31 de agosto de 2024
Opinião
Publicado em • atualizado em 13/02/2022 às 00:31

Ronaldo Caiado: lugar certo na hora certa?

Em novo texto ao DG, o professor e cientista político analisa o cenário que catapultou o governador Ronaldo Caiado ao Palácio das Esmeraldas. E como ele, chegou, no lugar e hora certa (Foto: Vinicius Schmitd)
Em novo texto ao DG, o professor e cientista político analisa o cenário que catapultou o governador Ronaldo Caiado ao Palácio das Esmeraldas. E como ele, chegou, no lugar e hora certa (Foto: Vinicius Schmitd)

A célebre canção dos Titãs, “Epitáfio”, remonta uma máxima de Maquiavel que levou grandes políticos ao poder, sustentou outros sem grandes virtudes, mas também derrubou importantes figuras que pareciam ter tudo a seu favor. Tocada em uma sequência de acordes na escala de “Mi menor”, diz que “o acaso vai me proteger, enquanto eu andar distraído”. A canção nos lembra que a sorte importa, não como uma vantagem momentânea, mas como um aviso de que é possível que o mesmo não se repita em circunstâncias diferentes, caso não esteja preparado. É necessário ter a capacidade de agir frente a ventos favoráveis e contrários.

Ronaldo Caiado (DEM-GO) sempre foi um político famoso por ser rígido e politicamente coerente. Pelo extinto PSD foi eleito Deputado Federal em 1990 pela primeira vez. Em 2018, foi eleito governador em primeiro turno pelo DEM, com a invejável marca de 1.283.665 votos. Ao sair da zona de conforto do parlamento brasileiro, onde gozava de bastante prestígio, quase sempre tido como a cara da oposição, durante os governos petistas, era a hora do novo governador provar-se politicamente em um contexto no qual seu antecessor, Marconi Perillo (PSDB) que também era seu maior rival dentro do estado e que tinha bases muito solidificadas, devido aos quase vinte anos que governou ele próprio ou alguém de seu entorno político, e após as derrotas na eleição daquele ano de seu grupo, havia sumido do panorama político sem eleger sucessores.

No primeiro ano via-se muito o governador falando sobre pautas econômicas e infraestrutura, quase passando a impressão de desatenção ao contexto político que, entre 2019 e o início de 2020, parecia experimentar um grande transição de poder e com isso a incerteza sobre como os grupos políticos se mobilizariam e em torno de quem? Assim sendo, ou Caiado preencheria o vácuo de poder deixado por Marconi, construindo uma base sólida, ou assistiríamos a emergência de outro grande potencial líder no estado. Então foi possível ver o Governador abrir conversações com importantes figuras da Assembleia Legislativa e com antigos mdebistas, que naquele momento não apoiavam a posição oficial de oposição do partido frente ao governo de um parceiro da principal figura da legenda, Iris Rezende. Caiado começou então a ganhar volume quantitativo de apoio político.

(Guilherme Carvalho é mestre em Ciência Política (UFG), Professor dos cursos de Direito e do MBA de Gestão de Políticas Públicas da UniAraguaia)

As eleições de 2020 nos mostraram que Maguito Vilela (MDB) poderia ser essa figura que preconizaria a oposição. Junto a seu aliado em Aparecida, Gustavo Mendanha (MDB), tudo se encaminhava para a criação de uma muro amarelo e verde na região metropolitana de Goiânia, talvez intransponível a Caiado. Diante desta possibilidade, o governador lança mão de seus recursos estratégicos e atrai uma importante figura para seu entorno político, que era o Senador Vanderlan Cardoso (PSD). O senador aceitou o convite e se torna o oposicionista de Vilela na campanha de 2020. O acaso quis que a fortuna (no sentido de sorte) de Maguito Vilela fosse péssima diante das possibilidades de concorrer e ser eleito, como sabemos não pela sua robustez eleitoral, mas pelo desastre que a Covid 19 trouxe ao Brasil e a Goiás. Apesar de ter construído uma coligação eleitoral bastante robusta, atraindo importantes figuras, inclusive da Assembleia Legislativa de Goiás, para seu entorno, Maguito foi impossibilitado de prosseguir na campanha, restando a seu vice, Rogério Cruz (Republicanos), o papel de assumir a dianteira do processo eleitoral.

A eleição se encerrou, e a nível de interior, o governador conseguiu eleger entre seus aliados, 60% dos prefeitos do estado, o que era um resultado fantástico para alguém que precisava criar um grupo político e preencher o vácuo deixado por seus adversários. Mas Caiado perdeu Goiânia e Aparecida de Goiânia. No início de 2021 a fortuna de Maguito não foi melhor. Como sabemos, o prefeito eleito foi a óbito, vítima da Covid 19. Apesar da trágica situação um horizonte de conversações foi aberto com o vice-prefeito eleito e que agora se tornara prefeito de fato. Caiado se reabilitara, então.

O governador é visto com o principal interlocutor do prefeito de Goiânia, Rogério Cruz, que é o Deputado Federal João Campos (Republicanos), possivelmente negociando parcerias a longo prazo. O mesmo ocorreu com a filiação do goiano (há muito distante de Goiás), Henrique Meirelles ao PSD (sim, o partido do Senador aliado de Caiado), que sem ser motivado já anunciou sua intenção de concorrer ao Senado na chapa de Caiado. De outro lado, os adversários mdebistas, vitoriosos em Goiânia, saem derrotados da batalha pelo Paço Municipal e por seu espaço conquistado na eleição, após os desencontros com o prefeito Rogério Cruz, restando um discurso de possível adesão ao grupo do Governador, ou ser uma oposição esvaziada. Paulatinamente, começamos a assistir inclusive a filiação de deputados, prefeitos e vereadores, antes ligados a Marconi Perillo e ao PSDB, ao DEM e a partidos do entorno do Governador.

Caiado é o homem do momento! Politicamente o governador esteve no lugar certo e na hora certa. Isso, no entanto, não significa desatenção, nem mesmo falta de estratégia. Muito pelo contrário. O Governador se demonstrou um hábil articulador político, talvez herança de suas décadas como Deputado e Senador em Brasília. O fato é que ele não apenas ocupou espaços, ele desmobilizou, seja pelo acaso ou por mérito próprio, as possibilidades da construção de frentes de oposição competitivas do ponto de vista eleitoral.

A sorte pode ser boa ou má. Maquiavel nos ensina que tudo depende da capacidade do governante de saber ler as situações e se portar de forma estratégica para manter e adquirir poder. Sim, Caiado andou lendo o Príncipe e os resultados são visíveis.

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(Guilherme Carvalho é mestre em Ciência Política (UFG), Professor dos cursos de Direito e do MBA de Gestão de Políticas Públicas da UniAraguaia. Também é Coordenador do Grupo de Estudos em Direito Eleitoral e Ciência Política (GEDECiP).  Escreve para o Diário de Goiás sempre às quintas-feiras.

As opiniões do autor deste artigo não refletem à opinião do veículo.)