05 de dezembro de 2025
Opinião
Publicado em • atualizado em 18/08/2025 às 15:41

Você não está cansado de reagir sempre do mesmo jeito?

Rafaela Veronezi. Divulgação
Rafaela Veronezi. Divulgação

Você promete que dessa vez vai ser diferente. Vai respirar fundo antes de responder. Vai se manter firme na nova rotina. Vai reagir com mais leveza, com mais maturidade, com mais consciência. Mas, quando vê… lá está você de novo: repetindo o mesmo padrão. A mesma resposta automática. A mesma irritação. A mesma desistência.

Se isso soa familiar, não se culpe — você não está sozinho. A maioria de nós vive grande parte da vida em piloto automático, reagindo conforme velhos padrões, sem entender muito bem por quê. E não é por falta de vontade de mudar. É por falta de clareza. Falta saber de onde vêm essas reações. Falta saber de verdade quem somos, o que sentimos, o que pensamos e por que fazemos o que fazemos.

A resposta para essa repetição silenciosa e cansativa está em algo tão essencial quanto pouco praticado: o autoconhecimento. Mais do que uma palavra bonita da moda, ele é uma ferramenta prática e poderosa. É o autoconhecimento que acende a luz sobre nossos hábitos mentais, nossas emoções escondidas, nossos comportamentos repetitivos. É ele quem nos mostra onde estamos — e onde poderíamos estar. Como diria o filósofo Carl Jung, “até você se tornar consciente, o inconsciente dirigirá sua vida — e você vai chamá-lo de destino”.

Se você quer parar de reagir sempre do mesmo jeito, se deseja transformar padrões que te sabotam, se busca agir com mais coerência com quem você quer ser, vale seguir por três passos decisivos para sair do piloto automático e retomar o protagonismo da sua vida.

O primeiro é definir com clareza o que você quer. Pode parecer óbvio, mas muita gente vive sem saber exatamente o que deseja. Sente incômodo, frustração, cansaço… mas não consegue transformar isso em palavras. E o que não tem nome, não tem direção. Perguntar-se “o que eu quero mudar?” é um ponto de partida simples e poderoso. Pode ser sua forma de reagir ao estresse, seu jeito de se comunicar, seu estilo de vida, suas relações — mas precisa estar claro. Sem essa definição, ficamos à mercê do momento, desejando mudança, mas sem sair do lugar. Muitas vezes sabemos o que queremos, mas desistimos por não saber como chegar lá. O resultado é o desânimo disfarçado de procrastinação. Escolher um foco, mesmo pequeno, já é um passo para sair do automático.

O segundo passo é ampliar seus recursos internos. Imagine sua mente como uma caixa de ferramentas: algumas estão afiadas, outras enferrujadas, e algumas você nem sabe que existem. Quando a vida exige uma reação — seja diante de uma crítica, de uma frustração ou de um desafio — você recorre ao que está disponível ali dentro. Quanto mais recursos tiver, melhores serão suas respostas. Esses recursos podem ser paciência, empatia, capacidade de escuta, inteligência emocional, coragem. São aprendizados adquiridos com livros, conversas, experiências, reflexões — e também com silêncios. Charles Carver e Michael Scheier, no livro Willpower, afirmam que autoconhecimento gera autocontrole. E autocontrole não é reprimir sentimentos, mas saber o que está sentindo, entender por que está sentindo e, a partir disso, escolher como agir. É sair do modo reativo e assumir o protagonismo das próprias reações.

O terceiro passo é usar seu potencial, que está apenas esperando a onda certa para aparecer. Aquela sensação de que você poderia mais — e de que há algo adormecido dentro de você — está certa. Seu potencial existe, mas não se revela enquanto você ficar apenas observando a vida da areia. Timothy Gallwey, no livro The Inner Game, compara o desenvolvimento do potencial ao surf: um bom surfista não foge das grandes ondas, porque sabe que é nelas que poderá usar tudo o que aprendeu. A virada acontece quando paramos de fugir dos desafios e passamos a vê-los como oportunidades de crescimento. Não é preciso começar pela tempestade; as ondas pequenas também ensinam. A cada desafio enfrentado, você descobre habilidades escondidas e expande sua capacidade de agir diferente. E quando você age diferente, você muda. Quando você muda, sua vida muda com você.

No fim, é simples: quem escolhe continuar igual também está fazendo uma escolha. A boa notícia é que o autoconhecimento não exige técnicas mirabolantes nem fórmulas mágicas para mudar em 30 dias. Ele começa quando você decide parar de repetir padrões sem sentido e começa a se observar com curiosidade e coragem. Você não precisa se tornar outra pessoa, apenas parar de se esconder de quem já é.

Olhar para si mesmo pode dar medo. Pode trazer verdades desconfortáveis. Mas também traz liberdade, clareza, alívio e, sobretudo, a possibilidade de escolha. Como escreveu Viktor Frankl, sobrevivente do Holocausto e autor do clássico Em busca de sentido: “Quando não podemos mais mudar uma situação, somos desafiados a mudar a nós mesmos.” Talvez este seja o momento em que você deixa de ser quem sobrevive — e começa a ser quem decide.

Rafaela Veronezi_divulgação

Rafaela Veronezi - Neurocientista, doutora pela UNICAMP/SP. Palestrante e pesquisadora na área de Comportamento e Desenvolvimento Humano. Mentora em Autoliderança Estratégica.

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