O cuidado com os animais é um cuidado com a humanidade e com o meio ambiente. As cenas chocantes dos últimos incêndios, que resultaram na morte de milhares e milhares de animais, mostram que o cuidado com o meio ambiente e com os animais é um dever de todos. Nas grandes cidades o problema de maus-tratos, abandono e crueldade já é antigo e ininterrupto. Mas, infelizmente, o poder público tem se ausentado de suas responsabilidades, o que tem sobrecarregado os protetores de animais e as ONGs, que trabalham incansavelmente e voluntariamente sobrevivendo de doações.
As leis que de algum modo garantem a proteção aos animais ainda são esparsas e pouco efetivas, ainda que seja do conhecimento público que é crime maltratar, abandonar ou ferir animais, ainda assim as práticas não são inibidas porque a fiscalização não existe e se repetem diariamente. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que no Brasil são aproximadamente 30 milhões de animais abandonados. A proporção entre humanos e animais nas grandes cidades é, de em média, 5 seres humanos para cada animal, e cerca de 10% destes estão abandonados.
Existem, no entanto, grandes almas humanas que se disponibilizam a resgatar, cuidar, abrigar e dar destino amoroso aos animais abandonados em todo o país, e em Goiânia não é diferente. São diversas ONGs e pessoas voluntárias que resgatam esses animais, castram, vacinam, tratam, abrigam e disponibilizam; após todo esse processo, buscam adoção responsável e amorosa. Algumas dessas ONGs possuem mais de 300 animais resgatados e o número não para de crescer. E, o pior de tudo, elas não têm nenhuma garantia de contribuição ou rendimento fixo que permita realizar todo esse serviço, dependem de doações voluntárias, o que na maioria das vezes não é suficiente, gerando stress e angústia nos responsáveis por esses abrigos.
Acontece que o cuidado com os animais e o meio ambiente é um dever de todos e, acima de tudo, do poder público. É incompreensível como até hoje o poder público não tenha se atentado para políticas efetivas que diminuam o problema e tome a frente da proteção animal. Na verdade, é compreensível, pois a última prática estatal de controle de animais nas grandes cidades era a matança em massa, prática cruel que felizmente foi proibida.
Se por falta de condições financeiras, por crise econômica ou social, as ONGs deixarem de existir, não haverá mais qualquer tipo de proteção animal em Goiânia ou no país, o que pode gerar um colapso social e sanitário sem precedentes. É preciso que os municípios, começando pelo nosso, onde podemos batalhar, estruturem um sistema de apoio à causa animal, como um SAMU animal, castra móvel, abrigos públicos para animais; que mantenham campanhas permanentes de identificação, vacinação e tratamento veterinário, entre outras providências relevantes. É um sonho que um dia exista em Goiânia um Hospital Veterinário Público, mas é mais importante ainda a implantação de uma política de assistência aos animais nos moldes da que existe para os humanos, e que funcione. Enquanto isso não acontece, é possível, aos poucos, desenvolver parcerias com as universidades públicas e privadas que envolvam os alunos dos cursos de veterinária, que atuem como estagiários, ou como parte de formação acadêmica em parceria com as políticas de proteção animal. Convênios e parcerias com clínicas e incentivos financeiros às ONGS regularizadas.
O problema é de toda a sociedade, começando pelo Estado. A defesa do meio ambiente e dos animais é dever constitucional do poder público, dever moral e ético de todos nós. A causa animal é social e dever do poder público. Cuidar deles é sinal de humanidade e responsabilidade social.
*Juliana Braga é carateca, professora de Educação Física, voluntária social, empresária e pré-candidata a vereadora por Goiânia.