25 de novembro de 2024
Cidades

Os entraves entre Governo de Goiás e Enel ao longo do ano; relembre os pontos altos

Empresa foi a segunda com pior avaliação no Brasil. (Foto: Reprodução)
Empresa foi a segunda com pior avaliação no Brasil. (Foto: Reprodução)

O Diário de Goiás acompanhou de perto toda a crise envolvendo a Enel, companhia italiana responsável pelo fornecimento de energia elétrica no Estado. Protestos de empresários, agropecuaristas e também de cidadãos alegando cansaço com a má qualidade do serviço prestado pela empresa, o governador Ronaldo Caiado (DEM) dando um ultimato e literalmente perdendo a paciência com a companhia, ameaça de retomar a concessão, acordos firmados para tentar resolver e melhorar o serviço. Teve de tudo ao longo deste 2019. O DG trás os principais destaques dessa guerra com recortes dramáticos nesta retrospectiva. Afinal das contas, foi um dos assuntos mais acessados em nosso site.

Apenas a notícia que Bolsonaro tinha autorizado Caiado a estudar a cassação da empresa italiana em Goiás rendeu ao site quase 35 mil acessos. Era 30 de julho quando o governador foi pessoalmente a Brasília se reunir com o ministro da Secretaria de Governo da Presidência, Luiz Eduardo Ramos. A pauta foi a falta de qualidade na prestação dos serviços da estatal. Saiu de lá, com o aval para que as tratativas para a quebra do contrato continuassem. A situação já estava insustentável para o governo.

Pior empresa de energia elétrica e CPI 

Mas a história não começaria ali. A Enel assumiu a gestão e fornecimento de energia elétrica em Goiás ao comprar parte da Celg em 2017. Nunca houve um consenso que a qualidade de serviço fosse boa. Muito pelo contrário, em março deste ano, a Enel recebeu o inglorioso “prêmio” de pior companhia de fornecimento de energia elétrica do Brasil, em um levantamento feito pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

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A partir daí, chegou até ser instituída uma CPI na Assembleia Legislativa (Alego) para apurar os termos da privatização e também a qualidade dos serviços que se prestavam. O relatório final da CPI pediu caducidade do contrato com a empresa. “Esperamos que essa empresa pague pelos danos que causou e que os goianos consigam contar com um serviço de qualidade”, disse o presidente da comissão, Henrique Arantes (MDB).

(Foto: Henrique Arantes foi o presidente da CPI da Enel.) 

Protesto na porta da empresa: “Goiás não merece essa situação”

Lá em fevereiro, representantes do setor agropecuário e comerciantes realizaram protestos na porta da sede da Enel, em Goiânia. Eles reclamavam muito da qualidade do serviço prestado. Produtores laticínios haviam perdido litros de leite. Comerciários do interior e capital estavam com produtos estragados. A situação chegou ao limite.

Então, no dia 22 de fevereiro foi realizado uma movimentação na porta da sede da Enel. A tarifa paga – uma das maiores do Brasil – nem de longe justificava a péssima qualidade de serviço. “Não iremos descansar enquanto isto não se resolver”, disse o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) Zé Mário Schreiner ao Diário de Goiás, no dia.

“Os produtores e a sociedade da forma em geral chegaram num ponto em que não aguentam mais a qualidade da energia distribuída em Goiás, aliado a isso, uma das maiores tarifas do Brasil”, reforçou. Por fim, desabafou: “Goiás não merece essa situação”.

Pacificação nas relações e acordo assinado

Quando Caiado foi a Brasília e voltou com o aval para estudar o rompimento do contrato, alguns consideraram que de fato, era o fim da linha para a companhia italiana. Mas houve um lampejo de pacificação. Reunidos no Palácio Pedro Ludovico Teixeira, o governador de Goiás anunciou um acordo de compromisso com a Enel para a garantia de melhoria dos serviços. Ao lado de representantes da empresa italiana, Caiado garantiu que a partir dali a história seria outra. 

“A partir de agora, os empresários aqui em Goiás terão a tranquilidade para poder voltar a investir com qualidade de energia elétrica”, pontuou.

Teve direito até de participação do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM) que ajudou a costurar parte do acordo. “É uma grande vitória”, afirmou Caiado no dia.

Um mês depois no dia 29 de setembro, o secretário de Desenvolvimento Econômico e Inovação, Adriano Rocha Lima afirmou que o governo vinha acompanhando os cumprimentos do acordo mais ainda era cedo para fazer uma avaliação ou cobrança. Porém, garantiu que via uma “melhora pequena” na qualidade do serviço.

Fim da linha? Parte 2

O mês de outubro foi um hiato onde pouco se falou sobre a qualidade dos serviços da companhia. Apesar dos trabalhos da CPI continuarem na Alego com a possibilidade de convocação do ex-governador Marconi Perillo (PSDB) não houve grandes novidades acerca do assunto, apesar dos acompanhamentos do governo com relação ao cumprimento do acordo por parte da Enel. A qualidade em si, continuava sendo questionada, apesar dos termos assinados poucos meses antes.

 

Mas foi em novembro mesmo que a corda da relação entre Caiado e Enel esticou novamente. Se pudesse, Ronaldo Caiado talvez pudesse romper o contrato estabelecido. Mas as amarras jurídicas não permitiriam, o que não impediu o governador de botar a boca no trombone e apertar o botão de sua metralhadora de críticas. Em 15 de novembro, Caiado voltou a disparar contra a empresa.

A matéria “Caiado critica Enel e diz que negociação com a empresa já se esgotou” trazia uma fala taxativa: ““Já esgotou todo e qualquer tipo de negociação do Estado com a Enel. Não tem mais como mantermos essa situação. Eles assinaram um documento conosco, com a presença do ministro [de Minas e Energia, Bento Albuquerque], e do presidente da Câmara, [Rodrigo Maia]. Todos os diretores de alto escalão da América Latina falando pela empresa e depois nada acontece. O processo agravou ainda mais do que era”, pontuou.

Dois dias depois, Caiado foi ao twitter apresentar o caso de uma produtora de frangos que havia perdido 46 mil aves em apenas um final de semana por falta de energia elétrica. O assunto bombou e foi uma das matérias mais acessadas do Diário de Goiás.

 

Os entraves jurídicos que permeiam a concessão impedem que o Governo, no momento, possa romper o contrato com a companhia italiana. Certo é que durante todo o ano a relação foi de desgaste. A Enel garante que vem sim fazendo investimentos em todo o Estado. Em alguns momentos, afirma que o governo de Goiás também colabora com a qualidade ruim da prestação de energia.

O Diário de Goiás continuará acompanhando durante o ano de 2020 toda a negociação e cobrando de ambas as partes posicionamentos para melhorias no serviço público de energia elétrica em todo o Estado.


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