Pastor parece ter revés específico contra homossexuais, que são vítimas de seus cultos semana após semana
Não sou uma pessoa vivida, estou apenas no auge dos meus 32 anos, feliz, trabalhando para pagar contas e tentando ter o mínimo de qualidade de vida. Mas uma coisa eu sei bem: tenho maturidade para entender que muita coisa que eu não gosto em mim e não consigo me livrar, me incomoda muito mais quando vejo também no outro.
Isso me fez ficar pensando em como deve ser a vida do Pastor André Valadão que, com seus trejeitos nada discretos, seu gritos agudos e gestos suspeitos, fica em cima de um palco criticando a comunidade LGBTQIA+ pelos seus pecados. Uma coisa que nunca esqueci, porém, quando fui religiosamente educado na catequese, é que nenhum pecado é maior, pior ou mais pesado que outro, me corrija se eu estiver errado.
Ou seja, por que é que, então, André Valadão não consegue parar de falar de homossexuais, semana após semana? Não para de esbravejar sobre nosso orgulho, nosso por que eu faço parte destas pessoas, da bandeira do arco-íris. Ele se irrita com o que fazemos no nosso íntimo, mesmo pagando nossos impostos, cuidando de nossas vidas e querendo os mesmos direitos civis que qualquer pessoa que não se encaixa nessa enorme sigla.
Parece, a princípio, que para o religioso, os homossexuais são os causadores de toda a desgraça da humanidade. Drag queens em sala de aula, então? Meu Deus, as crianças vão chegar em casa e vão implorar para os pais para usar salto, roupas extravagantes, muita maquiagem e, claro, a peruca. Nem parece que a arte surgiu com homens hétero antigamente, para interpretarem mulheres, que eram proibidas de atuar.
Onde está o pastor André Valadão para falar dos casos de abusos sexuais e pedofilia praticados pelos religiosos? Pela corrupção praticada por políticos que ele admira? Pela ganância dos ricos, milionários, bilionários? Onde está ele falando dos adúlteros? já que o que eu mais tenho visto na família de amigos evangélicos, são histórias de traição atrás de traição em casamentos heteronormativos.
Onde está André Valadão falando da avareza? Da falta de apoio a miseráveis e pessoas em situação de rua ou vulnerabilidade social que tem passado fome? Não, ele está no alto de seu pupito em Orlando, na Flórida, mesmo território dos Estados Unidos que abriga o parque da Disney.
Eu procurei e, para não ser injusto, achei apenas o pastor em questão criticando políticos de esquerda, justamente os que compartilham de uma mesma base que Jesus Cristo: dividir o pão e o peixe.
Eu jamais subiria em um palco para pedir que Deus ‘resetasse’ a humanidade, assim como eu não compartilho nem com meu próximo as ideias de eliminar qualquer ser por pensar diferente de mim. A única coisa que faço, e que gostaria de ver, mesmo que de longe, é um pastor guiando as suas ovelhas pelo caminho que ele diz ser o correto, deixando o resto das pessoas que pensam diferente em PAZ, quietas.
Do fundo do meu coração eu gostaria de vê-lo tirar da boca falas sobre homossexuais, por que já está ficando na cara demais que ali tem um desejo reprimido. Que Deus o ajude e que ele foque em guiar seus seguidores por um caminho que fale mais de amor e menos de conflito.
Carlos Nathan Sampaio é jornalista formado em comunicação social pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)