células, o que não as favorece como candidatas para o combate à Covid-19 .

No caso da nitazoxanida, o vermífugo reduziu em 94% a carga viral em células in vitro. Com base nisso, o Ministério da Ciência – ao qual o LNBio é vinculado – lançou em abril um estudo clínico para testar o uso da mesma na prevenção e tratamento da Covid-19. A meta é recrutar 500 pacientes com sintomas leves e outros 500, com sintomas graves.

Pesquisadores alertaram que o fato de uma substância funcionar contra o vírus num experimento in vitro (numa cultura de células) não significa que ela vá funcionar da mesma forma in vivo (no corpo humano). Portanto, os pesquisadores alertam que não é recomendado nem há motivo para que as pessoas utilizem qualquer um dos medicamentos mencionados com o intuito de se proteger da Covid-19 . Além de não oferecer proteção, os remédios podem causar danos à saúde, quando usados sem necessidade e sem supervisão médica.

“Nossos resultados sugerem que essas drogas são pouco específicas e não atendem aos critérios necessários para testes  in vitro com modelos animais”, diz o biólogo Lucio Freitas Junior, coordenador da Plataforma de Triagem Fenotípica,

Fármacos promissores

O estudo da USP identificou dois fármacos com efeitos positivos in vitro, numa gama de 65 pesquisados. A substância mais promissora identificada no estudo foi o brequinar, uma molécula que não está no mercado, mas é bem conhecida da indústria farmacêutica e vem sendo testada para diversas aplicações já há algum tempo, inclusive como antitumoral e antiviral. A segunda mais eficaz foi o acetato de abiraterona, um antitumoral usado no tratamento do câncer de próstata.

Os resultados do ICB foram publicados na última sexta-feira (10), no site da bioRxiv, uma plataforma aberta para a divulgação de trabalhos científicos que ainda não passaram pelo processo de revisão por pares (chamados preprints) — mas os autores ainda pretendem submetê-los a uma revista científica. A opção inicial pelo preprint, segundo Freitas, deve-se à urgência da pandemia e à intenção de “colocar esse conhecimento à disposição da comunidade científica o mais rápido possível”.


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