Uma tragédia. Dez jovens mortos e outros 17 feridos a tiros, flechas e facadas numa escola pública em Suzano (SP). Horas depois, numa entrevista à CBN, o senador Major Olímpio (PSL-SP), membro da Bancada da Bala fulmina: “se a professora e um funcionário da escola estivessem armados não teria acontecido a tragédia de Suzano”.
No mesmo dia da tragédia o Portal da Transparência publica ato do presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL-RJ), que libera um reforço de empenho, no valor de R$ 1,5 milhão, “para atender ação de utilidade pública Posse de Armas”.
Fica ainda pior. O presidente também encaminha ao Congresso Nacional projeto flexibilizando armas. E mais: assina decreto extinguindo 21 mil cargos e funções gratificadas nas universidades e institutos federais, o que na prática representa o desmonte total do Ensino Superior no Brasil.
Os oito estudantes mortos e os outros dois suicidas em Suzano são ao mesmo tempo vítimas e algozes da política de ódio que mergulhou o país na intolerância nos últimos três anos. Este ódio foi propagado diariamente nos meios de comunicação e nas redes sociais. O resultado foi a eleição de um presidente que também é apologista da violência.
Ontem, outro senador, Rogério Carvalho (PT-SE), também contextualizou a tragédia: “Quando o presidente ensina crianças a fazer arminha com a mão e diz que vai eliminar adversários ele estimula as pessoas a resolverem as suas desilusões na bala”.
Parte da sociedade mergulhou fundo nesta mensagem do ódio. Muitos adoraram a ideia de que cada cidadão poderá ter uma arma para se defender. Os “cidadãos de bem” embarcaram na guerra do “nós” (de bem) contra eles (do mal). A realidade agora está batendo à porta de todos: violência gera mais violência. Armas não resolvem problemas, só pioram.
Diante do dantesco morticínio muitas pessoas começaram a refletir. No restaurante onde almoçava ontem os comentários aqui e alí eram de estupefação:
– “Se liberarem (as armas) imagine como será no trânsito. Uma discussão no sinal terminará em morte”!
– “Devem ter pego as armas do pai. Que horror!”
– “E esse negócio hein? Quer dizer que o cara que matou a vereadora era vizinho do presidente e a filha namorava com o filho do Bolsonaro?”
O Brasil precisa depor as armas.
É preciso cessar a guerra deflagrada pelos setores mais reacionários da politica contra o “inimigo interno”, porque este “inimigo” nada mais é do que o povo pobre das periferias e das favelas das grandes cidades.
Pensava-se que o “inimigo” estava somente nas favelas. Mas na terça-feira ação conjunta do Ministério Público e da polícia do Rio de Janeiro prendeu num condomínio de luxo na Barra da Tijuca (no qual coincidentemente mora o presidente da Republica), o sargento reformado da PM Ronnie Lessa, acusado de ter sido o autor dos disparos que mataram a vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e o seu motorista. Na sequência a polícia apreendeu 117 fuzis M-16 no Meyer, zona norte do Rio, “coincidentemente” na casa de um amigo Ronnie Lessa.
O delegado que efetuou a prisão, Giniton Lages, que anunciou que Lessa morava no mesmo condomínio de Bolsonaro e que os filhos de ambos haviam sido namorados foi afastado do caso.
O Brasil precisa retomar o caminho da paz, da verdade e do compromisso do Estado com os seus cidadãos.
O presidente precisa depor as suas armas nas redes sociais. Precisa sair do twitter e governar. Também precisa esclarecer as ligações de sua família com as milícias no Rio. Afinal, a apologia que ele faz às armas atende a algum interesse ainda não revelado?
Não se constrói um país estimulando violência, e muito menos, tirando recursos da Educação, da Saúde e da Previdência, como quer fazer o ministro da Economia, Paulo Guedes.
Que Brasil é esse que Bolsonaro, Guedes e seus asseclas planejam sem dinheiro para escolas, universidades, saúde e aposentadorias?
A ladainha cantada por Bolsonaro e seus filhos é a mesma de outro monge do ódio que há 80 anos atrás, também pregava ódio, intolerância, extermínio dos “inimigos do Estado”. Suas mensagens de violência mergulharam o mundo na II Guerra com saldo de 70 milhões de mortos pelas armas, pela fome e por doenças.
O Brasil merece um destino melhor do que este.
Marcus Vinicius, Repórter do Diário de Goiás