Ato 1 – Dia 13 de março, quarta-feira: o governador Ronaldo Caiado participa de reunião da cúpula do seu partido, o Democratas (DEM) e defende o apoio da legenda ao governo do presidente Jair Bolsonaro. Ato 2 – O prefeito Iris Rezende (MDB) tem audiência com o governador Ronaldo Caiado (DEM). Ambos selam parceria administrativa. Ato 3 – Dia 16 de março, domingo: Caiado almoça com o presidente Bolsonaro na residência oficial do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Na oportunidade, faz pedido ao presidente para liberar R$ 1,06 bilhão de emendas no orçamento da União para Goiás. Bolsonaro sinaliza positivamente. “Não vou desagradar gregos e goianos”, brincou.
Já disse aqui no DG que o governador Ronaldo Caiado está bem posicionado no Palácio do Planalto. O apoio efusivo durante a campanha para eleição de Jair Bolsonaro (PSL) à presidência foi reafirmado após a posse deste na presidência. Apoiador durante a eleição o governador de Goiás é agora articulador do governo. Faz isso no DEM, partido onde tem voz e liderança. Se as forças armadas são a base de sustentação de Bolsonaro, o DEM é seu braço político.
Digo isto para refletir sobre a parceria administrativa recém-selada entre o Paço Municipal e o Palácio das Esmeraldas. Poucas vezes os governos da Capital e do Estado andaram de braços dados.
Goiânia tem vocação para eleger prefeitos de oposição ao governo do Estado. Poucas vezes houve afinidade política entre prefeito da Capital e governador. Na era ludoviquista, esta parceria resultou na construção de Goiânia. No período da ditadura (1964-1985) foram construídas algumas obras importantes como o Estádio Serra Dourada, o Autódromo de Goiânia e o Eixo-Anhanguera. Nos 16 anos de irismo (1983-1998) o prefeito mais beneficiado pelos governos do PMDB foi Nion Albernaz, que foi prefeito nomeado entre 1983-1985, período em que conclui o asfaltamento do Jardim América e como prefeito eleito em 1988, na gestão de 1989-1992, quando lançou o projeto de ajardinamento das praças e avenidas de Goiânia.
Também é correto dizer que prefeitos eleitos pela também realizaram muito em Goiânia. As gestões de Darci Accorsi (1993-1996), Pedro Wilson (2001-2004) e Iris Rezende (2005-2010), Paulo Garcia (2010-2016) foram profícuas em obras importantes para a Capital, dentre outras a política de preservação ambiental que legou a criação de cerca de 60 parques e áreas de preservação em Goiânia.
Desenvolvimento X Recessão
Os tempos eram outros. Darci, Pedro, Iris e Paulo governaram na oposição num período de alta na arrecadação. Tendo o economiário Cairo de Freitas à frente da Secretaria de Finanças, a administração de Darci Accorsi (PT) modernizou a arrecadação e a cidade teve caixa para tocar obas e lançar novos serviços. Pedro Wilson (PT), Iris Rezende (MDB) e Paulo Garcia (PT) viveram o “boom” de exportações e crescimento econômico da Era Lula/Dilma (2002-2014) quando o Brasil saiu da 11ª para 5ª economia mundial e Goiás do 13ª para a 9ª economia do país.
A época da fartura se foi. Hoje são tempos de vacas magras. A economia está no seu terceiro ano de recessão. O desemprego atinge 12 milhões de brasileiros. As receitas da União, Estados e Municípios estão em queda. As prefeituras estão quebradas. Iris precisa da parceria com o governo do Estado, que por sua vez, necessita do apoio do governo federal.
Não sou daqueles que nutrem qualquer ilusão sobre o governo do presidente Bolsonaro. Acho que ele erra no varejo e no atacado, mas compreendo que as esferas administrativas devem ter uma relação republicana. O pacto federativo dá autonomia aos entes que o compõe, mas oportuniza trocas, direitos e deveres. É dever da União incentivar o desenvolvimento de Estados e municípios.
Parceria e Obras
Iris precisa de recursos do governo federal. Depende da secretaria do tesouro nacional a aprovação do empréstimo de US$ 100 milhões (cerca de R$ 300 milhões) com o Banco Andino. Com este dinheiro o prefeito planeja recapear as principais ruas e avenidas da Capital e asfaltar cerca de 30 bairros que ainda não tem este benefício. O empréstimo também tem que ser aprovado no Senado, na Comissão de Finanças e na de Relações Exteriores. Nesta Casa, Caiado ainda tem prestígio e voto, a começar pelo do seu suplente, Luiz Carlos do Carmo (MDB).
Há ainda outras parcerias, como a ampliação da Avenida Leste-Oeste, no sentido Estação Ferroviária-Jardim Novo Mundo. A obra foi pactuada no governo anterior, no programa Goiás na Frente, com compromisso de contrapartida do governo estadual.
Prefeitura e governo do Estado também precisam se entender na área da saúde, onde os últimos 20 anos foram marcados por disputas, nem todas elas benéficas aos usuários do sistema público de saúde.
Iris tem experiência e pode contribuir com o governo de Ronaldo Caiado. Nestes últimos dois anos o prefeito tem feito um ajuste duro nas contas do município, e agora já pode exibir melhores números na arrecadação de impostos e enxugamento de gastos. Esta expertise interessa a Caiado, cuja gestão tem o desafio tirar todos os esqueletos do armário e ainda apresentar resultados ao povo goiano.
Pragmatismo
A parceria administrativa entre MDB e DEM esbarra num componente político. Oficialmente o partido é oposição, embora boa parte da legenda tenha trabalhado abertamente na campanha de Caiado para o governo do Estado nas eleições de 2018.
A parceria administrativa reforça a ala governista do MDB e pode ter desdobramentos na direção do partido, que sob a batuta do ex-deputado federal Daniel Vilela comanda a oposição à Casa Verde.
Quando foi prefeito de Aparecida de Goiânia, no período de 2008-2016), Maguito Vilela conviveu com três presidentes da República (Lula, Dilma e Temer) e dois governadores (Alcides Rodrigues e Marconi Perillo).
Neste período Maguito foi pragmático. Realizou parceria com todos estes governantes. Sua frase é que “governo não faz oposição a governo”. Talvez seja esse o ponto de equilíbrio no MDB. A disputa de 2022 ainda está longe no horizonte. Daniel Vilela tem energia e tempo para se consolidar como alternativa de oposição a Ronaldo Caiado. Mas até chegar a sucessão estadual, os prefeitos do MDB também têm que conviver com o DEM no Palácio das Esmeraldas e o PSL no Palácio do Planalto. E a chave que abre as duas portas está nas mãos do governador.