30 de agosto de 2024
Opinião
Publicado em • atualizado em 17/02/2015 às 14:39

Os erros de Júnior do Friboi

Quatro casos de infidelidade às decisões partidárias em relação às eleições de 2014 no PMDB seguem para o Conselho de Ética do diretório regional do partido. A decisão foi tomada em reunião da executiva estadual na quarta, 11, e atinge dois peemedebistas que agiram – e vêm agindo – na contra mão da posição oficial do PMDB goiano, que é fazer oposição. O empresário José Batista Júnior, o Júnior do Friboi, e o ex-conselheiro do TCE Frederico Jayme deverão receber as suas sentenças em até 90 dias, prazo máximo que a comissão tem para avaliar os casos.

Frederico Jayme é desafeto do ex-governador Iris Rezende desde o fim das eleições de 2006. Naquele ano, Jayme se aposentou no TCE e voltou a se filiar no PMDB, de olho na vaga de candidato a vice-governador do então candidato ao governo Maguito Vilela. Não conseguiu se viabilizar internamente e perdeu a disputa para Onaide Santillo. Acabou se tornando coordenador-geral da campanha. Após a derrota, apontou a metralhadora para Iris. Desde então, vem se aproximando cada vez mais da base aliada do governador Marconi Perillo (PSDB), ao ponto de ser, hoje, o chefe de gabinete do tucano.

Situação mais inusitada, porém, é a de Júnior do Friboi. O empresário chegou ao partido com a vontade e esperança de ser candidato ao governo no ano passado. Conhecido como um grande articulador empresarial, Friboi, desde então, colecionou erros de todas as dimensões e acabou por inviabilizar não apenas a sua candidatura, como também a sua permanência no partido. Apesar de ainda ter 90 dias para tentar evitar o ‘triste destino’ – ou seja, ainda há tempo para as últimas articulações políticas -, hoje o clima é de que o empresário seja expulso nos próximos meses.

Os erros políticos de Friboi, aliás, não começaram com a sua filiação no PMDB, mas se confundem com a sua própria entrada na política. Em 2005, Friboi foi convidado por Marconi Perillo para ingressar no PSDB e articular sua candidatura ao governo. Pouco tempo depois da filiação, Friboi deu entrevista à Tribuna dizendo que seria o candidato ao governo, que o governador o havia garantido isso. Frisou que seu objetivo seria unir PSDB e PMDB em torno de sua candidatura “para o bem do Estado”. Sua postulação durou apenas mais alguns dias depois destas declarações. No meio do jogo político onde o então vice Alcides Rodrigues (então no PP) tinha nas mangas a vantagem de assumir o governo em poucos meses, Marconi logo veio a público desmentir que havia lhe garantido a candidatura e acabou fritando Friboi.

Em 2010, mais uma vez Friboi acabou inviabilizado depois de dar uma entrevista, desta vez ao jornal O Popular. Filiado ao PTB, o empresário revelou um plano que, segundo ele, teria sido firmado entre ele e o governador. Friboi disse que ele seria o vice-governador e super secretário. Na metade do mandato, Friboi disse que Marconi renunciaria para ele ser governador. Mais uma vez pregou a união de Iris e Marconi em prol do Estado. Foi, novamente, inviabilizado por suas palavras, já que todo esse plano, na prática, seria inviável.

Depois do PTB, Friboi voltou à cena política goiana como comandante, na prática, do PSB. Estruturou o partido em vários municípios e o ajudou a fazer prefeitos. Abandonou o discurso de união PSDB-PMDB (o que foi um grande acerto) e preparou o terreno para, enfim, ser protagonista político em Goiás. Pouco tempo depois das eleições municipais de 2012, porém, abandonou o partido para se filiar ao PMDB. Viu que não teria chance de ser eleito governador no médio PSB e preferiu ir para um partido maior.

O problema é que Friboi não amarrou tal decisão com o PSB nacional. Saiu do partido e o ‘entregou’ a um virtual adversário, o empresário Vanderlan Cardoso (que havia saído do PMDB alguns meses antes). Jogou por terra quase todo o esforço de estruturação do partido que havia feito durante as eleições municipais.

No PMDB, porém, Friboi conseguiu cometer o maior número de erros por menor espaço de tempo. Antes mesmo de entrar no partido, cometeu um equívoco de articular sua entrada nacionalmente, com o vice-presidente da República Michel Temer, e ignorar a liderança do ex-governador Iris Rezende no Estado. Depois, tentou construir um diálogo com Iris, mais o estrago já havia sido feito – em nenhum momento as duas lideranças falaram a mesma língua.

No início de 2014, Friboi errou novamente ao praticamente reduzir a pó a importância do maior aliado do PMDB até então. Em declarações, o empresário disse que esperava o PT buscá-lo para discutir uma aliança, mas se isso não ocorresse ele poderia substituí-lo pelo DEM, maior adversário dos petistas em Goiás. A disposição de Friboi em mostrar que o PT era substituível como aliado – e ainda mais pelo DEM – caiu como uma bomba no partido. Lideranças petistas logo começaram a rejeitar seu nome e dizer que o partido só se aliaria com o PMDB caso Iris fosse o candidato.

No fim de abril, vendo que Friboi não o apoiaria e percebendo que a divisão do partido era iminente, Iris Rezende soltou uma nota dizendo que abria mão de sua pré-candidatura ao governo, abrindo espaço para Friboi. Eis que o empresário, mais uma vez, se equivoca. Ao invés de ‘agarrar o boi pelo chifre’, como dizem os goianos, principalmente pecuaristas do interior, ele suspendeu sua agenda e desapareceu dos eventos públicos. A saída de cena de Friboi fez com que os iristas ganhassem força para criar o movimento “Volta Iris”, recolocando o ex-governador, de uma vez por todas, no jogo.

O último, e mais grave, erro de Friboi no processo eleitoral de 2014 foi a declaração de apoio que fez ao governador e candidato à reeleição Marconi Perillo no segundo turno da campanha. Esta ação, inclusive, é o argumento principal daqueles que pedem a sua expulsão. Ao dizer que apoiava Marconi, José Batista Júnior atuou e trabalhou contra o partido, causando a fúria e descontentamento de quase a totalidade do PMDB – não só de iristas, como de outros filiados menos ligados ao ex-governador. Friboi desrespeitou uma regra partidária básica, de todos os partidos, que diz que o debate interno pode até ser acalorado, mas depois que a agremiação decide por um caminho todos os partidários precisam abraçar a causa.

Isso, é claro, não obrigava Friboi a trabalhar por Iris Rezende. Os seus desencontros, porém, não dava direito ao empresário de apoiar o adversário de seu partido. A não ser que ele já estivesse planejando abandonar o PMDB. Pela sua entrevista à Rádio 730, na sexta, 13, tudo indica que este não era o caso. “Quero continuar no PMDB e tomar o comando do diretório estadual”, disse Friboi na oportunidade.

Para colocar em prática este plano, o mais aconselhável politicamente seria declarar apoio a Iris Rezende logo após à convenção, mesmo que não fosse feita ações na prática. Com este gesto, Friboi poderia ter se mostrado como um fiel seguidor das decisões partidárias. Após a derrota de Iris – e com a idade praticamente lhe impedindo de disputar outra eleição para o governo -, Friboi poderia se transformar no novo grande líder do PMDB a partir de 2015. Ganharia forças para comandar o processo das eleições municipais de 2016 e da sucessão de 2018. Ao invés disso, porém, hoje ocupa um espaço pequeno no partido, com grande parte dos peemedebistas lhe apontando os canhões e clamando para a sua saída.