As últimas declarações do governador Marconi Perillo de que o Ipasgo estaria saneado financeiramente, de que o governo antecipará o pagamento das faturas mensais aos prestadores e de que os servidores irão assumir o Instituto em julho, causou grande impacto, em especial essa última decisão.
Importante ressaltar que este compromisso também foi firmado pelo então governador Alcides Rodrigues, que não conseguiu levar a cabo a sua proposta, pois ao estabelecer que lhe fosse enviada uma lista tríplice de indicados pelas entidades associativas sindicais, estas não conseguiram chegar a um consenso, enviando duas listas tríplices, representando os dois grupos majoritários que disputam a hegemonia entre as lideranças dos servidores públicos.
Partindo do pressuposto de que agora a promessa seja cumprida, já que não podemos esquecer que um dos pontos que assegurou o apoio à eleição e reeleição de Marconi Perillo ao cargo de Governador pelas entidades sindicais e associativas foi o compromisso de que o Ipasgo seria dirigido por seus donos, cabe uma reflexão.
O Ipasgo não é um plano de saúde público; ele é particular, eis que é custeado pelos servidores. Sem sombra de dúvidas, é o maior plano de saúde de Goiás, com mais de 630 mil usuários, 600 mil a mais que o segundo plano do estado, contando com mais de 5.600 prestadores de serviços cadastrados. Desde sua criação, há 50 anos, o objetivo era assegurar uma Assistência e Previdência de qualidade para os servidores públicos. Acontece que os objetivos iniciais foram esquecidos e os interesses dos servidores ficaram em segundo plano.
Por Ubaldo Barbosa
Durante estes anos, a maioria dos Governantes goianos só enxergou o Ipasgo como um lugar onde havia cargos a serem preenchidos e negociados com os aliados. Basta consultar os anais do Ipasgo e podemos constatar que grande parte de seus dirigentes foram políticos, alguns inclusive em final de carreira, geralmente derrotados nas urnas, que viam em sua indicação um raro momento de aumentar sua influência política.
A opção que os Governantes fizeram em utilizar o Ipasgo para fins político-eleitoreiro-partidários trouxe uma série de consequências negativas para o instituto.
Todos sabem e reconhecem que o Ipasgo não tem autonomia financeira. Sua própria forma de organização – uma autarquia, é a confissão desta situação, e isto não garante efetivamente uma administração transparente.
A rede de atendimento no interior ainda deixa a desejar; existe ainda a cobrança de taxas complementares por alguns profissionais inescrupulosos. As crises cíclicas nos levam a uma conclusão óbvia: ela, a crise, é de gestão. As constantes greves dos prestadores de serviços não se justificam, já que os valores relativos aos procedimentos médico-laboratoriais são custeados pelos servidores públicos, com descontos diretamente em seu contra-cheque.
Hoje mais uma vez acreditamos ser atual reafirmar a posição de que esta decisão é correta e positiva para a saúde do Ipasgo e porque não dizer para o próprio governo.
Ao governo cabe o papel de resgatar este compromisso eleitoral. Aos servidores cabe um papel fundamental neste processo; mesmo que tenham sido mantidos à margem das grandes decisões do instituto, não justifica a omissão de alguns dirigentes associativo/sindicais, que não discutem os problemas e tampouco buscam soluções para o Instituto. Neste momento, não cabe vacilação.
Cabe agora às lideranças associativas/sindicais representativas dos servidores públicos sentarem, superarem suas divergências político-ideológicas e estabelecerem um pacto de gestão com maturidade e livre dos ranços corporativos, ou seja, construir uma unidade em cima do Projeto Ipasgo.
Chegou a hora do Ipasgo ser administrado por aqueles que, a duras penas e com suas contribuições mensais, construíram o Instituto que hoje é um exemplo da resistência e luta dos servidores públicos estaduais e, porque não dizer, do povo goiano.
Ubaldo Barbosa é jornalista e ex-dirigente do
Sind. dos Servidores da Justiça de Goiás.
@ubaldobarbosa