22 de novembro de 2024
Opinião
Publicado em • atualizado em 04/03/2022 às 16:02

Quando iremos falar dos pedestres?

O coordenador técnico do Mova-se, Miguel Angelo Pricinote, fala sobre a importância de colocar os pedestres na pauta da mobilidade urbana
O coordenador técnico do Mova-se, Miguel Angelo Pricinote, fala sobre a importância de colocar os pedestres na pauta da mobilidade urbana

A obsessão moderna por veículos autônomos, elétricos, patinetes e bicicletas sem estação faz com que seja fácil esquecer o humilde pedestre. No entanto, como quase todas as viagens começam ou terminam a pé, estamos ignorando uma parte fundamental do que torna uma cidade inteligente.

É notório que, nas discussões sobre Planos de Mobilidade ou Planos Diretores os pedestres, não são colocados no cerne da questão. Fundamentalmente, é muito difícil ver um debate qualificado nas cidades em relação as condições para uma melhor caminhada.

Felizmente, existem várias ações que têm se mostrado eficazes na melhoria do deslocamento dos pedestres:

  1. Criação de espaços dedicados para usuários vulneráveis ​​da via, como calçadas melhoradas, vias amplas para pedestres e até ruas e praças parcial ou totalmente para pedestres;
  2. Estabelecer limites de velocidade adequados a cada ambiente e garantir que sejam respeitados. A velocidade em áreas urbanas, por exemplo, deve ser limitada a 50 km/h, ou mesmo 10, 20, 30 km/h em alguns bairros para estimular a caminhada e a mobilidade não motorizada.
  3. Adaptar a infraestrutura viária – estreitando a estrada, construindo ilhas de refúgio, extensões de meio-fio, travessias de pedestres elevadas e redutores de velocidade – é fundamental para alcançar a redução da velocidade.

Promoção de uma maior conscientização por meio de educação e treinamento em segurança viária e garantia de que as leis de trânsito que priorizam os pedestres sejam amplamente conhecidas e devidamente aplicadas.

Claramente, a segurança de pedestres requer uma abordagem multifacetada que combine projetos viários inteligentes e inclusivos, aplicação efetiva das regulamentações de trânsito, resposta imediata pós-acidentes e melhor educação sobre segurança no trânsito. Governos, planejadores, engenheiros, parceiros de desenvolvimento, usuários de estradas… todos temos um papel a desempenhar nisso. Ao reunir todas as partes interessadas em torno da mesma mesa para implementar essas soluções de maneira eficaz e coordenada, podemos fazer uma diferença real e salvar inúmeras vidas de pedestres.

Portanto, de nada adianta discutir a implantação de modelos para Cidades Inteligentes (Smart Cities), Mobilidade como Serviço (MaaS) se continuamos a negligenciar o básico: as calçadas. Vivemos uma realidade na qual as prefeituras estão fazendo investimentos pesados e tecnologias e abandonado nada investindo em adequação das calçadas.

E que é correto afirmar que o pedestre também nunca recebeu devida atenção nem quando existem projetos voltados para Mobilidade Ativa o foco é no ciclista e na ciclovia, raramente são pensados investimentos para os pedestres e a calçadas.

E que falta empenho político em adequar calçadas. Todos os problemas de infraestrutura podem ser resolvidos a um nível de bairros. Mas depende da gestão municipal. Em Lá Paz tínhamos um programa financiado pelo BID. Chamado de Bairros de verdade. O objetivo era resolver todos os problemas dos bairros mais pobres. Enquanto serviços públicos (água esgoto, iluminação, segurança, transporte). La Paz tem muitos morros e o interessante era que com esse programa se conseguia construir calçadas, escadas para os pedestres, sinalização, além claro das ruas pavimentadas.

Miguel Angelo Pricinote é geógrafo pela UFG, mestre em Transportes pela UNB. Foi diretor de Transporte da RedeMob e autor dos livros: “Confiabilidade da Rede de Transporte Público Urbano” e “2020: O ano que o problema do transporte público foi desnudado pela Covid-19: Uma história que não podemos esquecer”.

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