Já não restam mais dúvidas que as redes sociais online vieram para ficar e a cada dia ganham mais adeptos entre os atores políticos. Os estudos acadêmicos mostram que em 2008, quando o uso da internet na perspectiva da web 2.0 ganhou destaque mundial com a campanha de Barack Obama nos Estados Unidos, apenas os candidatos com alto patrimônio e alto gasto de campanha usaram a internet no Brasil. E não só isso, nenhuma capital das regiões Norte e Centro-Oeste apresentou alto percentual de candidatos que investiram nas campanhas online.
Como apontam diversos pesquisadores, a facilidade, a agilidade, a praticidade e a interatividade, somadas ao um baixo custo de produção da internet, permitiram popularizar o seu uso nas campanhas eleitorais do nosso país desde então. Inclusive nas regiões mais centrais e menos desenvolvidas do Brasil, os candidatos têm usado sites e redes sociais online, principalmente, para a divulgação de informações de campanha e para a persuasão dos eleitores.
Em 2010, a plataforma mais usada pelos atores políticos em disputa nas campanhas eleitorais brasileiras foi o Twitter. Segundo o professor do Departamento de Sociologia e Política da UFSM, Dejalma Cremonese, a ferramenta de micromensagens ajudou bastante na visibilidade do candidato e também na mobilização dos eleitores em defender seus respectivos candidatos. Já em 2012, a vedete do mercado eleitoral passou a ser o Facebook. Um estudo desenvolvido por professores da Universidade Federal da Bahia, Camillo Aggio e Lucas Reis, mostrou, por exemplo, que os 26 prefeitos eleitos nas capitais brasileiras usaram o Facebook em suas campanhas, contra 25 que usaram o Twitter.
O resultado do estudo, como vários outros, deixa claro que não é possível estabelecer uma correlação estatística (ou relação de causa e efeito) entre o uso das redes sociais e o sucesso ou fracasso nos pleitos eleitorais. O que se verifica e tão somente que essas plataformas ajudam nas ações de engajamento e mobilização de simpatizantes e aliados e se tornam, a cada dia mais, um espaço de grande visibilidade dos candidatos. O que ocorre basicamente por dois motivos: a possibilidade de o candidato falar diretamente com um grande número de eleitores sem precisar passar pelos filtros da mídia tradicional e também de ter sua comunicação política reverberada pelos formadores de opinião: jornalistas, militantes políticos e cidadãos com maior poder aquisitivo e formação escolar que são referências em seus grupos sociais.
A apropriação redes sociais online, como toda nova tecnologia de comunicação, começou com os políticos que viram nela novas possibilidades de atingir um maior número de eleitores e uma nova forma de conquistarem votos, mas acabou se tornando uma exigência para os que querem disputar as eleições com chances de saírem vencedores. Um bom exemplo disso pode ser visto em Goiás. Em 2010, apenas o então senador e candidato ao governo do Estado, Marconi Perillo (PSDB) conseguiu fazer uma campanha online nos moldes norte-americano. Já em 2012, os três candidatos mais bem colocados conseguiram atingir um padrão profissional de comunicação política na internet e nas redes sociais: Paulo Garcia (PT), Jovair Arantes (PTB) e Simeyzon Silveira (PSC). Em 2014, quatro candidatos atingiram esse padrão de qualidade: Marconi Perillo (PSDB), Iris Rezende (PMDB), Vanderlan Cardoso (PSB) e Antônio Gomide (PT).
O bom desempenho da comunicação política nas redes sociais é, normalmente, denominado de capital social, mas aqui ele será tratado como capital político online. Algo que pode ser medido em termos de visibilidade, popularidade e reputação – já que, como foi dito, não se pode atribuir o resultado eleitoral apenas à campanha desenvolvida na internet. Assim a quantidade de novos seguidores, de mensagens produzidas, de mensagens enviadas e recebidas, de replicações (no caso do Twitter); e de novos seguidores, de curtidas, de comentários e de compartilhamentos (no Facebook) são os indicadores do resultado obtido pelos candidatos.
Um cálculo que parece fácil, mas não é. Isso por pelo menos três motivos: os indicadores podem ser manipulados, o resultado é acumulativo de pleitos anteriores e de períodos não eleitorais e ele também sofre impacto do mundo real. Ou seja, os resultados dos candidatos nas redes sociais podem ter sido criados artificialmente pelos chamados robôs, o candidato que usou rede social online em eleições anteriores e não a desabilitou depois do pleito inicia a nova campanha eleitoral em patamares bem superiores a seus adversários que não fizeram o mesmo. E, por último, a aprovação e a rejeição do candidato no período pré-eleitoral influenciam no seu potencial de crescimento.
Portanto, é preciso entender não apenas que a internet e as redes sociais online estão crescendo a cada dia em proporções geométricas, mas também que esta nova tecnologia de comunicação traz novas exigências para os atores políticos que quiserem sobreviver. Como lembram os estudos recentes, as estratégias de comunicação política precisarão ser trabalhadas dentro de um panorama de mídia expandida e de ampliação do debate público. E os candidatos precisarão estar mais atentos ao que dizem os seus eleitores antes, durante e depois do período eleitoral para não pareçam artificiais, insinceros e não dispostos a serem questionados por quem o elegeu.
Luiz Carlos do Carmo Fernandes é jornalista, especialista em marketing político, mestre em comunicação, doutor em sociologia e professor dos cursos de publicidade e propaganda da PUC-Goiás e na UFG.