07 de agosto de 2024
Política

Para PF, governador atendia interesses de Cachoeira no governo

O vazamento na sexta-feira, 27, do inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) contra o senador Demóstenes Torres (sem partido), evidencia como funcionava a relação entre o chefe da máfia dos caça-níqueis Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e de seu grupo com o Poder em Goiás.

Ao final do relatório produzido pela Procuradoria Geral da República (PGR), a conclusão é que não há participação dos principais agentes do Estado no favorecimento aos jogos de azar, alvo inicial da Operação Monte Carlo. Porém, há indícios suficientes para investigar o governador Marconi Perillo (PSDB) e alguns de seus principais auxiliares em práticas consideradas ilegais ou, no mínimo, inadequadas.

O capítulo 7 do inquérito contra Demóstenes mostra a relação do grupo de Carlinhos Cachoeira com o governador Marconi Perillo e auxiliares próximos a ele. Cachoeira mantinha uma relação conturbada com integrantes do governo do Estado. Em algumas gravações mostra-se contrariado com o rumo de seus negócios e ameaça ‘abandonar’ o governador Marconi. Cachoeira afirma que pedirá ao então presidente do Detran, Edivaldo Cardoso, que entregue o cargo. As escutas sinalizam que Edivaldo era uma indicação pessoal do contraventor no governo de Goiás. O ex-procurador geral do Estado, Ronald Bicca, também atendia aos interesses de Cachoeira no governo. Bicca e Edivaldo pediram demissão com o desenrolar da Operação Monte Carlo.

A insatisfação de Cachoeira com Marconi teve como ápice um discurso do governador em um evento da Saneago. O tucano teria criticado a Delta Construções, uma das empresas que representava os interesses de Cachoeira na administração pública. Indignado, Cachoeira troca telefonemas com Demóstenes e com Cláudio Abreu, então diretor da Delta no Centro-Oeste. Em um trecho das escutas grampeadas, o senador comenta: “É canalhice demais, né professor! Ele (Marconi) é inconfiável. Tudo tem que ter um pé atrás”. Em outro momento, Cachoeira desabafa: “Esse não tem jeito. A gente tem que explodir esse vigarista.”

A insatisfação de Carlinhos Cachoeira com o governador Marconi Perillo teve fim com um jantar na casa do presidente do Detran, Edivaldo Cardoso. O senador Demóstenes Torres também participou do que definiram posteriormente como “cachaçada boa”. No dia seguinte, Cachoeira conversou com Edivaldo e Demóstenes trocando impressões sobre a conversa que tinha selado a paz com o governador na noite anterior. Edivaldo contou que Marconi havia ligado logo cedo para perguntar se Cachoeira tinha gostado da conversa. Depois, o contraventor e Demóstenes comentam que a noite tinha sido muito positiva. Cachoeira comemora o fato de Marconi imputar a ele a reaproximação com o senador.

Processo

A conclusão do inquérito, capítulo 7, contra Demóstenes Torres ressalta que não há indícios de ligação dos principais agentes públicos do Estado de Goiás, entre eles, o governador Marconi Perillo, com a máfia dos caça-níqueis. “Não há elementos mínimos que demonstre que alguma das autoridades (que possuem foro privilegiado) faça parte da Organização Criminosa”.

“Ou seja, nenhuma das pessoas teria: A) explorado produtos contrabandeados; B) oferecido ou pago propina a agentes de segurança pública; C) participado da lavagem de dinheiro produto dos crimes investigados”. No entanto, o inquérito afirma ter “elementos suficientes” para o início de outras investigações após a autorização da Justiça. No caso, podem ser investigados crimes como tráfego de influência, improbidade administrativa e corrupção passiva, entre outros.

Inquérito

O inquérito contra Demóstenes Torres, entregue a CPMI instalada no Congresso foi divulgado sexta-feira com exclusividade pelo portal Brasil 247, em reportagem do jornalista Vassil Oliveira, editor do Goiás 247. O conteúdo está disponível na página do Brasil 247 e do Goiás 247.


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