Segundo o delator Alexandrino Alencar, ex-diretor de relações institucionais da Odebrecht, o grupo baiano deu, em 2006, US$ 650 mil em caixa dois para o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci. Naquele ano Palocci foi eleito deputado federal.
“Em 2006 eu soube que houve uma doação bem expressiva pro Antonio Palocci pra deputado federal. Ele como ministro da Fazenda teve que sair em 2004 ou 2005, aí em 2006 ele se candidata e se elege deputado federal”, disse. “Aí eu acho que teve uma doação expressiva pra ele. Pelos dados que se tem, é alguma coisa em torno de 650 mil reais”, disse o delator. Mas ele se vira para advogada que o acompanhava e pergunta se estava certo: “é isso?”. Então ele corrige. “Dólares, dólares.”
Alencar disse não ter sido o responsável pelo repasse, mas pela quantidade de recursos garantiu que não foi uma doação registrada. “Esse volume foi caixa dois”, disse.
Alencar não soube dizer como foi repassado o dinheiro, se dentro ou fora do Brasil. Ele admitiu, porém, que o valor, por ser alto, era totalmente fora do que a empresa geralmente doava a candidatos a deputados federais. “Totalmente fora (do padrão).”
O procurador perguntou o que justificaria uma doação tão alta. “Ao relacionamento, à importância, principalmente relacionamento e importância do candidato (para os interesses da Odebrecht)”, respondeu o delator.
Alencar disse que apesar de o ex-ministro nunca ter pedido a ele nenhum recurso, o fato de a Odebrecht ter feito a doação o ajudou. “Mas eu sabia que ele tinha recebido e com isso eu tinha facilidade de diálogo com ele.”
O ex-executivo contou que se aproximou de Lula e do PT em 2001, antes da eleição, para convencer os petistas da importância de o setor petroquímico ser privatizado.
Relatou que houve encontros entre a cúpula da Odebrecht com Lula e Palocci entre 2001 e 2002. Disse que com a proximidade da eleição a conversa sobre doação de campanha foi aberta. “Íamos apostar na campanha entendendo que ele (de Lula) teria um comportamento mais aberto à petroquímica”, disse. A Odebrecht apostava no crescimento da Braskem, seu braço para o setor.
Perguntado se a condição para o apoio ficou clara para Lula e Palocci, Alencar disse que sim. “Foi claro. Nós vamos apoia-lo, mas entenda que a petroquímica para nós é fundamental e existem barreiras por parte principalmente da Petrobras que nós temos que tentar convencê-los a superá-las.”
O procurador quis saber depois se Lula e Palocci aceitaram a condição. A reposta novamente foi positiva. “Eles entenderam. Não vou me lembrar de detalhes. Estamos falando de 15, 16 anos atrás. Mas eles entenderam e se sensibilizaram.”
Antonio Palocci está preso em Curitiba por determinação do juiz Sergio Moro, responsável pela Operação Lava Jato. A reportagem tentou contato com sua defesa, mas não teve retorno. (Folhapress)
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