Por : Filemon Pereira, Diretor de Redação do Tribuna do Planalto.
(Texto originalmente publicado no Tribuna do Planalto )
O empresário José Batista Júnior, o Júnior do Friboi (PMDB), tenta disputar o governo de Goiás desde 2006. Nas duas tentativas anteriores acabou tendo seu projeto frustrado. Agora, o empresário mais uma vez empreende grande esforço para viabilizar-se e impor uma candidatura de oposição ao Palácio das Esmeraldas. Como nas vezes anteriores, porém, comete erros cruciais.
Em um primeiro momento, Júnior do Friboi filiou-se e assumiu o comando do PSB em Goiás. Tentava fortalecer seu projeto em uma sigla menor, mas que pudesse agrupar outras forças pelo caminho. Posteriormente, desistiu do PSB e migrou-se para o PMDB, com objetivo de disputar o governo com uma estrutura partidária maior e mais alicerçada.
Em uma jogada muito mal administrada, acabou perdendo o comando do PSB. Mais do que isso: viu um potencial adversário, o também empresário Vanderlan Cardoso assumir o comando do partido e se fortalecer para o mesmo embate de 2014.
Perdido o PSB, Júnior do Friboi tratou de jogar pesado para aumentar seu cacife no PMDB. Porém, desde o início, sua chegada criou mais problemas internos do que verdadeiramente o fortalecimento de um projeto de poder. Friboi chegou com as bênçãos da direção nacional e sem respaldo do ex-governador Iris Rezende. De largada, criou um enorme constrangimento com Iris e com a ala mais antiga do partido.
Sem se dar por vencido, Friboi tratou de usar a seu favor o que tem de mais forte: a capacidade financeira de tocar uma campanha eleitoral. Cooptou deputados federais e estaduais, além de muitos prefeitos para o seu projeto. Todos deslumbrados com a capacidade do empresário de fazer uma campanha ‘rica’, sem lembrar o PMDB dos últimos anos, com enorme dificuldade de opor-se à máquina de campanha do governador Marconi Perillo (PSDB).
Júnior do Friboi prometeu ajuda para as campanhas de deputados, ajuda para que os prefeitos estruturem a campanha em suas cidades e mais ajuda futura a esses aliados… Um enorme pacote de bondades. Com isso, parte considerável do PMDB encantou-se por Júnior desde então.
O erro de Júnior do Friboi e de seus apoiadores é subestimar Iris Rezende. Se conquistasse Iris, o empresário seria candidato ao governo, teria apoio do PT e poderia, inclusive, ampliar o arco de aliança das oposições. Não é o quadro atual.
Ao confrontar Iris, porém, dificilmente o empresário terá seu apoio em 2014. Mais do que isso, faz com que o ex-governador a cada dia se motive mais com a possibilidade de ele próprio disputar uma vez mais o Palácio das Esmeraldas. E Iris motivado faz política em tempo integral, articula com a habilidade de quem como poucos e age em um campo que seu ‘oponente’ de ocasião tem enorme dificuldade de tatear.
Além disso, mesmo que Júnior do Friboi impusesse a Iris uma derrota interna no PMDB, ainda assim o empresário teria sérios problemas para obter sucesso em seu projeto. Primeiro, porque dificilmente levaria o PT nessa aventura. Depois, sem Iris (que é quem de fato tem votos) em seu palanque é mais ou menos como se disputasse o governo pelo próprio PSB.
O PMDB até tem uma estrutura partidária invejável em Goiás, sobretudo por ser um partido de oposição há 16 anos. Porém, sem Iris o PMDB perde a identidade, torna-se apenas mais um.
Sem Iris, Júnior do Friboi começaria a campanha em baixa, tendo de explicar o porquê de ter lhe tomado o partido. E, mais do que isso, começaria sendo alvo fácil para a base governista – que questionará dia e noite o fato de o empresário ter ‘comprado’ o PMDB.
Júnior do Friboi até tenta se conter, demonstrar que há unidade no partido, apesar de já ter dito estar disposto a disputar a convenção peemedebista. Notadamente, um erro. O candidato do PMDB, ou de qualquer outra legenda, tem de ser escolhido em consenso, do contrário já sairá em frangalhos após uma disputa interna.
A tropa de choque do empresário, porém, é que parece muito disposta ao embate a qualquer custo. A mais nova ação é um evento de prefeitos para fazer uma moção de apoio ao empresário. Parece querer humilhar Iris e seus aliados, mostrar poder. É como se o adversário ao governo fosse Iris, não Marconi. A tentativa é garantir a candidatura de Júnior ainda esse ano. Impossível. Até a convenção, em junho, tudo pode mudar.
Enquanto isso, Iris recolhe-se. Até a eleição há muito tempo para quem sabe articular. Iris pode amarrar o apoio do PT, aqui e em Brasília, pode desarticular Júnior na direção nacional do PMDB e pode até aproximar-se de Vanderlan Cardoso e Ronaldo Caiado (DEM). Ou pode, simplesmente, ficar quieto e deixar o empresário falando sozinho, ao lado de políticos inexpressivos ou com pouca expressão estadual.
O fato é que Júnior do Friboi até anima o PMDB por possibilitar uma campanha com estrutura. Se agisse com inteligência, porém, se aproximaria de Iris e dos peemedebistas históricos. Caso o ex-governador fosse candidato, seria seu vice e poderia sucedê-lo em caso de vitória – repetindo Onofre Quinan (1985), Maguito Vilela (1994) e Paulo Garcia (2010). Caso Iris não concorresse, Júnior teria automaticamente seu apoio.
A situação do PMDB é tão fora do normal que leva a crer que quem está ao lado do empresário hoje quer tudo, menos vê-lo governador.