Bolsonaro sobe nas pesquisas. Ele está, de fato, conquistando eleitorado. Não acredito que seja ilusão, como a oposição tenta fazer acreditar. Não se pode esquecer que ele teve uma votação expressiva em 2018, e que isso não significa nada. Portanto, não é incomum que ele recupere uma parte de seu eleitorado à medida que avancem determinadas políticas. É claro que o Auxílio Brasil reverteria votos. O mesmo se pode dizer da tímida queda da inflação.
Obviamente a oposição deve acusar o Auxílio como medida eleitoreira, ou compra de votos. Deve explicar, também, que o presidente não tem uma política econômica bem definida para o país e, embora a inflação caia, a análise deve ser mais profunda. Que embora a inflação caia, o emprego não cresce, mas se deteriora. É pra isso mesmo que serve a oposição.
A subida de Bolsonaro nas pesquisas se deve, acredito, à reconquista de parte do eleitorado já propensa a votar na direita, propensa a engolir um candidato em oposição a outro. Um grupo de pessoas que Bolsonaro perdeu ao longo do caminho, pode, é claro, voltar. E sua campanha, provavelmente, vai visar isso.
Sua campanha o colocou nos podcasts. Um podcast é uma conversa informal, onde não há debate, a não ser artificialmente. É um ambiente em que se pode dizer que se decreta um sigilo de 100 anos porque não se pode deixar sua privacidade ser escancarada, porque “dá problema em casa”, sem ser questionado.
O problema conjugal de Bolsonaro não tem nada a ver com a censura que ele fez à atos que podem ser de corrupção, e que são de interesse público. Ele mesmo diz que o sigilo é para beneficiar sua vida particular, não a oposição. E, repito, não é sequer questionado. Isto é, um podcast serve, para o político, para se produzir conteúdo a ser disseminado pelos seus próprios militantes.
Em um podcast, ele fala o que quer. E o apresentador, de forma geral, não está lá para colocar o convidado na parede, ou para deixá-lo desconfortável. Muito pelo contrário, o formato exige que ambos tenham uma conversa como que habitual, e aí está o entretenimento. Não há debate. Conversa de banco de praça televisionada. Ele fica à vontade para falar as mesmas coisas que fala nas lives de quinta feira.
De relevante para o país, nada: política agrícola, política industrial, reforma tributária, ampliação da miséria, precarização do emprego… não se toca nesses assuntos. O mesmo acontece com Lula, nos podcasts em que participa.
Para ambos, Lula e Bolsonaro, parece que a estratégia vai ser mesmo a de não participar de debates. Realmente, não compensa. Para os dois, isso significaria apenas produzir material pejorativo para os militantes rivais disseminarem na internet.
Dessa forma, desvia-se do principal. Ou melhor, o assunto principal se torna marginal. Bolsonaro foi para os Estados Unidos e lá disse que o governo americano deveria trabalhar em favor dele, pois ele representa melhor os interesses americanos no Brasil. Todos os olhares se voltam para um presidente quando ele parece ser alvo de desconfiança das suas próprias instituições, menos os do próprio povo.
Cristian de Paula Jr é professor de história e mestre e doutorando em História da Política pela UFG