A edição desta semana do Jornal Tribuna do Planalto traz uma análise das maiores estruturas políticas que devem disputar o processo eleitoral do ano que vem. De acordo com o levantamento, do repórter Daniel Gondim, a base governista e o grupo de oposição formado por PMDB e PT tem as maiores estruturas partidárias.
Veja o texto na íntegra, disponível no site da Tribuna do Planalto:
Números reforçam polarização entre base e PMDB/PT
Levantamento mostra que aliados do governador e oposicionistas comandam mais de 80% da população, deixando terceira via com pouco espaço no cenário para 2014
Daniel Gondim – Repórter de Política TRIBUNA DO PLANALTO
O mês de maio trouxe as primeiras indicações do panorama que o eleitor goiano deve encontrar nas eleições estaduais de 2014. As filiações do empresário Júnior do Friboi e do ex-prefeito de Senador Canedo Vanderlan Cardoso ao PMDB e PSB, respectivamente, mostraram que a possibilidade da base aliada do governador Marconi Perillo (PSDB) enfrentar dois adversários no próximo ano é grande. Com o cenário desenhado e faltando pouco mais de um ano para as convenções partidárias, o tucano e seus aliados, a oposição liderada por PMDB e PT e a terceira via têm agora que ampliar seus espaços e viabilizar as respectivas candidaturas ao governo.
Para avaliar qual o tamanho real de cada grupo, a Tribuna fez um levantamento de dados, como número de prefeituras e habitantes governados (veja quadro). Nesse sentido, o que se pode perceber é que a terceira via, capitaneada por Vanderlan Car¬doso, pelo deputado federal Ro¬naldo Caiado (DEM) e pe¬lo ex-secretário da Fazenda do governo Alcides Rodri¬gues (PP), Jorcelino Braga (PRP), terá trabalho para conseguir espaço.
Isso porque a polarização histórica entre PSDB e PMDB e seus respectivos aliados vai bem além da disputa eleitoral. De acordo com o levantamento, a base aliada e a oposição, juntas, governam mais de cinco milhões de pessoas, o que corresponde a mais de 80% da população do Estado.
Com 124 prefeituras conquistadas nas eleições municipais de 2012, a base aliada, que é capitaneada pelo PSDB e que tem PSD, PTB e PP como principais aliados, governam mais de 2,2 milhões de pessoas. A oposição, que tem como principal força a aliança PMDB-PT, tem 73 prefeitos, mas, em compensação, administra mais de três milhões de habitantes, incluindo Goiânia, Aparecida de Goiânia e Anápolis, os três maiores municípios do Estado.
Diante dos números, tanto a base aliada do go¬vernador quanto a oposição poderão usar as administrações municipais como espelho dos projetos que defendem para o Estado. A terceira via, que bate na tecla de que há uma saturação na sociedade do modelo de polarização, terá o trabalho extra de convencer a população disso, já que, comparada aos grupos adversários, possui bem menos re-presentatividade.
Números
A análise dos números mostra que, de fato, a polarização não é vista apenas no período de eleições estaduais. Em 2012, no pleito municipal, a base aliada do governador e a oposição travaram disputas equilibradas pelo controle de cidades e regiões estratégicas. Apesar de ter menos prefeituras, o bloco contrário ao tucano sai na frente, já que comanda cidades maiores.
A primeira consequência é que a oposição poderá ter mais condições de se capitalizar do que a base aliada, caso faça bons trabalhos em cidades importantes. É o caso de Goiânia, Aparecida e Anápolis, os três maiores colégios eleitorais do Estado, comandados por Paulo Garcia (PT), Maguito Vilela (PMDB) e Antônio Gomide (PT), respectivamente.
Além disso, outro número importante a favor da oposição é o de número de eleitores. Somados, os 73 municípios governados pela oposição somam pouco mais de 2,1 milhões pessoas aptas ao voto, contra os mais de 1,5 milhão dos 124 da base aliada.
Curiosamente, porém, o desempenho dos dois grupos nas eleições municipais de 2012 foi parecido. So¬mando todos os candidatos a prefeitos no Estado, o bloco contrário ao governador somou 1.319.165 votos. A base aliada, por sua vez, teve 1.328.086.
Se a oposição leva a melhor nos números, a base aliada sai na frente em outras áreas como, por exemplo, o número de parlamentares. Na Assembleia, o governador tem ampla maioria, enquanto o bloco oposicionista soma 16 deputados. Na Câmara Fe¬deral, a bancada do governo tem nove membros, enquanto o grupo contrário tem seis. No Senado, a vantagem é ainda maior, já que os senadores Lúcia Vânia e Cyro Miranda, ambos do PSDB, e Wilder Morais (DEM) integram a bancada governista.
Histórico
A polarização em Goiás é histórica. No início do século XX, por exemplo, o embate mais importante era entre a família Caiado e Pedro Ludovico Teixeira. No período pós-ditadura militar, a polarização tomou os contornos conhecidos atualmente. Em 1982, na primeira eleição para governador após o período da ditadura militar, a disputa foi entre o ex-prefeito de Goiânia, Iris Rezende (PMDB), e o ex-governador Otávio Lage, com o peemedebista saindo vitorioso. Desde então, o PMDB acumulou 16 anos no poder. Em 1998, porém, Iris foi derrotado por Marconi Perillo, dando início à hegemonia tucana em Goiás, que, em 2014, também vai completar 16 anos.
Apostando na saturação do modelo, Vanderlan Cardoso e Ronaldo Caiado passaram a liderar a criação de um novo eixo na política para a eleição do próximo ano. Ainda assim, há grandes chances de que em 2014 os goianos assistam a mais capítulo dessa polarização histórica. “A política em Goiás é baseada em estruturas conservadoras, fruto ainda do coronelismo e de uma visão tradicional. A capacidade de mudança é mínima, pois a própria população tem uma visão clientelista”, explicou o cientista político e professor aposentado da Universi¬dade Federal de Goiás (UFG), Itami Campos, há alguns meses, quando a Tribuna analisou a viabilidade da terceira via.
Grupos políticos rivais têm vários desafios pela frente
Com o cenário praticamente definido para 2014, os grupos têm pela frente desafios na busca pela viabilidade de uma candidatura ao governo. Na base aliada do governador, a principal tarefa é superar problemas internos e contribuir para que a administração deslanche, aumentando as chances de reeleição do governador. A oposição, por sua vez, fala em união, mas não dá sinais de que haja conversas nesse sentido.
Na base aliada, os primeiros passos começam a ser dados na segunda, 27, em um almoço que contará com a presença dos presidentes dos partidos que compõem o grupo. A iniciativa é do PSDB, presidido por Paulo de Jesus, e tem como objetivo unificar discursos e começar a pacificar possíveis descontentamentos de aliados.
Na oposição, o PMDB tenta liderar um movimento que começa a discutir a unidade dentro do grupo. No dia 13 de maio, os presidentes das siglas de oposição se encontraram e o principal assunto foi a necessidade de haver diálogo dentro do grupo. Mesmo com as indicações de que haverá mais de uma candidatura no bloco, o discurso usado é o da união.
As conversas, porém, ainda são superficiais. Os problemas internos do PMDB decorrentes da filiação de Júnior do Friboi e a insistência do PT em indicar nomes de pré-candidatos dificultam um aprofundamento maior do diálogo entre os partidos, o que atrapalha todo o bloco.
Dificuldades
A reunião da próxima segunda é estratégica para a base marconista, já que começam a aumentar os rumores de descontentamentos dos aliados com os rumos da atual administração. O último grupo a ensaiar uma rebelião foi o liderado pelo deputado federal Armando Vergílio (PSD), que, em abril, entregou o controle da secretaria de Desenvolvimento da Região Metropolitana, alegando interferência na condução dos trabalhos.
O episódio não foi o primeiro desentendimento entre alas que formam a administração tucana. Ao longo dos dois anos de mandato, foram constantes as disputas entre os grupos, que, muitas vezes, atrapalharam o andamento da gestão. Outro problema enfrentado dentro da base aliada é a antecipação da discussão sobre os nomes que vão compor a chapa majoritária.
Mesmo com o governador ainda sem confirmar se será candidato à reeleição, os aliados já iniciaram as articulações para indicar nomes para a aliança. Começou com o secretário-chefe da Casa Civil, Vilmar Rocha (PSD), que se lançou pré-candidato ao Senado. Agora, PP e PTB lutam para emplacar um nome para vice.
O problema é que todas as discussões acabam tirando o foco da administração. Como o governador sofreu com desgastes políticos e administrativos nos dois primeiros anos do mandato, a expectativa era que no terceiro houvesse uma união maior em torno do objetivo de acelerar a gestão.
Isso, porém, ainda não aconteceu. Além disso, há avaliação de que a falta de resultados pode começar a provocar debandada de aliados, já que diminui a expectativa de poder e propicia o aparecimento de lideranças que não acreditam na recuperação do governo até o período das eleições. Por isso, ao reunir os presidentes de partido, os governistas mostram preocupação com os rumos da aliança, que terá menos de um ano para resolver os problemas e diminuir os desgastes.
União
Na oposição, a grande dificuldade é mesmo transformar em atitude o discurso de união. PT e PMDB, os principais partidos da aliança, devem caminhar juntos em 2014, motivados pelo bom desempenho nas eleições municipais e pelo cenário nacional, que indica mais uma dobradinha entre as duas siglas. Isso, porém, não garante que petistas e peemedebistas se entendam sobre quem deve ocupar a cabeça de chapa em Goiás.
As vitórias em Anápolis e Goiânia deixaram os petistas animados em lançar um candidato ao governo. Até por isso, os prefeitos dos dois municípios, Antônio Gomide e Paulo Garcia, são ventilados como pré-candidatos da sigla para o Palácio das Esmeraldas.
O problema é que o PMDB não abre mão de ter a cabeça de chapa para o governo. A principal dificuldade dos peemedebistas era indicar um nome para liderar o processo, mas com a filiação do empresário Júnior do Friboi, os peemedebistas reforçaram a esperança de ter esse nome para enfrentar a base aliada.
Isso, porém, não está garantido, já que a filiação de Júnior, antes de resolver um problema, pode ter criado outro. Ao procurar o PMDB, o empresário recorreu à executiva nacional sem consultar lideranças da sigla no Estado, principalmente o ex-prefeito Iris Rezende. A iniciativa causou mal estar, principalmente com a ala mais tradicional.
Assim, atualmente, o próprio PMDB parece dividido. De um lado, a ala mais jovem defende a alternância de nomes e vê em Júnior do Friboi o nome ideal para o governo. Do outro, está o grupo mais tradicional, que prefere Iris Rezende. Além disso, há ainda o PT, que ainda não se posiciona, mas deixa claro que pretende manter até o fim os nomes de seus pré-candidatos no tabuleiro da sucessão.
Terceira via corre contra o tempo para se fortaleer
A terceira via, liderada pelo ex-prefeito de Senador Canedo, Vanderlan Cardoso (PSB), pelo deputado federal Ronaldo Caiado (DEM), e pelo ex-secretário da Fazenda, Jorcelino Braga (PRP), quer quebrar a polarização histórica no Estado. No entanto, ao ser comparado com os outros dois grupos que pretendem disputar o governo, o bloco fica em desvantagem, o que reforça a necessidade de um crescimento rápido para viabilizar uma candidatura própria.
A comparação é desfavorável à terceira via. Enquanto a base aliada do governador Marconi Perillo e a oposição têm, respectivamente, 124 e 73 prefeituras, o grupo de Vanderlan, Braga e Caiado comanda 42 municípios goianos, totalizando pouco mais de 600 mil pessoas governadas.
Além disso, a falta de estrutura partidária em todo o Estado também pode ser desfavorável ao grupo. Ao enfrentar alianças que envolvem partidos como o PSDB, PP, PSD e PTB na base aliada, e PMDB e PT, pela oposição, a terceira via pode ter dificuldades para rivalizar com os dois grupos, que tem mais facilidade para encontrar lideranças e montar palanques por todo o Estado.
O grupo também tem pouca representatividade em outros setores. Na Assembleia, o único deputado comprometido com a terceira via é Simeyzon Silveira (PSC), que foi bancado por Vanderlan, Caiado e Braga para a prefeitura de Goiânia. Na Câmara dos Deputados, dos 17 parlamentares goianos, a terceira via conta apenas com o presidente regional do DEM e a deputada Flávia Morais, do PDT.
Além disso, a terceira via também sofre com a possibilidade de rachas internos no DEM e no PSB, o que pode prejudicar ainda mais a viabilidade de uma candidatura do grupo. Como presidentes das siglas, Caiado e Vanderlan são entusiastas do projeto, mas pode haver resistências nos dois partidos.
No DEM, que é aliado histórico do PSDB em Goiás, a dificuldade é convencer os partidários a deixar de lado o apoio ao governador Marconi Perillo. No PSB, por sua vez, o problema é que toda a estrutura do partido foi montada por Júnior do Friboi. Mesmo com o empresário no PMDB, há lideranças, principalmente prefeitos e vereadores, que vão continuar fechados com o novo peemedebista.
Indefinição
O distanciamento do de¬pu¬ta¬do Ronaldo Caiado da base aliada do governador Marconi Perillo não é seguida com entusiasmo pelo DEM. Atual¬me¬n¬te, os dois deputados estaduais do DEM, José Vitti e Hélio de Sousa, integram a bancada governista, assim como o senador Wilder Morais. Além disso, nas 16 prefeituras comandadas pelo partido, a impressão é que os democratas preferem manter um alinhamento com o governador.
Mesmo assim, Caiado mantém a intenção de colocar o DEM em uma candidatura fora da alçada governista. O primeiro indício disso foi a saída do vice-governador José Eliton, que era o principal defensor da manutenção da aliança com Marconi Perillo. Agora, o episódio mais recente foi a aproximação com o go¬ver¬nador de Pernambuco, Edu¬ardo Campos, que também é presidente nacional do PSB. Tencionando ser candidato à presidência da Repú¬blica, o pernambucano busca alianças regionais para ter palanques nos Estados.
Essa aproximação, aliás, foi a responsável pela “conquista” do PSB para o projeto da terceira via. Ao deixar a sigla rumo ao PMDB, Júnior viu o partido ficar sem liderança. Rapidamente, Vander¬lan Cardoso assumiu o comando da sigla, em uma costura política que envolveu também Ronaldo Caiado e Eduardo Campos.
Muito comemorada, a conquista do PSB reforça o projeto, mas ainda há questões a resolver. O crescimento experimentado pela sigla desde 2011 foi construído com o apoio de Júnior, que não poupou esforços para fortalecer a sigla. Por causa disso, lideranças do partido já mostraram insatisfação com a mudança de rumo, já que Vanderlan sinaliza com uma candidatura própria.
Por causa disso, há a especulação de que, mesmo com o ex-prefeito de Senador Canedo comandando a sigla, alguns integrantes do PSB devam apoiar Júnior, apesar de sua mudança para o PMDB
Desidratações
Se as disputas internas no PSB e DEM se tornarem mais acirradas, os dois partidos correm o risco de sofrer com desidratações, enfraquecendo ainda mais o projeto. No DEM, ficou a expectativa de que a saída do vice-governador pudesse significar a saída de aliados mais próximos do ex-democrata.
Isso, porém, ainda não aconteceu. Além disso, há quem acredite que a saída de José Eliton também não vai significar grandes perdas, já que a ala liderada por ele era pequena. Mesmo assim, como o prazo final para troca de siglas vai até outubro, o partido ainda sofre com a ameaça.
No PSB, uma saída especulada é a do ex-deputado federal Barbosa Neto, que ocupava a presidência da sigla até o início do ano. Com a chegada de Vanderlan, Neto perdeu espaço. Ele, porém, deve continuar apoiando Friboi, já que ele teria um acordo com o empresário – Júnior já teria se comprometido a ajudar no financiamento de sua campanha a Assembleia Legislativa.
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