30 de agosto de 2024
Opinião
Publicado em • atualizado em 06/10/2015 às 14:53

O eterno sonho de terceira via

Uma boa qualidade para alguém que entra na vida pública é ser obstinado. Temos atores políticos em Goiás que se enquadram nesse perfil. Com isso obtém êxito em certos momentos e também amargam derrotas duras. Um bom exemplo é o ex-prefeito de Senador Canedo, Vanderlan Cardoso.

Empresário bem sucedido no ramo alimentício, Vanderlan foi levado para política por Sandro Mabel, e logo viu em Senador Canedo, sede de seu grupo empresarial, um céu aberto para largos vôos. Fez uma administração muito elogiada, além de entregar a cidade com uma estrutura bem melhor que encontrou. Achou que isso era credencial suficiente para tentar o sucesso na corrida da sucessão ao Palácio das Esmeraldas. Não era.

Após deixar a prefeitura em seu segundo mandato, Vanderlan, que era do PR, fez uma boa coligação para o governo em 2010, mas esbarrou no desconhecimento de seu nome e que na maioria dos partidos saíram divididos das convenções, além da pré-campanha ser sofrida e ser a última a ser oficializada. Vários candidatos que começaram com ele terminaram posando ao lado do governador eleito Marconi Perillo. Apoiou Íris Rezende no segundo turno, e morreram abraçados.

Depois da primeira derrota, procurou espaço no PMDB, foi recepcionado com pomposa festa e ali ficou aproximadamente um ano. Tempo para ver que não dava para chegar e sentar na janela. Não em um partido da capilaridade e guerra de egos como o antigo MDB. Saiu a tempo de procurar outro lugar para chegar comandando.

Em um jogo de xadrez que só na política acontece, o empresário Júnior Friboi vislumbrou um caminho livre no PMDB, principalmente por ser financiador de campanha de muitos prefeitos e deputados, e chegou de mala e cuia na legenda, deixando pra trás o comando do PSB. Vanderlan viu a chance de ter um partido com bom potencial de crescimento em mãos, e assumiu o lugar de Friboi.

Apesar de ser sócio da maior potência mundial em proteína animal, Júnior Friboi subestimou a força do ainda cacique Íris Rezende. Mesmo tendo no discurso a liberdade de “procurar espaço.”, Júnior percebeu antes da convenção que não tinha nada para enfrentar a eleição, só dinheiro. Poder financeiro é decisivo na política, mas deve ser acompanhado de história, boa articulação e carisma. Friboi só tinha dinheiro.

Enquanto isso, em 2012, nas eleições da capital Vanderlan agregou Ronaldo Caiado, dissidente da base e tentou emplacar o então vereador Simeyzon Silveira, ainda não muito conhecido, mas novamente se viu travado na polaridade PT/PMDB e base do governo na capital. A relação com Caiado era de dois caciques esperando se entenderem. Não foi o que aconteceu.

Vanderlan Cardoso viu Caiado sair do projeto após rusga com a presidenciável Marina Silva, o partido dela Rede Sustentabilidade foi barrado na criação antes das eleições de 2014. Isso enfraqueceu muito sua chapa em 2014. Resultado: Ficou com apenas PSC e PRP ao lado. Mesmo neutro no segundo turno, viu boa parte de aliados novamente debandarem para os governistas.

Mudando o foco para a capital, Vanderlan tentou outra jogada no xadrex  e articulou a vinda  senadora Lúcia Vânia e seu sobrinho deputado Marcos Abrão do PPS. Sem espaço em uma chapa da base em 2018, Lúcia desembarcou no PSB já para assumir o comando estadual, com Vanderlan indo para o diretório metropolitano mirando o Paço Municipal para 2016.

Com a possibilidade maior de aliança com a base aliada pra virtual segundo turno, agora ele sacrificou a parceria com Jorcelino Braga, responsável pelo pequeno PRP e por seu marketing e TV nas últimas campanhas, além de ser desafeto público de Marconi. Por fim perdeu o prefeito Misael Oliveira, que deve a ele sua eleição em Senador Canedo, mas sempre também foi próximo de Marconi, e recentemente trocaram farpas na imprensa.

A vida não é fácil para quem tenta espaço entre dois grupos políticos que dividem o poder por décadas, especialmente em um estado preso ao tradicionalismo de líderes poderosos como em Goiás. São 16 anos de poder do PMDB seguido de agora 17 anos de PSDB. Como assumir liderança diante dessas hegemonias?

Os apoios políticos são um fluxo migratório de poder. Não se consegue segurar pessoas relevantes que afinem o discurso de maneira fácil. As legendas novas criadas são facilmente absorvidas em quem está no poder ou faz oposição com mais cacife. O afunilamento é viciado em inchar grupos tradicionais e não sobrar espaço para organismos novos. O jogo é duro, e caciques novos não são bem vindos.

 

paulo di castro

 

 

 

 

 

Paullo Di Castro é jornalista, fundador do Projeto AQUA, e acadêmico de Teologia.