De repente a rua de casa, no Jardim América, mudou. Ela passou a ser mão única. Ao que se saiba, nenhum dos moradores foi consultado antes sobre o impacto da medida.
Mas a situação do fluxo nela agravou, ficou mais perigosa. Teve impacto negativo nas nossas vidas e não vimos benefício no trânsito.
E não foi a única. Quem reside no JA há muitos anos, como eu e minha família, já percebeu o que os órgãos municipais parecem evitar reconhecer. O Jardim América saiu da periferia e virou região central, zona de travessia.
E não foi o único. Setores vizinhos como o Sudoeste, Vila União, Alpes, entre tantos, foram sendo impactados por um volume imenso de veículos sem que o transporte público e modais menos impactantes, como as ciclovias, recebessem a mesma atenção.
Além disso, assistimos às obras de escoamento do fluxo sendo minimizadas ou paralisadas ao longo dos últimos anos. E uma malha viária sendo precarizada cotidianamente, recapeada e esburacada, recapeada e esburaca e assim segue.
Projetos vitais para evitar o impacto atual e viabilizar a mobilidade foram ignorados a despeito de quem reside, ou passa pela região. Um caso emblemático é a Marginal Cascavel, que esperamos por mais de 40 anos e que até hoje tem um trecho sem conclusão.
Sem um transporte público condizente com a cidade, sem estímulo ao sistema de bicicletas compartilhadas e até sem ciclovias suficientes, não resta outro caminho ao goianiense senão o uso de carros, infelizmente.
Mas essa é uma falsa solução porque ela, na verdade, é um problema. Estamos assistindo isso diariamente em Goiânia: explosão de carros e motocicletas oprimindo o cidadão a pé, o que usa ônibus, e os ciclistas.
Recentemente acompanhei a palestra do consultor Renato Boareto, especialista Mobilidade Urbana e Meio Ambiente, em Goiânia. Ele orientava pré-candidatos nas eleições deste ano sobre soluções para a mobilidade na nossa Capital e alertava exatamente para a necessidade de políticas focadas no transporte público e no respeito aos espaços verdes, nos transeuntes e nas ciclovias.
Em Goiânia não se vê, por exemplo, uma discussão madura sobre a viabilidade de tarifa zero no transporte coletivo, o que estimularia esse modal e desestimularia o uso de tantos carros e motos. Essa política já é praticada em mais de 100 municípios brasileiros. Temos que debater isso no Legislativo e no Executivo.
Precisamos que os futuros gestores públicos, aqueles que decidirão os rumos da cidade, e também os legisladores, tenham uma nova postura diante da coisa pública. Nos últimos anos vimos a explosão de crescimento da nossa cidade, sem que isso fosse acompanhado de projetos racionais, viáveis e respeitosos em relação à ocupação do espaço urbano. E tudo era aprovado na Câmara Municipal, deixando essa herança nefasta.
Quem mora há muitos anos em bairros residenciais da região, como o Jardim América, Bueno, Nova Suíça, Sudoeste, por exemplo, viu prédios e mais prédios sendo erguidos de uma hora para outra. Foi uma verdadeira sanha imobiliária que ignorou para onde iria o trânsito, como seria o esgotamento sanitário ou a drenagem das ruas. E deu no que deu.
Agora surgem soluções paliativas que não representam nada mais que um suspiro diante de um problema gigante que aumenta igual a bola de neve. Entra governo e sai governo e ela só aumenta, passando por cima da população.
Há poucos dias, por exemplo, ficamos cerca de 20 minutos parados a duas quadras da Avenida T-9, nas proximidades do Clube Oásis, porque os carros e motos, não tinham para onde seguir.
O tempo dos semáforos não era suficiente para o enorme número de veículos canalizado para aquele trecho e que competiam com os que transitavam pela T-9 em busca da mesma rua. Faltavam só duas quadras para atravessar a T-9. Uma insanidade.
E isso se repete em outros locais da região. Mudaram sentidos de ruas, mas isso significou apenas a transferência do problema para uma ou duas ruas depois. E a população, os comerciantes, que se lasquem. É a impressão que temos.
Um clamor que os cidadãos goianos fazem é no sentido de que os gestores e legisladores atuais e futuros respeitem e não violentem mais o Plano Diretor de Goiânia. Que eles sigam a Carta de Risco da cidade. Que ouçam os técnicos e enfrentem as soluções mais complexas porque das paliativas estamos cansados.
Advogado, economiário aposentado, dirigente sindical, morador do Jardim América