19 de dezembro de 2024
Entretenimento

Órgãos do audiovisual defendem regulamentar Netflix e afins

Diretor-presidente da Ancine, Manuel Rangel.
Diretor-presidente da Ancine, Manuel Rangel.

A sombra da Netflix e o a ameaça dos serviços de VoD (vídeo sob demanda) sobre a indústria do cinema dominou debate entre gestores de órgãos estatais do audiovisual de França, Alemanha e Brasil.

O encontro, realizado nesta quarta (19), no Rio, foi organizado pela Ancine (Agência Nacional do Cinema). Em comum, defenderam a regulação desses tipos de serviços como forma de preservar o cinema tradicional.

“A sala de cinema é o elo indispensável para a promoção e exploração de filmes”, disse Christophe Tardieu, diretor-geral delegado do CNC (Centre National du Cinéma et de L’Image Animée), entidade que regula a atividade na França. “O VoD é incrível, mas deve acontecer sempre depois do cinema.”

A França, um dos maiores mercados audiovisuais do mundo, trava uma queda de braço com a Netflix, que esquentou assim que foi anunciada a seleção oficial do Festival de Cannes deste ano, na última quinta (13).

Dois filmes que compõem a mostra de cinema, “Okja” e “The Meyerowitz Stories”, são produções da Netflix, que anunciou a estreia de ambos diretamente na plataforma sem passar pelas salas de cinema, o que desencadeou a ira da entidade audiovisual francesa.

“A ideia não é dizer que a Netflix é do mal por ser americana”, disse Tardieu. “Mas é indispensável que ela seja tributada. Consideramos que é lógico que serviços de vídeo sob demanda ajudem nisso porque vão viver da exposição dessas obras.”

Na França, a janela de exibição, isto é, o período entre a estreia de um filme nos cinemas e a sua chegada a plataformas sob demanda, vai de 22 a 34 meses. Nesse ínterim, boa parte dessas produções é exibida em TVs por assinatura.

“É natural favorecer aqueles que investem nos filmes. E quem mais investe são os canais pagos, que dedicam 12,5% de seu faturamento ao investimento em novas produções”, afirmou Tardieu.

Peter Dinges, que preside o FFA, entidade alemã do audiovisual, fez coro, mas ressalvou que o modelo convencional das salas de cinema corre risco de extinção.

“Não há futuro para o cinema tradicional, aquele que oferece todo tipo de filme e simplesmente espera pelo cliente”, disse.

“Especializar a sala com base na sua clientela é a solução”, completou Dinges, que citou como exemplo locais que oferecem propostas de cardápio “gourmet” ou realizam grandes eventos, como concurso de fantasias, para promover certos tipos de filmes.

Regulação no Brasil

Ao abrir o evento, o diretor-presidente da Ancine, Manoel Rangel, tratou do crescimento do mercado audiovisual brasileiro nos últimos 15 anos -aumento das bilheterias, dos assinantes de TV por assinatura e do número de salas de cinema-, e também defendeu regulação dos serviços de vídeo sob demanda.

“O vídeo sob demanda é a próxima fronteira do audiovisual”, disse. “Eles têm relevância econômica o suficiente para requerer uma regulação do Estado. Só a Netflix tem 7 milhões de assinantes e receitas superiores às do SBT, vice-líder em audiência na televisão.”

A Ancine deve publicar a notícia regulatória sobre esses serviços ainda neste ano.

Rangel também detalhou o aumento do número das salas de cinema no Brasil. “Em 2016 mais salas foram abertas no interior do que nas capitais. E isso tem sido também muito forte nas cidades das regiões Norte e Nordeste.” (Folhapress)

 


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