22 de novembro de 2024
Opinião
Publicado em • atualizado em 10/06/2022 às 08:11

Pandemia, medo, depressão e ansiedade

A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem alertado a todos os países para intensificar os serviços de saúde e apoio em saúde mental. A pandemia de Covid-19 desencadeou uma onda global de ansiedade e depressão. Estudos divulgados registram aumento em 25% dos indicadores tanto de ansiedade quanto de depressão.

E enquanto a sensação de que a pandemia continua ativa, a situação tende a piorar. As preocupações  com possíveis aumentos casos de instabilidade mental já levaram 90% dos países pesquisados pela OMS a incluir saúde mental e apoio psicossocial em seus planos de resposta à COVID-19, mas ainda hoje, passados dois anos da pandemia,  permanecem grandes lacunas e desafios.

O alerta da OMS é para que todos os países prestem mais atenção à saúde mental e façam um trabalho melhor no apoio  de suas populações. E olha que a saúde mental é apenas a ponta do iceberg. Há ainda uma multiplicidade de fatores, como o estresse a que as pessoas de todo o  mundo estão submetidas. Por exemplo, o isolamento social decorrente da pandemia provocou um estresse coletivo sem precedentes na história. 

As restrições à capacidade das pessoas de trabalhar, a perda de entes queridos, solidão, medo de se infectar  e o empobrecimento das populações, tudo isso gerou  um quadro de depressão e ansiedade coletivas. Entre os profissionais de saúde, a exaustão despertou até mesmo o pensamento suicida.

E os males da alma afetaram principalmente jovens e mulheres. Estudo recente da Global Burden of Disease mostrou que a pandemia afetou a saúde mental de jovens, que correm um risco desproporcional de comportamentos suicidas e automutilação. Também indicou que as mulheres foram mais severamente impactadas do que os homens e que pessoas com condições de saúde física pré-existentes, como asma, câncer e doenças cardíacas, eram mais propensas a desenvolver sintomas de transtornos mentais.

De acordo com o estudo, pessoas com transtornos mentais pré-existentes não parecem ser desproporcionalmente vulneráveis à infecção por COVID-19. No entanto, quando são infectadas, elas são mais propensas a sofrer hospitalização, doença grave e morte em comparação com pessoas sem transtornos mentais. Pessoas com transtornos mentais mais graves, como psicoses, e jovens com transtornos mentais, estão particularmente em risco.

Para piorar, o aumento na prevalência de problemas de saúde mental coincidiu com graves interrupções nos serviços, deixando enormes lacunas no atendimento daqueles que mais precisam. Durante grande parte da pandemia, os serviços para condições mentais, neurológicas e de uso de substâncias foram os mais interrompidos entre todos os serviços essenciais de saúde relatados pelos Estados Membros da OMS. Muitos países também registraram grandes interrupções nos serviços de saúde mental que salvam vidas, inclusive na prevenção do suicídio.

Hoje a situação melhorou um pouco, mas  muitas pessoas continuam incapazes de obter os cuidados e o apoio de que precisam para condições de saúde mental pré-existentes e recém-desenvolvidas.

Sem conseguir o atendimento presencial, muitas pessoas buscaram suporte online, sinalizando a necessidade urgente de disponibilizar ferramentas digitais confiáveis e eficazes e de fácil acesso. No entanto, desenvolver e implantar intervenções digitais continua sendo um grande desafio em países e ambientes com recursos limitados.

A boa notícia é que a OMS tem trabalhado com parceiros, incluindo outras agências das Nações Unidas, organizações não-governamentais internacionais e as Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, para liderar uma resposta interagências de saúde mental e psicossocial à COVID-19. Ao longo da pandemia, a  também trabalhou para promover a integração da saúde mental e do apoio psicossocial em todos os aspectos da resposta global.

Os Estados Membros da OMS reconheceram o impacto da COVID-19 na saúde mental e estão adotando medidas. A mais recente pesquisa de pulso da OMS sobre a continuidade dos serviços essenciais de saúde indicou que 90% dos países estão trabalhando para fornecer saúde mental e apoio psicossocial aos pacientes e socorristas que trabalham com COVID-19. 

Além disso, na Assembleia Mundial da Saúde do ano passado, os países enfatizaram a necessidade de desenvolver e fortalecer serviços de saúde mental e apoio psicossocial como parte do fortalecimento da preparação, resposta e resiliência à COVID-19 e futuras emergências de saúde pública. 

Embora a pandemia tenha gerado interesse e preocupação pela saúde mental, também revelou um subinvestimento histórico nos serviços. Os países devem agir com urgência para garantir que o apoio à saúde mental esteja disponível para todos. (Por Manoela Bonaldo/Estadão Conteúdo)

marcos-cipriano-foto.jpg

Marcos Cipriano é jornalista e advogado

A opinião deste artigo não necessariamente reflete o pensamento do jornal.