O PMDB goiano escolheu bem o seu novo presidente. Samuel Belchior, 33 anos, é a renovação tardia que ocorre no partido, desde 1966, ainda na época da ditadura e que tinha em Íris Rezende Machado uma de suas maiores expressões. O mesmo Íris que, em lágrimas de emoção, neste final de semana festejou o início dessa repaginação do partido. O mesmo Íris que, ao longo de todo esse tempo, impediu que essa renovação acontecesse.
Já ouvi reações hostis, por parte de peemedebistas, por causa dessa minha assertiva de que o grande líder não permitia maiores espaços para as chamadas lideranças emergentes. Eu a faço e me julgo qualificado para fazê-la, pois sou um dos que viram este self made man em ação antes e depois da sua cassação, em 17 de outubro de 1969.
Já o entrevistei a respeito dessa asfixia a que jovens líderes do partido foram submetidos. Ele discorda. Até digo que Marconi Perillo, como discípulo de Santillo, aprendeu tudo com Íris, inclusive o misoneísmo, a rejeição ao novo. Aprendeu e o repete. O PSDB não tem um nome sequer para disputar coisa alguma, tanto que, desde a eleição de 2000, quando Lúcia Vânia foi candidata (traída pelos tucanos et catervas), que a legenda não dispõe de nomes para entrar na liça.
Íris discorda quanto ao caráter intencional de impedir a ascensão dos emergentes. Diz que, na retomada da democracia, a partir de 1982, o partido precisaria, tal como um rio em nova planície, construir, primeiro, um leito profundo e, ao mesmo tempo, conquistar mais e mais filiações, aumentando o seu caudal, o seu volume. Seria o Rio Tocantins, que, volumoso, corre dentro da “caixa”, com direção e força, diferente do Araguaia, cujas águas de espraiam, se dispersam.
Segundo ele, o que se fez foi tentar fazer mais profundo o leito, para que, sem riscos de desvio e sem ameaças de “transposição”, o rio peemedebista possa correr caudaloso e no rumo, independendo se sob o comando de velhos ou de novos companheiros.
Explica-se como “transposição” a tentativa que o conselho político do então governador Santillo – os chamados “rapazes da Fundação Pedroso Horta” – de tentar mudar o “leito do rio”, impedindo que as águas dos afluentes iristas desembocassem nele. Foi aí que se deu o rompimento das duas lideranças maiores do partido.
In fine, no discurso deste final de semana, Íris Rezende, ao se identificar como o principal responsável pela mudança, orientando os companheiros a que elegessem o deputado mais bem votado para presidir o clube, estaria comunicando que o rio já corre em leito profundo, sem riscos de desvios e que é hora de um por todos e todos por um – a união pela vitória em 2014.
E ano novo está aí. Que o Sr. Perillo comece a governar logo o Estado, pois a oposição, a quem os assessores palacianos festejam como estéril, vai vir com tudo. Ela pouco precisou fazer, este ano, tamanho o efeito do Cachoeiragate. Em 2013, haverá ingredientes novos, pois, ao contrário da CPMI, que é política, o governador estará no olho do furacão por conta do inquérito instaurado contra ele e que entrará na pauta do STJ.
Aí não tem a desculpa do jogo político, nem o blablablá de que Lula está açulando contra o governante goiano. Trata-se de seara jurídica, onde o Sr. Perillo não contará com a subserviência de poodles e nem de totós.
Texto originalmente publicado no www.luiscarlosbordoni.blogspot.com.br