22 de novembro de 2024
Política

Perícia afirma que Joesley disse “todo mês” ao falar de Cunha

Dono da JBS gravou conversa com Temer (Foto: Reprodução Agora RN)
Dono da JBS gravou conversa com Temer (Foto: Reprodução Agora RN)

O laudo produzido pela perícia da Polícia Federal afirma que o empresário do setor de carnes Joesley Batista usou a expressão “todo mês” em um ponto importante do diálogo travado com o presidente Michel Temer em 7 de março no Palácio do Jaburu, e não “tô no meio”, ao contrário do que afirmou o perito contratado pela defesa do presidente.

Segundo a transcrição do diálogo feita pela PF, Joesley usou a expressão quando falava sobre seu relacionamento com o ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Em resposta, Temer indagou: “O Eduardo também, né?”, segundo a transcrição.

A expressão “todo mês” ligada a Cunha é relevante porque atua em favor de manifestações anteriores da PGR (Procuradoria Geral da República), que procura associar o diálogo a supostos pagamentos mensais feitos por Joesley ao ex-deputado para uma “compra de silêncio” do ex-deputado, a fim de evitar que ele se tornasse delator na Operação Lava Jato -uma das teses centrais da investigação sobre Temer.

Em entrevista coletiva convocada em 22 de maio, o perito contratado pelos advogados de Temer, Ricardo Molina, disse que Joesley havia falado “tô no meio”, e não “todo mês”.

O laudo final da perícia, com 123 páginas, mais um apêndice de duas páginas, é assinado pelos peritos do INC (Instituto Nacional de Criminalística) Paulo Max Gil Innocencio Reis e Bruno Gomes de Andrade, designados pelo diretor substituto do INC, Mauro Mendonça Magliano, e foi encaminhada ao STF na última sexta-feira pelo chefe do serviço de perícias em audiovisual e eletrônicos do INC, Getúlio Menezes Bento.

Conforme a Folha de S.Paulo havia antecipado na última sexta-feira (26), o laudo técnico do INC da PF apontou que as “descontinuidades” do áudio, que segundo o perito da defesa da Temer e um perito contratado pela Folha de S.Paulo seriam “edições”, são na verdade um problema causado pelo tipo do aparelho gravador utilizado por Joesley.

As interrupções ocorreram, segundo a perícia, porque o aparelho operava com um sistema de gravação automática, que começava ou parava conforme a “pressão sonora”, ou seja, a voz dos interlocutores. Essa particularidade do gravador levou às pausas e reativações automáticas que poderiam ser confundidas com “edições”.

Segundo a PF, ocorreu um total de 294 “descontinuidades” ao longo de toda a gravação feita no Jaburu. “Constata-se, no entanto, que tais descontinuidades são compatíveis com as decorrentes de interrupção no registro das amostras de áudio por atuação do mecanismo de detecção de pressão sonora do equipamento gravador, conforme corroborado por meio dos ensaios realizados”, diz a perícia. Os peritos fizeram diversas simulações com os dois aparelhos usados por Joesley e chegaram a conclusões semelhantes.

Os peritos atestaram ainda sobre a conversa no Jaburu: “Em especial, não foram encontrados elementos indicativos de que a gravação tenha sido adulterada por meio da inserção ou supressão intencional de trechos de falas ocorridas em outro momento ou em ambiente diverso”.

“Os trechos contínuos sucessivos ao longo do áudio questionado apresentam aparente encadeamento lógico de ideias e assuntos, e remetem a um dialogo travado entre dois interlocutores, com início, meio e fim”, dizem os peritos.

Conforme a perícia, as “descontinuidades” tiveram, em média, a duração de 1,3 segundo cada uma. Isso explicaria a diferença entre o total da gravação e um programa da rádio CBN transmitido na noite do dia 7 cuja emissão inicia e encerra a gravação feita por Joesley. O programa foi captado pelo rádio do carro do empresário.

Ao comparar o tempo da gravação com o da emissão da rádio, a emissora apontou a ausência de cerca de seis minutos na gravação de Joesley. Segundo os peritos, “a existência de uma diferença temporal como esta é esperada quando da gravação de arquivos de áudio com mecanismo de ativação por detecção de nível de pressão sonora”.


Leia mais sobre: Política