22 de dezembro de 2024
Brasil • atualizado em 13/02/2020 às 10:04

Pacientes e funcionários se empilham em clínica do Rio em meio a tiroteio

Uma clínica da rede pública lotada por mulheres grávidas, mães com crianças de colo e idosos ficou no centro de um tiroteio entre traficantes e policiais no final da manhã desta quarta-feira (6), no Rio de Janeiro.

Os disparos foram registrados como forma de retaliação à megaoperação da polícia nas comunidades da zona norte da capital fluminense, que culminou com a prisão de Rogério 157, o traficante mais procurado do Estado, nesta quarta.

Sem ter para onde ir, usuários e profissionais da saúde ficaram empilhados no chão da clínica de família Anthidio Dias da Silveira, na avenida Dom Hélder Câmara, no Jacarezinho (zona norte).

A troca de tiros se intensificou por volta do meio-dia. A unidade hospitalar precisou fechar as portas e suspender os atendimentos do local.

Funcionários afirmaram à reportagem da Folha que a clínica tem interrompido constantemente os trabalhos por conta dos disparos de arma de fogo registrados cada vez mais próximos da unidade.

Os pacientes e trabalhadores permaneceram deitados no chão para não serem atingidos pelos tiros por cerca de uma hora. Quando o tiroteio arrefeceu, os ocupantes conseguiram deixar o local em segurança. A clínica só voltará a funcionar nesta quinta-feira (7).

Também por causa da operação, a Clínica da Família Medalhista Olímpico Maurício Silva, na zona norte, precisou ser fechada.

Já a Clínica da Família Dona Zica, na favela da Mangueira, está recebendo pacientes, mas a equipe só faz atendimento dentro da unidade, cancelando visitas às casas de pacientes acamados ou com dificuldade de locomoção.

Unidades escolares na Serrinha, Mangueira, Mandela, Manguinhos, Tuiuti e Benfica estão sem atendimento. No total, são sete escolas, 11 creches, dois espaços de desenvolvimento infantil e 5.998 alunos sem aulas.

Prisão

Rogério Avelino dos Santos, o Rogério 157, foi detido na comunidade do Arará, na zona norte do Rio.

O traficante estava foragido e era o criminoso mais procurado do Estado. A Secretaria Estadual da Segurança Pública do governo Luiz Fernando Pezão (PMDB) chegou a oferecer R$ 50 mil de recompensa para informações sobre o paradeiro dele. Segundo a polícia, o traficante não ofereceu resistência à prisão.

Em coletiva de imprensa após a prisão, o secretário de Segurança, Roberto Sá, classificou a prisão como “emblemática”: “Embora não goste de enaltecer nem glamurizar criminoso, é um criminoso que há mais de dez anos vem causando problemas para o Rio.”

Disse, no entanto, que a prisão de Rogério não necessariamente significa que a cidade ficará mais segura. “A história do Rio, infelizmente, mostra que essas pessoas são sucedidas, outros surgem. Por isso suplico por maior compreensão: há fatores [em] que não interferimos, como o acesso às armas que esses criminosos têm.”

Afirmou também que vai pedir a transferência de Rogério para um presídio federal, o que, segundo ele, poderia dificultar sua articulação com outros criminosos.

Desde setembro, a Rocinha tem sido palco de tiroteios e assassinatos pela disputa territorial pelo comando da venda de drogas entre os traficantes Antônio Bonfim Lopes, o Nem, e Rogério 157. Diversas favelas do Rio são atualmente palcos de disputas entre facções. A ruptura de Nem e Rogério agravou mais ainda essa situação.

Nem, até então líder da facção ADA (Amigos dos Amigos), foi preso em 2011. Segundo as investigações da polícia, o comando do tráfico na região então passou para as mãos de Rogério 157, ex-segurança pessoal de Nem e um dos participantes da invasão, por traficantes locais, do Hotel Intercontinental, em São Conrado, em 2012, motivada pela interceptação pela polícia de um bonde de traficantes que voltavam de uma festa no Morro do Vidigal.

Do presídio federal de segurança máxima em Rondônia, Nem vinha demonstrando insatisfação com o comando de 157, que passou a cobrar dos moradores por serviços como fornecimento de água e mototáxi, e já tinha emitido ordens para destituí-lo.

Até que, em agosto deste ano, Nem deu ordem para que Rogério deixasse o morro, o que ele ignorou. Três aliados de Nem foram encontrados mortos depois disso. Segundo a polícia, as mortes foram executadas a mando de Rogério 157.

No mês seguinte, traficantes da ADA da Rocinha e de outros morros se uniram para invadir a favela e expulsar Rogério 157. Bandidos do Comando Vermelho ofereceram abrigo ao grupo de Rogério em outras comunidades. O traficante teria se tornado membro do Comando Vermelho. Segundo moradores, essa facção atualmente controla a maior parte das bocas de fumo da Rocinha.

Depois de seis dias de confrontos, 950 homens das Forças Armadas cercaram os acessos à Rocinha para tentar prender os envolvidos na disputa.

Rogério 157 foi preso numa casa onde estava escondido, na favela do Arará, na zona norte. Segundo a polícia, ele estava desarmado e demonstrou surpresa ao ser reconhecido. De acordo com os agentes, ele vinha tomando medidas para alterar sua aparência, como apagar tatuagens. Ele não resistiu à prisão, mas, segundo o delegado Gabriel Ferrando, tentou subornar os agentes, dizendo “vocês podem fazer suas vidas aqui”.

Ainda não está claro qual será o impacto dessa prisão na disputa na Rocinha e em outras favelas da cidade. Hoje, segundo a polícia, as bocas de fumo da favela são controladas pelo Comando Vermelho, facção à qual Rogério se associou.

A Polícia Militar, que atua hoje com 550 agentes na favela, 67 viaturas e duas aeronaves, cogita rever sua presença no local. Além de Rogério, outros seis suspeitos foram presos na operação e dois menores de idade foram apreendidos. Também foram apreendidas armas e drogas. (Folhapress)

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