12 de agosto de 2024
Brasil • atualizado em 13/02/2020 às 09:49

Participação de atletas deve crescer, mas peso de dirigentes será maior, diz novo presidente do COB

Novo presidente do COB, Paulo Wanderley. (Foto: Tomaz Silva/EBC)
Novo presidente do COB, Paulo Wanderley. (Foto: Tomaz Silva/EBC)

O presidente do COB (Comitê Olímpico do Brasil), Paulo Wanderley, 67, assumiu o poder na quarta-feira (11) com a missão de resgatar a credibilidade da entidade.

Ele substituiu às pressas Carlos Arthur Nuzman, 75, preso no dia 5 suspeito de ter feito a “ponte” entre o esquema de corrupção do governo Sérgio Cabral (PMDB) e os membros do COI (Comitê Olímpico Internacional) na escolha do Rio para receber os Jogos de 2016.

Em entrevista à Folha, o ex-presidente da CBJ (Confederação Brasileira de Judô), eleito vice de Nuzman em outubro de 2016, tentou se distanciar do ex-presidente e prometeu que vai abrir o colégio eleitoral aos atletas. Mesmo assim, acredita que os esportistas terão peso menor que os cartolas.

Ao contrário de seu antecessor, o potiguar disse querer ser remunerado no cargo. “Já existe uma lei específica para remunerar o dirigente. Isso é legal”, diz. Presidentes de confederações ganham cerca de R$ 20 mil mensais.

Com o comitê de cofres vazios (tem apenas o dinheiro da Lei Piva de receita), Wanderley negou contratar “personalidades”, prometeu “mais eficiência” e não quis fixar meta de medalhas para os Jogos de Tóquio-2020.

Pergunta – O senhor assumiu o COB na maior crise da sua história. Como resgatar a credibilidade do comitê?

Paulo Wanderley – O projeto imediato é essa comissão criada para reformar o estatuto. Já tem quatro pessoas [três presidentes de confederações –Marco Ribeiro (Vela), Ricardo Machado (esgrima), José Fernandes (atletismo)– e Tiago Camilo representando os atletas]. Mas outros também serão envolvidos no processo para dar opinião.

Os atletas cobram agora um protagonismo. Alguns são favoráveis à eleição direta. Terão mais espaço?

– Sim. Sempre pensei [em incluir] não só os atletas [no colégio eleitoral], mas outros setores também. Apliquei isso no judô. Tem que aumentar. Mas temos que ver como. Serão somente os olímpicos [que terão direito a voto]? Os mundialistas ou os atletas que não disputaram um grande evento também vão? Além disso, temos que ver quantos. Teve a sugestão do Camilo. Ele fez uma proposta bem atual: que a comissão de atletas de cada confederação faça uma eleição na sua modalidade para escolher representantes no pleito do COB. Mas os mecanismos e os procedimentos vão ser discutidos.

O senhor é favorável a um peso para diferenciar o voto?

– Sou. Tem que ter peso diferenciado. Qual será a proporcionalidade? Não sei. Mas isso não quer dizer que o colegiado fará a minha vontade. Tem que discutir usando o bom senso.

Mas o peso não é um instrumento para manter o poder das confederações?

– Acho que não deve ser visto dessa forma. Isso é em função das responsabilidades. O presidente é o responsável. Se der errado, vai vir para o cabeça. Por isso, acho que tem que ser proporcional. Mas isso vai depender da comunidade. Não vou impor nada.

O senhor pretende contratar algum nome de peso?

– Menos personalidades, mais eficiência e eficácia. O nome é muito importante, mas as qualidades que o momento exige se sobrepõem. A equipe [do COB] é muito boa, mas o tempo vai responder.

O senhor assumiu o cargo do Nuzman. Neste período, o senhor o visitou na cadeia?

– Não tive contato com ele. Acho que a lei não permite. Não trocamos nenhuma palavra e nem recados.

Ele foi chamado para depor um mês antes de ser preso. Neste período, ele deu algum conselho para o senhor?

– Não tocamos nesse assunto. Não passava pela cabeça de ninguém que isso aconteceria. Foi um choque.

Nuzman foi preso suspeito de fazer a “ponte” para o pagamento da compra de votos da escolha do Rio para 2016. O senhor suspeitava disso?

– Não. O meu acesso a essas informações nunca foi o suficiente para analisar nem positivamente e nem negativamente.

Os atletas falam muito em mudar o destino das verbas da Lei Piva [que financia o esporte olímpico com dinheiro das loterias]. Querem tirar o COB da administração desse dinheiro. O senhor abre mão disso?

– O que falta é uma comunicação. As pessoas que trabalham aqui precisam mostrar que fazem muita coisa boa. Não tinha conhecimento que se produzia tanta coisa boa aqui. Vou apresentar em breve um raio-x do comitê.

O Nuzman era acusado de não dar transparência. Ele declarava que não tinha salário nestes 22 anos no poder. O senhor vai abrir mão do salário também?

– Já existe uma lei específica para remunerar. Isso é legal e não vejo nenhum problema para isso. O dirigente pode receber salário tanto da verba da Lei Piva como do patrocinador.

O senhor é favorável a receber salário para o seu cargo?

– Com certeza. Eu recebi no judô. E o salário era pago pelo patrocinador.

O senhor vai estabelecer metas para os Jogos de Tóquio?

– O desafio é proporcional à vontade de ter um resultado melhor. Ainda não consigo colocar uma meta. Mas vou fazer o mesmo que fazia na confederação. Vou continuar cobrando. Teremos um desafio grande. O dinheiro será curto [por causa da crise].

O Nuzman ficou 22 anos no poder. Quanto tempo pretende ficar no COB?

– Estou aqui para cumprir o atual mandato. Depois, não tenho previsão para nada. 

(Folhapress)

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