23 de novembro de 2024
Opinião
Publicado em • atualizado em 14/10/2014 às 13:52

Pesquisas eleitorais e a espiral do silêncio

Por muito tempo se pensou que o jornalismo poderia ser objetivo, no sentido de tratar de fatos – espelho da realidade. Antes, porém, sendo absolutamente dependentes dos partidos, reproduzindo, portanto, suas cores, de maneira subserviente. Com a objetividade seria possível ter maior audiência – logo, mais lucro -, considerando as divergências ideologias partidárias. Agindo assim, a população ficaria mais bem informada, tomando suas decisões – nada mais enganoso. Hoje, com maior engajamento da mídia na política, conduzindo sua linha editorial, volta-se um tempo de dúvidas sobre os limites do papel da imprensa no pleito eleitoral. Soma-se a isso, o questionamento sobre as pesquisas publicadas, se não seriam uma maneira de favorecer um lado das campanhas, conforme interesses dos financiadores, geralmente a grande mídia – com seus patrocinadores.

São dois agentes importantes nos rumos da política, a mídia e os institutos de pesquisas contratados. Não se deve duvidar da capacidade das empresas de observar com pequena margem de erro, o movimento dos eleitores, conforme se desenrolam os debates. No entanto, para este ano a sinfonia destoou. Os resultados numéricos apresentados pelos institutos, em muitos casos, de grandes empresas de pesquisas, passaram longe da decisão do eleitor com os votos nas urnas, no primeiro turno. Em Goiás, Marconi Perillo (PSDB) seria eleito na primeira etapa, em pesquisa publicada, de instituto reconhecido. Não foi o que ocorreu, para surpresa dos convictos; Tudo acertado, até mesmo a festa. Nem mesmo o candidato ao senado apoiado pelo governo se salvou, com números destoantes, no final.

Na esfera federal a mesma repetição. Marina Silva caindo bruscamente, Aécio crescendo rapidamente, na direção de um “X”, acompanhado pela mídia e institutos com muito entusiasmo e interesse. Analistas políticos, num primeiro momento, não tinham dúvidas, com a ambientalista na campanha, o tucano estaria fora. O PT de Dilma Rousseff(PT) teria um páreo duro pela frente, sendo a oposição de mesma linha ideológica petista. Mas houve enfraquecimento de Marina e pouco entusiasmo para o tucano. As pesquisas passaram a ser fundamentais para o conhecimento do eleitor sobre os rumos eleitorais e decisão. Não seria importante avaliar o peso dos números neste momento? A rigor, podemos acreditar que há a busca pelo chamado voto útil, que na teoria tem um nome interessante: a chamada Espiral do Silêncio. Quando o eleitor acompanha uma maioria, com medo de ser excluído do grande número – veja o papel da mídia, neste contexto. Os números estão estampados nos jornais, advindos dos institutos contratados, além da editorialização de alguns veículos, pautando-se pelas pesquisas. Se esta é uma análise correta, as dados apresentados em forma de gráfico didaticamente podem ter a intenção de influenciar na decisão do eleitor, durante o processo eleitoral, quando usadas para este fim. Obviamente não seria nem ético e respeitoso, com a comunidade. Neste caso, a pesquisa é mesmo eleitoral e longe de ser objetiva, no que se refere a dar subsídio à população sobre a realidade para sua escolha política.

No início do segundo turno, algumas pesquisas trouxeram mais dúvidas, seguindo a sinfonia anterior. Na comparação com levantamentos publicados, logo depois, restou à desconfiança da aparente aposta política, a convencer o eleitor que determinado partido tem mais sucesso que o outro, na arrancada político, agora na segunda etapa. Claro, que em muitos caos pode-se imaginar que há prestidigitação, ou melhor, mágica com números. Ainda mais, como ter certeza de que no segundo turno, agora sim, a mídia e os institutos estão conscientes de seu papel. Com sinceridade, não há certeza. Melhor analisar atentamente a confiabilidade da mídia que publica e tirar a diferença para mais e para menos, sem considerar a tradicional margem de erro e índice de confiabilidade. Claro, que em Goiás a realidade é a mesma.

Como resultado das manobras, quem saem perdendo? Os partidos, que são fundamentais no debate político, que carrega suas ideologias, e o surgimento de novas lideranças; a economia, que pode eleger candidatos que desmonta o mundo dos negócios, em favor de uma minoria influente politica e economicamente; sobretudo dos pequenos comerciais. Porém, mais ainda complica a vida do eleitor, na representação de seus interesses na esfera pública.

Fato é que o jornal mal intencionado quebrou seu contrato com o eleitor, apostando na defesa de seu candidato em detrimento de sua credibilidade. Neste ponto, falta a palavra dos editores e institutos na explicação dos números eleitorais publicados, erroneamente.

O melhor, mesmo momento político, é toda a atenção, afinal, como diz Jorge Ben Jor: “Prudência, dinheiro no bolso e canja de galinha não faz mal a ninguém…”

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Antonio S. Silva é Jornalista, mestre PUC/SP, doutorando UnB e professor da UFMT – Campus Barra do Araguaia.