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O movimento de caminhoneiros que paralisou o país em maio fez a indústria brasileira recuar a patamares de 2003.
Segundo divulgou o IBGE nesta quarta-feira (4), a produção industrial teve queda de 10,9% no mês em relação a abril, quando havia subido 0,8%.
O resultado é o pior desde dezembro de 2008, durante a crise internacional, quando o arrefecimento da atividade econômica mundial fez a produção recuar 11,2%.
A produção esteve em maio em patamar equivalente aos de quase 15 anos atrás e 23,8% abaixo do pico de produção no país, em maio de 2011.
Ainda assim, o resultado mensal veio acima da previsão de analistas consultados pela agência Bloomberg, de queda de 13,2% no indicador.
Na passagem de abril para maio, 24 dos 25 ramos industriais pesquisados pelo IBGE tiveram quedas. Alimentos e veículos foram os mais afetados pelos protestos. Veículos automotores, carrocerias e reboques recuaram 29,8%. A produção de alimentos perdeu 17,1% no período.
Considerando as quatro grandes categorias econômicas, houve quedas recordes em bens de consumo duráveis (-27,4%) e de semiduráveis e não duráveis (-12,2%). São os recuos mais intensos desde o início da série histórica, iniciada em 2012.
Os bens de capital, que são as máquinas voltadas para a produção industrial, tiveram queda de 18,3% no período. Os bens intermediários, matérias-primas como aço, celulose, produtos químicos e alguns alimentos, caíram 5,2%.
Segundo o gerente da PIM (Pesquisa Industrial Mensal) do IBGE, André Macedo, a paralisação de caminhoneiros afetou a indústria de várias formas. Algumas não conseguiram receber insumos, enquanto outras tiveram dificuldade de escoar sua produção. Setores como o automobilístico, por exemplo, enfrentaram problemas para manter o ritmo das fábricas devido aos dias em que ficaram parados, porque os trabalhadores não conseguiam chegar às montadoras.
“A greve desarticulou o processo de produção em si, seja pelo abastecimento de matéria-prima, seja pela questão da logística na distribuição. A entrada do mês de maio caracterizou uma redução importante no ritmo de produção”, disse Macedo.
Segundo o técnico do IBGE, o resultado negativo terá reflexo na produção geral deste ano. Uma medida que mostra que o impacto se estenderá é resultado acumulado no indicador. De janeiro a abril, a alta acumulada na produção havia sido de 4,5%. Com a inclusão de maio na conta, desacelerou e foi para 2%.
“Esse resultado negativo trará reflexo não só para o mês seguinte, como para o semestre e o ano”, disse Macedo.
As duas únicas atividades com crescimento em maio foram os ramos de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (6,3%) e de indústrias extrativas (2,3%). De acordo com Macedo, esses segmentos são menos dependentes de rodovias.
“Além disso, o biocombustível foi favorecido pela safra da cana-de-açúcar, que é destinada principalmente ao etanol. Já o setor extrativo foi impulsionado pela produção de minério de ferro”, afirmou.
OUTRAS BASES
Na comparação de maio deste ano com igual período do ano passado, a produção caiu 6,6%, no recuo mais elevado desde outubro de 2013, quando houve queda de 7,3%, e interrompeu 12 meses consecutivos de altas.
A previsão da Bloomberg para essa base de comparação era de queda de 9,6%.
No acumulado em 12 meses encerrados em maio, a produção registra alta de 3%, crescimento, contudo, menor do que o verificado no acumulado de 12 meses encerrados em abril, quando a alta havia sido de 3,9%. A redução na intensidade de crescimento interrompeu a trajetória ascendente iniciada em junho de 2016.
A mobilização de caminhoneiros começou a partir de 21 de maio e durou 11 dias. O impacto da paralisação foi sentido nacionalmente. Sem caminhões para entregar a produção agrícola nos centros urbanos, o país registrou desabastecimento de combustíveis e alimentos. Alguns produtos chegaram a triplicar de preços no período.
Também ocorreram perdas na indústria de proteína animal. Criadores de frangos na Bahia, por exemplo, perderam frangos ainda sem idade para abate devido à falta de ração para as aves. Produtores de leite, por exemplo, não conseguiram escoar a produção pelas estradas do país e tiveram que descartar parte do fabricado naquele mês.
Segundo a CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária), 289 milhões litros de leite tiveram que ser descartados em meio à crise. O setor teria deixado de exportar 120 mil toneladas de aves e suínos no período.
A paralisação teve impacto ainda na indústria têxtil, de celulose e automobilística. A Suzano, empresa brasileira de papel e celulose, por exemplo, divulgou perdas de 80 mil toneladas na produção de celulose. Em papel, as perdas teriam atingido 25 mil toneladas.
(FOLHA PRESS)
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