Segurança deve ser a palavra-chave das eleições municipais de 2020. A afirmação é do professor Luiz Carlos do Carmo Fernandes, especialista em análises eleitorais, que acredita que a população deve abandonar a aposta nos outsiders, vista em 2016 e 2018, e se fixar em candidatos mais conhecidos.
Segundo ele, o cenário nos dois pleitos anteriores, com graves crises, econômica e política, contribui para a eleição de nomes novos que se colocavam como antissistema, como o próprio presidente Jair Bolsonaro. Porém, a desilusão com a gestão bolsonarista e outros outsiders deve mudar o curso. “Esse modelo se esgotou. A sociedade percebeu que o discurso neoliberal, de que o governo é corrupto, não existe”, ponderou Fernandes.
De acordo com a analista, a epidemia de covid-19 também fará com que a população busque segurança no voto. “Na hora da crise, quem ameniza é o Estado. As pessoas perceberam a importância de um governo. Um bom gestor, equilibrado, é importante”, frisou. “As pessoas querem segurança em relação à covid, ao futuro pós-pandemia. Quando você busca segurança, um outsider não é um bom nome”, completa.
Fernandes dá o exemplo de Goiânia, onde Maguito Vilela, nome tradicional do MDB e ex-governador, aparece forte nas pesquisas. “Políticos tradicionais estão voltando. Essa eleição tende mais à reeleição do que renovação”, opina.
Outro fator que deve fazer os eleitores manterem um voto de segurança é a legislação eleitoral, cada vez mais rígida e restrita, conforme o analista. “A campanha transformou-se em algo muito restrito. Candidatos pouco conhecidos têm menos chance. Tudo isso somado, você vê que as pessoas se voltam para quem tem mais capital político”, argumenta.
Antipetismo e bolsonarismo
As eleições também devem ser influenciadas por duas correntes ideológicas: o antipetismo e o antibolsonarismo. De acordo com Fernandes, a rejeição ao PT ainda é muito forte, embora tenha se reduzido em algumas cidades. Ele avalia que candidatos como Adriana Accorsi, em Goiânia, e Antônio Gomide, em Anápolis, terão dificuldades para se estabelecer.
Ele cita que o eleitorado anapolino, por exemplo, tem forte influência de evangélicos neopetencostais, que é um público antipetista. “O antipetismo ainda é muito forte. É um sentimento muito disseminado”, avalia.
A rejeição a Jair Bolsonaro, pontua, também cresceu e candidatos com apoio explícito do presidente podem acabar sofrendo nas urnas no próximo domingo (15). “Bolsonaro não agrega mais. Está queimado. Devemos observar isso. Essa onda de retorno à razão e à ética, o que vimos nos Estados Unidos, pode impactar aqui e, inclusive, em 2022”, diz.
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