11 de outubro de 2024
Opinião
Publicado em • atualizado em 13/02/2022 às 00:35

Retrato de um time que se apequena e as memórias gloriosas ficam no passado

(Foto: Rosiron Rodrigues/Goiás EC)
(Foto: Rosiron Rodrigues/Goiás EC)

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Cresci assistindo jogos do Goiás no Serra Dourada e talvez eu não seja o melhor dos analistas do mundo, mas o time esmeraldino tem se especializado em apequenar-se. Lembro do Brasileirão de 2003 e um time fadado ao rebaixamento ressurgir das cinzas e entrar numa série de 16 jogos consecutivos sem perder e quase abocanhar uma vaga na Libertadores. Tivesse Cuca assumido algumas rodadas antes e colocasse “sua cara” com um pouco de antecedência, talvez o time até tivesse carimbado uma participação na Libertadores em 2004. Depois veio algumas boas campanhas, um terceiro lugar no polêmico Brasileirão em 2005, a participação na Libertadores, um vice-campeonato de uma Sul-Americana no mesmo ano de um rebaixamento para a Série B.

Me recordo da estreia no Brasileiro em 2004, em que o Goiás fez 4 gols no Botafogo, em pleno Rio de Janeiro. Um time que contava com Paulo Baier, Leandro e Alex Dias – que marcou os 4 gols no jogo em uma brilhante partida. Um ano antes, no Serra Dourada, o Fluminense marcaria um gol, mas o Goiás destruiria a partida com 6 gols aplicados no time carioca comandado por Renato Gaúcho. O treinador ficou tão pistola com seus comandados que ele teceu o preconceituoso comentário após o jogo: “Uma mulher grávida de nove meses teria jogado melhor do que eles”, disse. 

Em tempos não tão recentes, mas mais próximos a nossa linha do tempo, vimos o Goiás ir ao Pacaembu fazer uma partida que terminou em 4×1 sobre o Corinthians. Se o time paulista contava com Ronaldo Fenômeno, o Goiás contava com Iarley que fez dois gols e Fernandão que também fuzilou a rede adversária. Nem o Fenômeno deu jeito naquele jogo. O Goiás chegou a liderar aquele Campeonato, mas o rendimento caiu e a equipe teve de se contentar com uma vaguinha na Sul-Americana, ficando em nono lugar.

O Verdão sofreu goleadas? Claro, faz parte do jogo. Às vezes essas derrotas até para times bem menores. Em 2011, o então consistente CRAC, de Catalão foi à Serrinha marcar cinco gols e deixar o Goiás a ver navios no Campeonato Goiano. Naquele ano, o time esmeraldino ainda perdeu a final para o Atlético-GO, que ficou com o título após dois empates mas ter uma campanha melhor que o Goiás, na primeira fase.

O time perdeu no entanto seus poderes de reação. Tem ficado especialista mesmo é em eliminações precoces em derrotas sofridas por times inexpressivos e apesar das devidas tradições, estruturas bem menores que o Goiás. Mais do que isso: desde o rebaixamento em 2010, tem se apequenado ano-a-ano, como já havia falado. Copa do Brasil de 2014: inaceitável uma eliminação na primeira fase da Copa do Brasil, pelo Botafogo Paraibano, com todo o respeito aos vice-campeões da Copa do Nordeste, deste ano. O segundo jogo que terminou em empate, no Serra Dourada mostrou um time sem o menor poder de reabilitação.

Hoje fala-se em Flamengo, correto? (Pausa para respirar) 2008, o time carioca fez três gols em 35 minutos e o jogo e parecia perdido. Desenhava-se um desastre para o Goiás mas o time esmeraldino chegou ao empate e por pouco não vira o jogo se o juiz não tivesse anulado um último gol da equipe goiana.

Em 2015, um novo rebaixamento à Série B, não sem antes o time cair na terceira rodada da Copa do Brasil: o Ituano, time que não participou sequer da quarta divisão do Campeonato Brasileiro, eliminaria o Goiás. A queda provavelmente fragmentou a motivação ao longo das rodadas seguintes do Brasileirão, uma das campanhas mais vergonhosas da história, com 10 vitórias, 38 pontos e ficando a frente só do saco de pancadas Joinville que amargou uma série de rebaixamentos nos anos seguintes. Hoje se encontra amargurado na Série D do Brasileiro.

No ano seguinte, nova eliminação: o modesto River do Piauí, derrotou o Goiás nos pênaltis, em plena Goiânia sob a vista de seus torcedores. Um dois a um lá, outro dois a um aqui, levou a partida às penalidades que tiraram precocemente o Goiás dá sequência do Campeonato. Na segunda fase, o River foi eliminado pelo também modesto Botafogo Paraibano, aquele que derrotou o Goiás anos antes.

Mas vamos falar sobre hoje: domingo, 14 de julho, depois de uma paralisação soa como se a diretoria esmeraldina estivesse contente e conformada com essa situação. O Verdão que já eliminou grandes times e ofereceu atuação brilhantes aos seus torcedores, era pedra no sapato de equipes dos grandes centros hoje se conforma em fazer pontos para se garantir na Série A (e olhe lá) e não ser eliminado por times com uma estrutura bem menor na Copa do Brasil. Dispensa falar a segunda fase da Copa do Brasil deste ano, contra o CRB, correto?

A derrota para o Flamengo neste domingo, não surpreende ninguém. O time carioca se preparou ao longo da paralisação para a Copa América, movimentou-se, contratou jogadores e um técnico europeu com uma visão estratégica de futebol que leva Jesus em seu nome. O Goiás? Confiou que Walter pudesse resolver seus problemas no ataque. Os planos desabaram com a extensão de seu doping e contentou-se com Rafael Moura, parado desde o ano passado e que depois de inúmeros “nãos” ouvidos pela diretoria esmeraldina quando esta tentou sua repatriação, chegou a um acordo após o jogador não se ver com outras opções no mercado. Dois amistosos vitoriosos nessa paralisação de Campeonato talvez desse ares de estava “tudo bem, obrigado” à torcida esmeraldina. Não estava.

Apagões acontecem e todos podem um dia ter seu “sete a um” uma hora. Mas o que vem se desenhando no Goiás, nos últimos anos é a derrocada a transformá-lo num time pequeno com aval da diretoria que parece não almejar ou se ver endireitada à um futuro de boas campanhas (e eu nem falo de uma diretoria que busca títulos e se contenta apenas com o Goiano, que sequer veio este ano). O marketing esmeraldino apresenta ao torcedor esmeraldino um time nas redes sociais uma equipe que parece uma fantasia dos sonhos ao torcedor, mas sequer oferece um plano de sócio-torcedor decente com o campeonato já indo para sua 11ª rodada. Nem o que já foi elogiado departamento de marketing funciona mais.

O Goiás pode até continuar na Série A e eu acredito que irá permanecer. Mas a sensação que fica é de um time acostumado e que está se especializando em afunilar sua pequenez em tempos de cólera. As memórias ficam. O Goiás já entrou na história deste Campeonato Brasileiro: até aqui, a maior goleada sofrida. As lembranças de algumas glórias esmeraldinas, resultados expressivos e boas campanhas, vão ficando cada vez mais distantes…

Goiás 6 x 1 Fluminense

 

Fluminense 1 x 4 Goiás

Goiás 6 x 0 Palmeiras