19 de dezembro de 2024
Política • atualizado em 13/02/2020 às 01:35

Partidos disputam filiação de Demóstenes Torres

O ex-senador Demóstenes Torres pretende voltar à política, caso tenha decisões favoráveis em relação à possibilidade de ser elegível novamente. Em entrevista ao Diário de Goiás nesta segunda-feira (26), o ex-Democrata afirmou que já recebeu convites para filiar em diversos partidos políticos.

“O PSDB já me convidou, o PP abertamente, o senador Wilder me convidou. Para filiar. [Convite] do vice-governador José Eliton. Do PTB foi o presidente do partido, Jovair Arantes. Eu vou, primeiro, ver. Também não vou entrar para não ser candidato. Segundo: se isso puder acontecer, eu vou verificar se tenho chance ou não de ser eleito, não vou entrar para fazer figuração”, disse.

Segundo Demóstenes, a pretensão é voltar para a política na base do governo de Marconi Perillo (PSDB). “A não ser que o governo não me quisesse”, ressaltou.

Discurso

Antes de ser cassado no Senado, Demóstenes tinha um discurso de moralidade. No entanto, agora, o ex-senador deverá se manter no discurso da eficiência, de que fez muito pelo País enquanto estava no Congresso.

“Eu vou sempre manter o meu discurso da eficiência. Por exemplo, quem decidiu faz a Lei da Ficha Limpa, o presidente da CCJ. Então, não dava nem para votar, eu peguei a própria relatoria para fazer isso e fiz um monte de atividades que contradiz exatamente o contrário do que foi posto”.

Veja vídeo da entrevista:

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Leia a entrevista na íntegra:

Quais são os próximos passos jurídicos?

Agora, com a decisão do Supremo, que tornou inválidas as escutas, e nem uma outra prova foi produzida, ao contrário, por mais de cinco anos o Ministério Público investigou e não encontrou absolutamente nada, o que eu tenho, aliás, é um atestado de idoneidade dado pelo Ministério Público. Foi feita uma perícia com base em dados do Coaf, do Banco Central, de todos os cartórios, investigaram minha vida, vereadores, presidentes de associação de bairros, políticos, enfim o Ministério Público concluiu uma perícia atestando que meu patrimônio é inferior ao que eu poderia ter. Com base nisso tudo, o Supremo também definiu que nada daquilo valia porque foi feita uma investigação por mais de quatro anos no primeiro grau. Mesmo sem conclusão alguma, isso foi remetido para o Supremo. Com a invalidação das provas, todos os processos que haviam e ainda há em andamento morrem. Então, a primeira decisão foi do Tribunal de Justiça, mas tem a ação civil pública pelo mesmo fato, além de processo administrativo pelo CNP pelo mesmo fato. O Supremo Tribunal Federal suspendeu o andamento do processo administrativo por considerar, antes daquela decisão, que não tinha consistência. Agora, eu entrei também no Supremo Tribunal Federal pedindo para que o processo administrativo seja julgado. Agora vou entrar no Senado, porque lá o processo está findo, senão automaticamente ele estaria morto, pedindo que ele seja reavivado e considerada essa decisão do Supremo. O Senado vai dizer se eu posso voltar ou não a ser senador, porque é um poder autônomo, e quanto à questão da minha elegibilidade, que eu não posso me candidatar, a não ser em 2022 para duas vagas, porque estou inelegível até 2023. Deputado federal e senador que tomam posse em 1º de fevereiro.

Não é muita coisa para pouco tempo?

Não. Já foi pior. Então, eu acredito que o Senado decidindo à favor, ok; se decidir contra, eu vou fazer uma reclamação ao Supremo dizendo que a ordem está sendo descumprida.

Tem prazo para isso?

O Senado pode não apreciar, ficar com o processo guardado por um tempo. Se isso acontecer, também faço uma reclamação. O Senado pode indeferir, dizendo que tem autonomia para decidir o que quiser, inclusive com base em provas ilegais, o que não é verdade. Mas pode decidir assim. Se decidir assim, eu faço uma reclamação no Supremo. Se decidir conforme a lei, está tudo ok.

O senhor acredita que ainda dá tempo de retomar o mandato?

Eu posso me filiar porque muita gente confunde e diz que eu não tenho direito político, que meus direitos políticos estão suspensos. Eu sou só inelegível. Eu posso votar, me filiar, presidir partido político, posso ter todas as atividades, menos ser votado porque eu decidi não renunciar. Eu preferi que o Senado me julgasse. Então, eu acredito piamente que vai dar tempo, até porque até o prazo de julho do ano que vem – se não mudar a lei eleitoral -, no registro de candidatura, eu posso obter uma decisão favorável. Mas se entender que devo ter uma atividade partidária e devo me candidatar, eu devo fazer isso também até o final de setembro.

O senhor acha isso politicamente viável?

Acho viável. Vou fazer o pedido. O Senado pode fazer uma modulação de efeitos como faz o Supremo, de reconhecer que isso tem pertinência e dizer “como tem outro senador aqui, que se dê apenas a elegibilidade ao Demóstenes”.

O senador Wilder, que herdou o mandato, trabalhará ao seu favor?

Acho que ele vai trabalhar para manter o mandato dele, mas acho que ele também pode trabalhar tranquilamente para que eu possa me tornar elegível.

O senhor ainda tem coragem de continuar na política e querer voltar?

Quem saiu como eu sai tem sempre vontade de reescrever a sua história. Eu acho que fui um senador produtivo. Outro dia eu estava fazendo um levantamento com meu ex-assessor Nilson Gomes, que hoje trabalha com o Wilder, nós chegamos à conclusão que eu interferi decididamente em 181 leis no Brasil. A Lei da Transparência eu que relatei na Comissão de Constituição e Justiça; o divórcio direto que não havia, tinha que fazer uma separação antes para dois anos depois fazer o divórcio; o divórcio em cartório; a Lei Maria da Penha, que eu comecei como Lei Consuelo Nasser; crimes sexuais, estupro de vulnerável, leis sobre pedofilia; Código de Processo Penal, essas medidas cautelares, quem iniciou o procedimento, a discussão sobre delação premiada. Então, eu tenho serviço prestado. Outro dia eu dei uma entrevista e o repórter me disse: “Tem muitas pessoas que têm um conceito não é bom sobre o senhor”. Mas porquê? Ninguém sabe exatamente o que eu fiz. Eu fui acusado de ser amigo do [Carlos] Cachoeira, de ter um telefone que ele me deu, que a secretária do governador também tinha, vários deputados federais, estaduais, de tomar três garrafas de vinho, de pegar carona de avião.

O seu discurso de moralidade e a amizade que o senhor não admitia não criou um…?

Tanto criou que eu fui mandado embora do Senado, mas não pelos fatos. Eu confesso que houve erro, mas o que não houve foi crime. Eu fui acusado de ser criminoso, isso eu não fui. Em nenhum momento apareceu o senador Demóstenes desviando dinheiro de estrada, de hospital, de Petrobras, de Eletrobras. E, convenhamos, o juiz que quantificou isso, quantificou como uma balela e não deu…

A frustração das pessoas não seria pelo discurso da moralidade?

Eu não me considero traidor de ninguém porque eu a massificação da notícia foi muito grande, mas se você enxugar o que tinha, absolutamente não tinha nada. Agora, eu era amigo do Carlinhos Cachoeira e me pergunte: “O que você fez por ele?”. Nunca teve um projeto de jogo no Senado enquanto eu estive lá. Agora, eu poderia ter defendido o jogo abertamente, sem problemas. Naquela época eu era contra, hoje sou a favor da legalização.

O projeto de transformação de alguns locais com jogos autorizados já está em andamento, não é? Inclusive é defendido pelo Ministério do Turismo

Sem dúvidas. Hoje eu acho que tem que ter atividade de cassino em alguns locais. No mundo inteiro tem. Muitos brasileiros saem daqui para jogar lá fora, no Uruguai, no Paraguai, no Chile, na Argentina. É cheio de brasileiro jogando. Então, o Ministério Público, que é o principal oponente, diz que aí pode ter lavagem de dinheiro. Mas eu pergunto: qual atividade hoje que não tem lavagem de dinheiro? Depois dessa mega investigação, estamos vendo bancos, construtoras, agência de publicidade, escritório de advocacia, tudo faz lavagem de dinheiro. Não vou dizer que é uma atividade generalizada, mas quem quiser fazer lavagem de dinheiro, faz e depois paga as consequências.

O senhor tem o interesse de retomar o discurso da moralidade?

Eu insisto, eu não fui pego no contrapé. Na realidade, se eu quisesse me enriquecer como senador, eu teria me enriquecido. Eu não tomaria uma garrafa de vinho, pegaria uma carona de avião ou coisa semelhante, que é trivial, mas pegou. Eu teria roubado da Petrobras milhões, como todos que estão. A Eletrobras. Eu era um senador importante, era presidente da Comissão de Constituição e Justiça, líder do DEM. Se eu quisesse fazer alguma coisa errada em profundidade, eu teria feito.

O senhor se arrepende de algo?

Não. Eu até disse no discurso de despedida do Senado, usando um brocardo romano, que é surrado, mas é verdadeiro, que a mulher de César não basta ser honesta, ela também precisa parecer honesta, e naquele momento eu não pareci. Então, houve, além de tudo, um massacre durante cinco anos. Só tenho uma semana e meia que tenho a decisão favorável e resolvi aparecer para discutir todas essas situações.

Como as pessoas têm se dirigido ao senhor hoje?

Agora na porta do prédio eu fui cumprimentado por muitos que esperam a minha volta, e há outros que declaram abertamente que não votariam, especialmente em redes sociais. Mas rede social você tem contra, a favor, contratados para fazerem o serviço, mas faz parte. Eu não poderia querer ter o mesmo tratamento depois de tudo que aconteceu. Eu vou ter realmente que me explicar e é isso que estou fazendo.

Qual é o discurso que o senhor adotará?

Eu vou sempre manter o meu discurso da eficiência. Por exemplo, quem decidiu faz a Lei da Ficha Limpa, o presidente da CCJ. Então, não dava nem para votar, eu peguei a própria relatoria para fazer isso e fiz um monte de atividades que contradiz exatamente o contrário do que foi posto. Não me arrependo de ter amizade. Muito pelo contrário. Logo depois o visitei, várias vezes na situação difícil em que está, porque senão eu seria um cachorro em não reconhecer que eu tive, sim, aquela amizade. Agora, o que não pode acontecer é a confusão de que aquilo maculou uma carreira porque tinha um relacionamento. Se fosse assim, pais não poderiam conviver com filhos drogados.

O senhor vai para a base de Daniel Vilela?

Não. Eu disse que eu pretendia voltar e, com isso, eu tentaria voltar pela base do governo, a não ser que o governo não me quisesse. Só que depois que eu fiz essas declarações, o PSDB já me convidou, o PP abertamente, o senador Wilder me convidou. Para filiar.

Do PSDB, o convite foi de quem?

Do vice-governador José Eliton. Do PTB foi o presidente do partido, Jovair Arantes. Então, eu vou, primeiro, ver. Também não vou entrar para não ser candidato. Segundo: se isso puder acontecer, eu vou verificar se tenho chance ou não de ser eleito, não vou entrar para fazer figuração.

A gente vê reações duras [das pessoas]. O senhor não teme isso em uma campanha?

Não temo. Temos aí eleitores de todos… Como eu disse, eu fui parabenizado aqui na porta, com o pessoal me cercando pedindo para eu voltar. Então, vamos considerar que essa é uma reação também legítima.

O senhor tem feito pesquisas?

Alguns amigos me dão acesso a pesquisas. Principalmente qualitativas. Algumas têm avaliação de imagem, que é bem melhor do que foi e pior do que foi, dependendo da ocasião.

Em entrevista ao O Popular, o senhor disse que não seria um superstar?

Eu digo que a popularidade fácil é mais ou menos como a impopularidade fácil, ela se reverte. Acho que é melhor fazer um trabalho no que é produtivo, que eu não deixei de fazer, mas exclusivamente isso. Não quero mais, de forma alguma, ter aquele relacionamento que eu tinha, promover festas, receber gente o tempo todo, eu quero centrar em meu trabalho, que é produção, ligado ao estudo e à eficiência. Como eu disse: se forem pegar o que foi feito no Senado por mim, eu fui em quantidade o maior relator da história do Senado, em qualidade acho que também estou lá no topo. Então, creio que na hora H isso vai pesar.

No ambiente de crise da segurança, a imagem de que o senhor foi um bom secretário de Segurança Pública traz um recall positivo?

Com certeza. Na realidade, onde eu passo eu me dedico a trabalhar. Quando eu peguei o Ministério Público e era procurador-geral, o Ministério Público tinha a metade do 7º andar do Centro Administrativo como estrutura, não tinha nada. Eu estruturei o Ministério Público. No Senado, o Ministério Público se tornou hoje essa potência principalmente graças ao meu trabalho. Foi eu que o inclui na reforma, porque o Ministério Público podia e teria todos os direitos equivalentes ao poder Judiciário. Então, salário, atuação, as leis que possibilitaram o Ministério Público fazer isso tudo, foi eu que fiz, e não me arrependo de ter feito porque acho que é um instrumento valioso. Então, é por isso que eu digo, quando o cidadão for pesar o que eu fiz e o que eu ainda posso fazer, porque estou me sentindo Napoleão em Elba, com a capacidade imensa de produzir e impossibilitado de fazer. Tenho muito o que fazer, eu penso, eu acho que fiz muito bem para Goiás, também paguei pelos meus pecados. Quantos pagaram como eu paguei? E olha: jamais fui acusado de tirar um centavo dos cofres públicos, nada. Aliás, o Ministério Público abriu um processo de investigação por enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro, e o Ministério Público me deu esse atestado. Então, acredito que as pessoas quando começarem a ter noção da realidade… Porque eu sai do Senado, na verdade? Na verdade, foi feito logo uma sessão em que todos os senadores presentes me hipotecaram apoio, mas logo em seguida viés o viés político, porque o Mensalão seria julgado e algumas pessoas envolvidas no Mensalão acharam que por minha proximidade com alguns ministros do Supremo, algumas autoridades importantes podiam melar o Mensalão. Ainda tinha o ódio grande que o ex-presidente Lula tinha especialmente do governador Marconi Perillo. Então, resolveram fazer a destruição de reputação e o único que acabou indo para o espaço foi eu. Quantos deputados federais não tinham as mesmas ligações que eu? Isso não era uma ligação criminosa, mas se tivesse que punir, tinha que punir todo mundo, não é verdade?

Esse é o jogo político e pegaram o senhor no contrapé

Só que não tem nenhum processo no Conselho de Ética. Lá tem senador que desviou R$ 40 milhões, R$ 50 milhões, R$ 60 milhões, R$ 2 milhões e não tem nenhum processo. Porque aconteceu só comigo, se os fatos hoje são muito mais graves do que o que aconteceu comigo? Eu fui vítima do sucesso e de várias leis que eu fiz, a Lei da Ficha Limpa é um exemplo. Estou inelegível por conta de uma lei que eu fiz.

Dizem que o senhor é a maior decepção política goiana. O senhor tenta desmontar essa decepção agora?

Sem dúvidas. É isso que eu tento fazer. É isso que eu quero mostrar. Primeiro: vamos analisar sobre o que eu fui acusado. Isso tem consistência? Porque o Supremo me deu ganho de causa? Porque o Ministério Público fez essa perícia? Não há provas, só interceptação. Não existe uma testemunha, um documento. O fato mais grave apontado contra mim foi o ex-procurador Gurgel dizer que eu tinha depositado na minha conta R$ 1 milhão, e isso foi provado que era mentira. Então, não existe nada e nunca existia nada. O que existia, e eu admiti, foi amizade.

O Ministério Público errou?

O Ministério Público foi muito severo comigo, mas não guardo mágoa porque também foi o mesmo Ministério Público que me absolveu de acusação de lavagem de dinheiro, de enriquecimento ilícito, fez essa perícia. Então, as coisas são evidentemente assim, às vezes contra, às vezes a favor.

Se sente injustiçado?

Francamente, tirando as opiniões desembasadas, mas respeitáveis, eu sofri um massacre. Eu pretendo ter debates e dizer: “Eu fiz isso, me julguem, me julguem nas urnas”. Se eu não merecer voltar, ok, eu respeito a decisão popular.

O seu caso pode trazer alterações nas decisões da Lava Jato?

Não. Tem que ver que cada situação é uma. Neste caso, evidentemente, os grampos foram feitos por um juiz de primeiro grau, pelo Ministério Público de primeiro grau, pela Polícia Federal de primeiro grau. Duas investigações, uma que ficou paralisada no gabinete do procurador-geral da República por um ano e meio e outra que eles tinham desde o primeiro instante, sabiam que eu tinha que remeter ao Supremo. Antigamente os processos nos Tribunais eram amarrados com barbante. Então, eu chamo isso, inclusive, de Teoria do Barbante. O sujeito tem que amarrar e remeter para o Supremo. As pessoas dizem: “O Supremo não faz nada”. Ora, o Supremo que está referendando o que está acontecendo hoje no Brasil. Então, ao contrário do que se diz, o Supremo, embora não tenha vocação penal, os ministros estão decidindo e penalizando duramente essas pessoas. Agora, faço até uma comparação: porque elas estão em imensa dificuldades, inclusive meus acusadores, e eu não? Inclusive na espera do concreto, porque o direito, você aprecia a preliminar e depois você aprecia o mérito. Então, o que tinha contra mim? Era a acusação de o Carlinhos Cachoeira ter depositado R$ 1 milhão em minha conta. Foi visto que era mentira, que não tinha consistência. Então, muita coisa foi produzida, inclusive, só para produzir notícia mesmo. Além disso, mais nada. Como outro dia, por exemplo, uma repórter disse que não se lembrava mais comigo. É isso que acontece, a pessoa sem saber do que eu fui acusado, nem se lembra mais e começa a inventar. Isso foi uma repórter da Globo, disse que fui acusado de o Cachoeira pagar despesas minhas.

O DEM foi correto com o senhor?

Não, foi absolutamente incorreto. Ao contrário do PSDB que levou Marconi até o fim, o DEM foi cachorro comigo.

Mágoa do senador Ronaldo Caiado?

Não tenho mágoa de mim. Mas o partido, na hora H, pulou fora. Eu até brinco, mas tem uma turma que não pula em galho seco, só quando está frondoso, quando não vai cair. Em relação a pessoas, não.

Ronaldo Caiado foi correto com o senhor?

O que eu tinha que dizer a respeito do senador Ronaldo Caiado e o que ele tinha a dizer ao meu respeito nós fizemos isso publicamente em uma troca de insultos, digamos. O que é próprio do jogo político. O senador disse que iria processar, eu disse que faria a exceção da verdade. Como ele não me processou, eu também não tenho como prosseguir. Eu entendi como ele querendo contemporizar. Eu não tenho razão nenhuma para tentar destruir qualquer político nesse tipo de jogo, não tenho razão nenhuma para prosseguir uma coisa que não tem mais motivação. Agora, eu que fui atacado. Eu estava tranquilo em minha casa e fui atacado e não sei porque.

São duas amizades com destinos diferentes: preservou Cachoeira e acabou Caiado?

Total. É verdade. É isso mesmo. Não com aquela intensidade, naturalmente, porque as coisas mudam muito. Amizade, frequência, mas eu respeito. Eu continuo tranquilo, mas isso para mim passou. É um assunto que não vale a pena a se lembrar.

Se provocado, o senhor voltaria aquele assunto?

Não vejo nenhuma possibilidade de isso acontecer, de eu ser provocado ou provocar.

Mais alguém no DEM que o senhor lembra que não foi correto?

Não, acho que o DEM de uma forma geral me abandonou. Muita gente inclusive diz que eu fui expulso do DEM. Isso nunca aconteceu. Eu sai do DEM dois anos depois, enderecei um expediente ao presidente do DEM de Goiás pedindo a minha desfiliação e pronto, fui desfiliado.

Não ter te expulsado não seria um gesto do DEM?

Não, iria me expulsar porquê? O DEM sabia que não tinha nada, o DEM só foi covarde.

A defesa poderia ter sido mais contundente?

Podia ser feita. Ela não foi feita. Aliás, muitos jornalistas depois me disseram que o meu sucesso incomodava o próprio DEM. Porque tinha muita gente lá, não vou dizer morto politicamente, mas que com a minha saída, ganhou novo fôlego.

O senhor era um candidato a presidente que foi para outra situação completamente diferente. Como o senhor se sentiu?

Eu passei por tudo. Eu cheguei a visitar alguns círculos do inferno do Dante. Eu realmente fui massacrado, digamos. E por isso eu tenho hoje uma compreensão de vida muito diferente da que eu tinha antigamente. Tenho os mesmos valores, meus filhos têm os mesmos valores, minha neta, minha família toda de uma forma geral. Mas eu deixei de ser aquele julgador implacável. Aprendi com o sofrimento que tem muita coisa além da nossa visão.

O senhor tem memórias escritas desse processo?

Eu tenho escrito e tenho um livro pronto. Eu fui convidado pela Resistência Cultural para fazer um livro, o editor José Louredo. E eu tenho esse livro praticamente pronto. Eu conto o que aconteceu comigo, o que eu descobri. A medida em que as pessoas, especialmente do processo, que eu imaginava que estavam do meu lado no Senado, o que elas passaram a fazer, a reação das pessoas, especialmente os mais próximos politicamente. Eu aprendi, principalmente, com os mais pobres, os mais humildes e os políticos menos graduados. Aprendi sobre lealdade, sobre tolerância, sobre perdão. Agora, com os maiores eu aprendi sobre traição. Então, acho que não está na hora de publicar, mas muita gente foi absolutamente leal durante esse processo, inclusive graúdos também, como o deputado Jovair, José Eliton, Chiquinho Oliveira. Eu fico até com medo de dizer nomes e esquecer, porque foi tanta gente. Dom Washington. Vários promotores, juízes, desembargadores. Outro dia eu li uma matéria no O Popular dizendo que o Ministério Público está constrangido com a minha volta. E no sábado eu estava tomando cerveja com um monte de promotores. Constrangido em cumprir a lei? É igual ao ‘povo’. “O povo não quer que você volte”. Será? Quem é o povo? Quem é que pode dizer isso em nome do povo? O povo um dia terá a oportunidade de julgar. Se eu chegar à conclusão de que o povo não quer, não vou constranger o povo, vou advogar, eu tenho uma profissão, vou sair do Ministério Público e vou lutar como sempre fiz a vida toda.

A lista dos traidores aumentou?

Não é isso. Existem grupos também no poder Judiciário, no Ministério Público, na OAB, isso é comum. Na imprensa também deve ter rivalidade. Não é possível haver unanimidade. Isso acontece naturalmente, mas acredito que vou chegar ao fim desse processo.

A interlocução com os políticos continua?

Não. Eu continuo sendo uma espécie de consultor político. Me chama de mãe Diná porque eu acerto as previsões, quem vai ganhar, como será o jogo. Como eu conheço muita gente, já sei o que vai acontecer, qual é o comportamento de cada um. O que eu disse é: em relação ao José Eliton, que sempre foi leal, amigo nesse período todo, desde o primeiro momento, ele não ficou constrangido. Ele gosta de andar de moto, então ele pegava a moto e parava lá na porta de casa. É uma pessoa assumida, no bom sentido, que tem lado, caráter. Com o governador Marconi foi uma relação mais protocolar. Quando eu quero falar com ele, eu falo, mas não temos mais aquela velha amizade. Com o deputado Jovair Arantes, sempre muito bom. Os partidos políticos pequenos, praticamente todos os presidentes me visitaram querendo que nós tivéssemos um relacionamento. Eu tenho esse relacionamento. Com Iris Rezende não aconteceu, nunca mais o vi, mas eu torço para que ele dê certo. Eu o considero um bom administrador, eu acho que ele vai dar a volta por cima nesse início meio tumultuado. Eu vejo o que ele está fazendo com a Comurg, é preciso ter coragem realmente para revitalizar a empresa senão vai ter que ser vendida. Eu torço para que ele dê certo, eu o considero um bom prefeito, apesar de todas as dificuldades iniciais.

Mas não é um ótimo prefeito

Ele teve outras gestões melhores, mas se a situação é tão ruim hoje, praticamente todo prefeito – você tira só alguns – está em uma dificuldade tão excessiva, que é capaz que no ano que vem os prefeitos estejam em uma situação ainda pior. Os municípios estão em dificuldade, o Brasil está em dificuldade. Essa crise com o presidente Temer é pior ainda. Agora que imaginávamos que iríamos respirar e crescer.

Quais suas previsões em relação ao presidente Temer?

Se não aparecerem fatos novos, gravíssimos, que tudo indica que pode aparecer, ele consegue respirar e ficar até o fim do mandato. Se aparecer mais alguma coisa além dessa denúncia, parece que tem uma delação do doleiro Lúcio Funaro, que é muito grave em relação a ele, isso pode agravar ainda mais o quadro. Hoje ele não tem apoio popular, só tem apoio político. Esse apoio político é decisivo, porque uma denúncia contra o presidente da República precisa ter dois terços para ser aceita, para o Supremo continuar a processá-lo. Senão, suspende e quando ele deixar o mandato, isso continua. Hoje a situação dele é de poder conseguir terminar seu mandato. Mas se esse Lúcio Funaro e Eduardo Cunha, que parece estar fazendo uma delação, como são do mesmo grupo pode-se pressupor que a situação dele. Se a situação piorar, vamos acabar tendo eleição indireta.

Quem tem chance nessa eleição indireta?

Rodrigo Maia. Hoje, nesse minuto seria Rodrigo Maia. Outros nomes: Jobin é um nome excepcional, mas talvez não tenha mais aquele consenso. Ele demorou um pouco. Tasso Jereissati é um nome excepcional, é uma figura extraordinária, mas talvez também por ser do Senado e a Câmara ser majoritária não tenha esse trânsito. Fernando Henrique, acredito que não queria e também a idade dele já não permite. A ministra Cármen Lúcia acho que não tem nenhuma possibilidade.

Ela teria que sair do Supremo para isso?

Tem um cenário em que ela poderia acabar presidente, que é o presidente do Senado já é réu, não pode ocupar a Presidência da República, e há um inquérito contra o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Se ele se transformar em réu, também não pode ocupar a Presidência da República, e ela entra para convocar também uma eleição em 30 dias. Mas seria presidente. Aí não precisaria sair da presidência do Supremo Tribunal Federal. Ela pode ser candidata, mas não tem chance política alguma de ser candidata, em minha opinião. Também tem outro cenário, se demorar demais essa coisa, será que Rodrigo Maia e Renan não poderiam optar por disputar uma eleição, ao invés de assumir a Presidência da República, e os incompatibilizaria? São muitos detalhes. Se você tem dez meses com um presidente, você prefere ser dez meses presidente ou disputar uma nova candidatura de deputado para quatro anos? Porque como presidente não pode ser candidato. Então, hoje o cenário é de manutenção do Temer. Se essas coisas se aprofundarem, porque com popularidade de 7% ninguém consegue sobreviver.

Na disputa direta, os nomes são Lula, Bolsonaro, Marina Silva e João Doria, além de Sérgio Moro. Qual a tendência?

Sérgio Moro não será candidato, ele não deixará a magistratura para ser candidato. Tem o Joaquim Barbosa também. O que eu penso é: três candidatos que têm chances reais de disputar isso. Lula, porque inegavelmente ele exerce um fascínio sobre a esquerda e sobre a população mais pobre do país. Acredito que ele deve ter entre 40% ou mais de intenções de voto para o segundo turno. Bolsonaro, só que no segundo turno não ganha a eleição do Lula porque há uma rejeição grande também, assim como uma grande aceitação. Não vejo chance nenhuma da Marina ir para o segundo turno e se fosse, perderia a eleição. Ela perde eleitores assim… Todo mundo tem vontade de votar na Marina, mas na hora H ninguém vota na Marina. Então, ela perde os eleitores. Agora, vejo que o Doria, apesar de estar ainda com pouco índice na pesquisa, tem mais chance, por exemplo, do que o Alckmin. Aécio, parece que neste momento, tem que tentar ser deputado federal, se for continuar na política.

Você está em uma pegada mais tucana

Não, eu gosto muito do Tasso Jereissati. Nunca mais tive contato com ele, mas ele é um homem extraordinário, republicano. Lamento, mas sinceramente acho que ele seria muito melhor presidente que o Rodrigo Maia. Conheço os dois. Agora, eu acho que Rodrigo faz esse jogo melhor com o baixo clero da Câmara. Vamos usar uma metáfora: chega um gaúcho como Nelson Jobim, pisando em cima de todo mundo. Essa é a imagem que os congressistas têm dele. Tem o Tasso, que muitos acham que é coronel. E tem o Rodrigo, que pode chegar para o pessoal e dizer “É cosa nostra”. Ou seja, na minha opinião, Jobim e Tasso são politicamente melhores que o Rodrigo, mas Rodrigo tem mais chance política em uma eventual eleição indireta de ser presidente do que os outros dois.

Como o senhor avalia a disputa do cenário estadual que tem Caiado, José Eliton, Daniel Vilela e outros?

Eu acredito que estamos polarizados nesses três nomes mesmo. Três ou quatro nomes, mas dois deles vão ter que optar por ser um só: Maguito e Daniel. Eu acho que Maguito não será candidato a governador. Daniel tinha muita chance de ser, e ainda tem, porque é um nome novo, mas parece que vai ser denunciado por caixa 2. Mas acredito que Ronaldo Caiado é um grande nome. Se fosse hoje a eleição, ele possivelmente seria eleito. Acredito que José Eliton é outro possível nome, já tem crescido. Eu vi uma pesquisa com Caiado com 29% e ele com 20%. Essa diferença já foi de 30 pontos e hoje está em torno de dez. É uma coisa muito boa. E Caiado depende do PMDB. Se o PMDB apoiar o Caiado, ele tem chances reais de se transformar em governador. Se o PMDB não lançar candidato, acho que os Vilela vão pular fora, porque é uma questão de sobrevivência de grupo político. Eles não vão a reboque do Caiado. Acho que eles poderiam compor com o governo. Compondo com o governo, poderia reforçar a candidatura do José Eliton. Ai acho que Maguito seria candidato a senador.

Só vai aumentar a briga dentro da base

Só. Mas acho que no frigir dos ovos quem vai disputar é quem tem voto. Eleição é humildade diante dos fatos.

O senhor acha que Vilmar Rocha, Lúcia Vânia vão concordar com Maguito no Senado?

Não vão concordar, mas eleição é o tal do real-politique. Marconi queria Henrique Meirelles como candidato a senador, não é verdade? Tentou sacrificar a Lúcia e ela não aceitou, depois tentou sacrificar a mim, que não aceitei. Então, a vontade, a amizade cede ao real, e o real é o seguinte: quem estará em julho em condições de ser candidato mesmo?

Não terá racha na base?

Digo que não racha. A oportunidade de se continuar no poder é agregando, ainda que de fora, alguém que até então foi antagônico, mas vamos lembrar que Maguito sempre foi muito dócil, muito sutil, ele faz uma política diferente. Digo até que se Maguito tivesse passado pelo que passei, ele não seria cassado. Ele tem amizade com todo mundo, não é polêmico, é uma boa figura inclusive de se conviver. Então, eu imagino que Caiado tem chances reais; o José Eliton tem muita chance pela força do governo, pela sua expressão pessoal, é um intelectual. Acho que temos que ter gente com sabedoria dentro da política; e o Daniel Vilela, se vier, complica o jogo. Acho que se os três forem candidatos, não temos como saber ou dizer quem vai para o segundo turno. Eles estão bem iguais.

Caiado sem base é um candidato competitivo?

Eu respondo da seguinte forma: o governo tradicionalmente no Brasil não fica fora do segundo turno. É muito difícil José Eliton estar fora do segundo turno.

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