A máxima “Querer não é poder” nunca foi tão verdadeira como tem sido atualmente em momentos de crise econômica. O arrocho salarial, o aumento das taxas de juros e o crescimento do desemprego fizeram com que muitas famílias brasileiras reavaliassem o seu conceito de consumo. Não é segredo para ninguém que os tempos áureos do financiamento facilitado, da expansão da compra de veículos e do dólar abaixo de R$ 1,80 já passaram, sem previsão exata para retorno. No entanto – citando novo ditado – “em tempos de recessão, existem os que choram, e tem aqueles que vendem os lenços”. Em que posição você está?
Mesmo que não se venda os lenços, também não há condições para chorar. É necessário reagir, e com as finanças organizadas, novos sonhos podem se realizar por meio de um adequado Orçamento Familiar. A primeira orientação para adequação do Orçamento é cortar a impulsão por gastos. Diariamente inúmeras oportunidades de consumo são oferecidas à sociedade, com as facilidades de crédito motivadas mais por propagandas e menos pela necessidade em adquirir o produto. A principal razão para o descontrole das finanças pessoais é o fato de as famílias gastarem mais do que ganham, tendo então como consequência o endividamento. No instante em que antecede o consumo, avaliar a real importância da compra e as taxas de juros impostas nas aquisições a prazo podem fazer com que o comprador em potencial se torne em um consumidor racional. Isso é o ato de distinguir o desejo da necessidade.
Na linha do gasto por impulso também estão as promoções e as ofertas com seus anúncios, parcelas a longo prazo, descontos aparentemente atrativos e oferecimento de brindes. Nessas horas vale até mesmo uma reflexão bíblica registrada em Apocalipse 18:04: “E ouvi outra voz do céu, que dizia: Sai dela, povo meu”. Valem todos os tipos de reflexões, desde que a decisão tomada pelo consumidor seja a mais sensata possível.
Outra orientação diz respeito a listar as receitas e despesas, sempre se lembrando que no contracheque existem descontos. Vale relacionar como itens fixos gastos como habitação, alimentação, educação, transporte, saúde, vestuário e lazer. Já as despesas extras, tais como os impostos a pagar, materiais escolares e consultas médicas, é recomendável manter uma reserva de emergência, que pode ser parte da aplicação do 13º salário, por exemplo. Com respeito aos investimentos na área da saúde, é importante guardar todos os comprovantes de despesas, pois os gastos com saúde são dedutíveis do Imposto de Renda.
Vencida a luta contra a impulsão por compras e a desorganização de receitas e despesas, é necessário lidar com as contas bancárias, os cartões de crédito e cheques especiais. Manter mais de uma conta corrente em instituições financeiras é um risco para quem busca restabelecer o equilíbrio financeiro. Orienta-se a ter apenas uma conta corrente, pois assim haverá menos gastos com tarifas bancárias e maior controle do dinheiro. O limite do cheque especial também é outro vilão. A decisão mais sábia a ser tomada é evitar usá-lo, tendo em vista que as taxas cobradas pelas instituições financeiras são altas, podendo levar a dívida ao dobro do seu valor em um curto espaço de tempo.
Existem benefícios para a utilização do cartão de crédito, principalmente no que concerne à comodidade em comprar e realizar o pagamento em uma única data, mas seu uso desenfreado pode levar ao descontrole financeiro. Para evitar o endividamento, é preciso conhecer as características de cada tipo de crédito, bem como as taxas de juros impostas, e também a melhor data para as compras. O parcelamento da fatura do cartão de crédito só deve ocorrer em última hipótese, pois os juros cobrados sobre o saldo devedor são exorbitantes. Muitas famílias incorrem em erro ao pagar sempre o valor mínimo da fatura, e nunca o integral. A atenção para com esses detalhes faz a diferença no Orçamento Familiar, bem como também se atentar em respeitar rigorosamente o limite de gastos pessoais, e não o limite estabelecido pelo cartão.
O Conselho Regional de Contabilidade de Goiás disponibiliza a cartilha Orçamento Familiar para o cidadão se orientar financeiramente. O profissional da contabilidade está apto não apenas para gerenciar as finanças de empresas públicas e privadas, mas também cumpre o papel de consultor econômico para as famílias. O consumo consciente e priorizado permite a realização de sonhos, colabora com a harmonia familiar e serve como aprendizado para as próximas gerações.
Contador Elione Cipriano da Silva
Presidente do CRCGO