18 de março de 2025
Opinião
Publicado em • atualizado em 17/03/2025 às 17:43

Polarização Tóxica: Lulismo ou Bolsonarismo?

A polarização política no Brasil beneficia ambos os extremos, que, embora antagônicos, compartilham uma concepção de poder autoritário e centralizado. Desde a Constituição de 1988, o modelo político brasileiro é fundamentado no princípio da soberania popular, onde o povo escolhe diretamente seus governantes por meio do voto. Contudo, esse sistema democrático tem sido subvertido por uma falsa dicotomia entre “direita e esquerda”, com as figuras de Bolsonaro e Lula representando posições que, apesar das diferenças, se aproximam na forma como exercem o poder: de maneira personalista e concentrada.

Tanto o bolsonarismo quanto o lulismo se caracterizam por um exercício de poder que desrespeita as limitações constitucionais. O uso de faculdades extraordinárias e decretos de urgência é habitual em ambos os lados, refletindo uma visão de Estado como algo pessoal, e não como uma função delegada pelo voto popular. Isso enfraquece a democracia e a governabilidade, perpetuando um regime onde as leis são mais obstáculos a serem superados do que princípios a serem respeitados.

Ambos os campos políticos também falham na promoção da justiça social. O bolsonarismo, ao priorizar a liberdade de mercado, coloca em risco os direitos sociais e a igualdade. Já o lulismo utiliza a pobreza como uma ferramenta eleitoral, criando um “curral eleitoral” de votos cativos. O resultado é uma sociedade ainda mais fragmentada pela desigualdade.

Essa polarização se revela uma tática eleitoral vantajosa para os dois lados. Em um cenário sem alternativas viáveis, o eleitor é forçado a escolher uma falsa oposição, o que fortalece a divisão do país. Em vez de promover um debate construtivo sobre as políticas públicas, o cenário político se torna um campo de confrontos intermináveis e agressivos.

Em termos práticos, as diferenças entre os dois campos são pequenas. Ambos defendem o poder concentrado, a impunidade e a arbitrariedade. A solução reside na construção de uma alternativa política real, que respeite os princípios da democracia e que busque o desenvolvimento econômico e a distribuição equitativa de recursos por meio de políticas públicas eficientes.

O sistema político atual é corrompido não apenas pelo roubo, mas também por atitudes pragmáticas e desleais, que priorizam interesses pessoais em detrimento do bem-estar coletivo. Para restaurar a representatividade e a vocação participativa da política, é preciso fortalecer o Estado de Direito, promover a responsabilidade fiscal e garantir políticas públicas voltadas para o crescimento sustentável e o equilíbrio social.

Vivemos um momento de grandes crises globais, como a crise ambiental e as instabilidades econômicas. Em tempos de incertezas, é fácil para líderes populistas surgirem com soluções simplistas e inimigos comuns. Contudo, a verdadeira solução para o Brasil está em superar a polarização e buscar alternativas reais e duradouras para um país mais justo e igualitário.

Michel Magul

Michel Afif Magul é advogado, Mestre em Planejamento Urbano e Secretário de Relações Internacionais da Alego

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