A partir da última quinta-feira (21), os atendimentos em anestesiologia na Maternidade Nascer Cidadão, em Goiânia, foram suspensos, interrompendo a realização de partos normais, cesarianas e outros procedimentos, como curetagens. A decisão foi tomada pela Cooperativa dos Médicos Anestesiologistas do Estado de Goiás (Coopanest-GO), que afirma não receber da Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas da UFG (Fundahc) os valores devidos desde setembro de 2024, acumulando uma dívida de R$ 1,4 milhão.
Segundo a cooperativa, mesmo diante da falta de pagamento, os profissionais mantiveram os serviços por quase um ano “em respeito à população”. A suspensão, que estava prevista inicialmente para 15 de agosto, foi adiada diante da expectativa de negociação. Como não houve proposta de quitação ou cronograma definido, a paralisação foi confirmada.
Impacto direto nos atendimentos
Com a saída dos anestesiologistas, os partos que demandam intervenção anestésica, incluindo cesáreas, não podem mais ser realizados na unidade. A Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia (SMS) informou que enviou equipes à maternidade para reorganizar os fluxos de atendimento e minimizar os impactos à população.
A pasta garantiu que seguem sendo feitos atendimentos de urgência e emergência, consultas ambulatoriais e assistência a pacientes internados. Já as gestantes em situações não emergenciais estão sendo redirecionadas para outras unidades, como o Hospital e Maternidade Dona Iris (HMDI), o Hospital das Clínicas da UFG (HC-UFG) e o Hospital Estadual da Mulher Dr. Jurandir do Nascimento (Hemu).
Essa não é a primeira interrupção. No dia 2 de julho, a Coopanest-GO já havia paralisado atendimentos no Hospital e Maternidade Municipal Célia Câmara, também em Goiânia, alegando ausência de contrato e dívidas acumuladas. Desde então, procedimentos que dependem de anestesia não estão sendo realizados na unidade, com atendimento restrito a casos de urgência e emergência.
Crise na gestão das maternidades
A paralisação dos anestesiologistas reforça a crise envolvendo a Fundahc, responsável pela gestão das três maternidades municipais de Goiânia: Nascer Cidadão, Célia Câmara e Dona Iris. O prefeito Sandro Mabel (União Brasil) já havia determinado a substituição da fundação por organizações sociais de saúde (OSSs), alegando descumprimento de metas, falhas administrativas e uso indevido de recursos.
A Prefeitura notificou a fundação no fim de julho sobre a rescisão do contrato. A transição já está em andamento e, conforme anunciado, a Fundahc deixa a gestão no dia 29 de agosto. A partir de então, três OSSs assumem as unidades:
- Instituto Patris: R$ 5,5 milhões mensais para administrar o HMDI;
- Sociedade Beneficente São José: R$ 5,1 milhões mensais para gerir o HMMCC;
- Associação Hospital Beneficente do Brasil (AHBB): R$ 1,9 milhão para a MNC.
Defesa da Fundahc
Em nota, a Fundahc afirmou que a restrição dos serviços na Maternidade Nascer Cidadão é temporária e que a expectativa é de retomar os atendimentos ainda nesta sexta-feira (22). A fundação também responsabilizou a Prefeitura de Goiânia pela crise, destacando que não houve resposta às tratativas apresentadas em conjunto com a UFG sobre a dívida da administração municipal, estimada em R$ 158,5 milhões.
“Mesmo diante da urgência, não há planejamento claro para o novo modelo de gestão, em um cenário de atrasos financeiros e condições de trabalho comprometidas, o que gera insegurança entre os profissionais e impacta a estabilidade dos serviços”, afirmou em nota.
A fundação reforçou ainda que busca minimizar os prejuízos à população e garantir respeito aos colaboradores até o fim da transição.
Situação das gestantes
Enquanto o impasse não é resolvido, gestantes atendidas pela Maternidade Nascer Cidadão enfrentam incertezas e deslocamentos para outras unidades de saúde. O risco é de sobrecarga em hospitais que já operam com grande demanda, como o HMDI e o HC-UFG.
Para a SMS, a suspensão reforça a necessidade da troca do modelo de gestão. Já a Fundahc insiste que os problemas decorrem da inadimplência do município e que a rescisão unilateral dos convênios é arbitrária.
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