Vivemos tempos difíceis, tempos de escolhas. Ficar em casa ou sair? Proteger-se da doença, ou correr atrás do sustento, protegendo-se da falência financeira? O que vem antes: a saúde ou a economia? Cada pessoa tem uma sentença: os que preferem ficar quietos, cobram que todos os governos garantem seu direito de ficar somado ao de não falir; os que decidem correr, exigem que sejam respeitados, porque estão no seu direito. Os que decidem, governam, o que devem decidir mesmo?
Não há resposta perfeita nesta hora. Os governantes são cobrados de qualquer maneira. E está certo. São líderes, precisam assumir a liderança. Se cobram impostos para garantir recursos para a saúde, são questionados porque a prioridade está errada. Está? Se liberam impostos, não tem como garantir insumos, atendimentos, estrutura para socorrer quem precisa. Os líderes lideram, mas nem todos lideram o bom combate, e muito poucos são compreendidos.
Líderes, porém, não têm que ser compreendidos. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, já definiu faz tempo o que vem primeiro em sua agenda: a vida. Mas é cobrado por não colocar antes, nas suas preocupações, o dinheiro. Na matemática dos razoáveis de plantão, sem dinheiro não há vida. Ocorre que a conta não fecha porque, sem vida, não há dinheiro. Logo, a simplicidade com que muitos definem o que é correto e melhor a se fazer, necessariamente não é o melhor nem o mais correto a não ser para si próprios. E é este o momento de um só?
O prefeito de Goiânia, Iris Rezende, tem falado o essencial, evitando entrar em embates ideológicos e tais, e tomado muitas decisões práticas. As ações do município são evidentes tanto na saúde quanto na execução de obras. Obras? Obras numa hora dessas? As obras, no entanto, estavam em andamento, e parar significa manter transtornos e desperdiçar dinheiro. Continuar, então? Continuar, com cuidado, seguindo protocolos, movimentando, ainda que pouco, a economia da cidade – este o caminho traçado, a decisão tomada. E tem a manutenção dos parques, embora para pouca ou nenhuma visitação (o recomendado), e tem também a limpeza das ruas, essencial para, também, a saúde.
Iris e Caiado se completam em comportamento neste momento. Até se afinam. Todos os movimentos da prefeitura, tem dito o prefeito, são ajustados aos do governador, basicamente sem margem de erro. Diferente de outros tempos, governo e prefeitura de Goiânia se entendem e agem em benefício da população, em vez de benefício político-eleitoral. Há uma ordem unida contra o coronavírus, o que demanda esforço redobrado por conta, exatamente, de todas as dificuldades, dicotomias, diferenças de visões, choque de ideias e receitas de sucesso no front do combate, tudo, enfim, que demanda uma luta que é maior que picuinhas e movimentos unilaterais.
Os cidadãos querem muito de Caiado e Iris, como querem e cobram de governadores, prefeitos de modo geral e do presidente da República. E são cobranças reais, independentemente de contraditórias na rota de solução: ficar em casa ou ir para o trabalho? Amolecer a economia e endurecer na saúde, ou vice-versa? O que seria um meio termo, nessa equação? De prática, temos um governador e o prefeito de Goiânia tomando decisões, decisões que questionamos. Porém decisões que resguardam a vida, como prioridade, está claro, e que respeitam as alternativas, que vão se abrindo aos poucos.
O que eu quero e o que você quer podem estar em conflito. Iris e Caiado é que não podem. E atacá-los não é a melhor solução. Cobrar, sim, é direito de todos. A responsabilidade pública que se exige deles deve também partir de nós, individualmente. Eles lá, a gente aqui, mas todos juntos para resolver o problema. E não o contrário: nós aqui, eles lá e ninguém se entendendo. O inimigo é outro. Ou a gente escolhe ser parte da solução, ou seremos, cada um na sua razão, o fatal problema de todos.