27 de setembro de 2024
Opinião
Publicado em • atualizado em 26/07/2018 às 18:03

O pulo de Demóstenes

Há um ditado popular, frequentemente usado na política, que diz: “Caititu fora de bando é comida de onça”.

O brocardo ilustra bem a decisão do ex-senador Demóstenes Torres de recuar do projeto de disputar ao Senado e sair candidato a deputado federal.

Demóstenes foi acima de tudo pragmático e demonstrou lealdade ao grupo a que hoje pertence.

Sua candidatura ao Senado vinha criando desconfortos na base aliada ao ex-governador Marconi Perillo.

Como só há duas vagas, e um dos nomes é o de Marconi, se mantivesse sua candidatura Demóstenes criaria arestas com a senadora Lúcia Vânia (PSB) – tudo que os líderes da base não queriam e não querem nesse momento da disputa estadual – e ainda poderia forçar o ex-governador a rever o seu projeto político, em nome da unidade, possivelmente candidatando-se a deputado federal. Dizem até, nos bastidores, que Marconi chegou a propor isso, mas não houve concordância da base.

Com a decisão, Demóstenes também demonstrou fidelidade ao líder do PTB Jovair Arantes, que vive um momento político complicado, em função da prisão de parentes dele, por suspeitas de envolvimento em corrupção no Ministério do Trabalho.

Eleitoralmente o Demóstenes de hoje não é o mesmo Demóstenes de 2010, quando foi decisivo na eleição de Marconi para o terceiro mandato de governador.

O ex-senador não foi inocentado, apenas as provas colhidas contra ele foram consideradas ilegais pela forma, não pelo conteúdo. E isso pesa muito no momento em que a sociedade brasileira clama por mudanças na conduta dos políticos. Para corroborar o argumento, ele se submeterá agora ao crivo das urnas, podendo ser absolvido ou não.

Talvez tenha sido a melhor decisão, dentro as decisões possíveis. No Senado, Demóstenes poderia reencontrar muita gente para quem ele pôs o dedo na cara, apontando desvios morais e condutas incompatíveis com o mandato de Senador da República.

Se eleito, na Câmara Federal poderá tentar recuperar o terreno perdido e se reinserir na cena política nacional, com as credenciais de quem saiu do paraíso para o purgatório. E, de quebra, arrumou mais inimigos do que amigos.