23 de dezembro de 2024
Notícias do Estado • atualizado em 21/08/2020 às 15:53

Padre Robson é apontado como líder de grupo que movimentou R$ 120 milhões de forma suspeita

Investigação contra o padre segue trancada. (Foto: Santuário do Divino Pai Eterno)
Investigação contra o padre segue trancada. (Foto: Santuário do Divino Pai Eterno)

O Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) aponta que um grupo liderado pelo padre Robson de Oliveira Pereira, presidente da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), teria movimentado cerca de R$ 120 milhões de forma suspeita.

A movimentação ligada a transações imobiliárias é citada no pedido do MP-GO à juíza Placidina Pires, da Vara de Feitos Relativos a Organizações Criminosas e Lavagem de Capitais.

Conforme a investigação, valores arrecadados de fiéis, majoritariamente para a construção da nova Basília Santuário do Divino Pai Eterno, foram utilizados em benefício próprio e de terceiros. O MP-GO afirma que o imóveis vinculados às associações também eram usados pelo padre e terceiros.

Para o MP-GO, o padre “criou várias associações com a mesma finalidade, endereço e nome, e com inovações e alterações estatutárias que gradativamente lhe deram poder absoluto sobre todo o patrimônio das Afipes”.

Afipe se converteu em empresa, diz promotor

Conforme o promotor Sebastião Marcos Martins, quando o MP-GO recebeu a investigação sobre a extorsão, “se deparou com uma grande teia de movimentação financeira, de valores altíssimos, com propriedades de valor elevado, que mereceriam análise mais aprofundada”.

O MP-GO afirmou que a Afipe se tornou “uma grande empresa”. “Ela tem argumento religioso, mas se converteu numa grande empresa, que explora agropecuária, venda de imóveis”, disse o promotor. “As contas bancárias foram usadas para comprar fazendas, residências em condomínios fechados em Goiânia, em São Paulo”, completou.

Ele citou ainda que “muitas pessoas que orbitam em volta das Afipes começaram a apresentar uma valorização patrimonial muito grande”.

Martins ponderou que ainda é cedo para imputar a prática de qualquer crime ao Padre Robson e aos outros investigados. “Precisamos analisar a documentação. Apreendemos muitos documentos, pen drives e HDs”, informou. “Tentaremos analisar a origem desse dinheiro. Existem alguns repasses que identificamos, que não estão devidamente esclarecidos. Alguns valores, algumas citações de empréstimos que precisamos entender”, explicou.

O promotor frisou que a investigação prossegue. Os próximos passos serão ouvir testemunhas, confrontar dados de contratos, analisar informações de imposto de renda e dos documentos obtidos na busca e apreensão desta sexta.

Quebra de sigilo

A juíza autorizou quebra dos sigilos bancários, fiscais e telefônicos, além da interceptação telefônica de investigados. Os bens imóveis ligados às Afipes também foram bloqueados.

Na peça, a magistrada afirma que há estimativa inicial de prejuízo de R$ 60 milhões. “É imprescindível levar em consideração que os crimes apurados são eminentemente de proveito econômico e pessoa jurídica que propaga a vivência na fé a ao Divino Pai Eterno”, diz a decisão.

Chantagem

A operação, segundo o MP-GO, foi desencadeada após acesso aos autos da investigação sobre pessoas que ameaçavam divulgar informações sobre a vida pessoal do padre Robson. Na época, o religioso chegou a movimentar R$ 3,5 milhões.

Conforme o documento que autorizou os mandados nesta sexta, o padre negociou e determinou que Rouane Carolina Azevedo Martins, funcionária da Afipe e considerada “braço direito” do religioso, pagasse R$ 2,9 milhões, com dinheiro das associações, ao grupo que o extorquiu.

Operação

Foi deflagrada na manhã desta sexta-feira (21) uma operação que apura suspeitas irregularidades na gestão financeira da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe). São cumpridos 16 mandados de busca apreensão na sede da entidade, empresas e residências em Goiânia e Trindade. “A investigação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) originou-se do encaminhamento, pelo Poder Judiciário, de cópia de inquérito policial, em que o presidente Afipe, após ser vítima de extorsão, utilizou indevidamente recursos provenientes de contas das associações que preside”, informou a assessoria de imprensa do Ministério Público de Goiás.

A operação do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de Goiás (MP-GO), é intitulada de “Vendilhões” investiga também a Associação Pai Eterno e Perpétuo Socorro. Os mandados foram expedidos pela juíza Placidina Pires, da Vara de Feitos Relativos a Organizações Criminosas e Lavagem de Capitais.

De acordo cm o MP-GO, são apurados supostos crimes de organização criminosa, apropriação indébita, lavagem de dinheiro, falsificação de documentos e sonegação fiscal. A investigação surgiu quando o órgão recebeu inquérito policial no qual o presidente da Afipe, Padre Robson, após ser vítima de extorsão, teria utilizado indevidamente recursos provenientes de contas das associações que preside.

Participam da operação 20 promotores de Justiça, 52 servidores do MP-GO, 4 delegados, 8 agentes da Polícia Civil e 61 policiais militares

A Afipe foi criada em 2004 pelo pároco Robson de Oliveira Pereira, o padre Robson, atual reitor da Basílica de Trindade. A entidade também administra o santuário e possui um canal de TV e transmite celebrações em rádio.

A Romaria do Divino Pai Eterno, uma das principais festas religiosas do país, também é organizada pela Afipe.

Posicionamentos

A Arquidiocese de Goiânia, responsável pela circunscrição religiosa de Trindade, afirmou que “está atenta ao trabalho do Ministério Público, espera que tudo seja apurado o mais breve possível e se coloca à disposição para colaborar com a Justiça”.

Advogados da Afipe disseram que a entidade não foi “pega de surpresa” com a operação. O corpo jurídico afirmou ainda que, desde 2019, “se colocou à disposição do Ministério Público”. Eles disseram que o padre Robson acompanhou as ações do Gaeco e a operação segue em “extremo sigilo”.


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