Por Luiz Carlos Bordoni, no Blog do Bordoni
“Acho que, infelizmente, o Congresso abdicou de ser um poder para apoiar medidas. Às vezes estão certas, às vezes não. O problema é que o Congresso deixou um vazio, não está exercendo poder de fiscalização. Veja o caso desta CPI, não estou de acordo com o que houve. Não tenho por que me solidarizar com erro, mesmo do meu partido”.
FHC: não a Marconi, não ao erro |
Palavras de Fernando Henrique Cardoso, em críticas (merecidas) ao Congresso Nacional, aos parlamentares e ao seu próprio partido. Um puxão de orelhas foi bem dado aos do seu próprio partido por conta da conduta da bancada, durante o desenrolar da CPMI. A frase “Não tenho porque me solidarizar com erro, mesmo do meu partido” deixa bem clara a posição do ex-presidente em relação ao governador de Goiás.
O ex-presidente falou à imprensa na quarta-feira, após participar de almoço na Associação Comercial e Industrial do Rio de Janeiro. Você leu isso na mídia daqui? Não, só um editorial dizendo que o governante goiano saíra-se bem no final da CPMI – o que é uma grande inverdade.
Eu já havia observado o longo silêncio de FHC durante o decorrer dos trabalhos da Comissão. Por que não disse antes? – dirão alguns. Ora, não foram os tucanos que reclamaram estar o ex-presidente se sentindo dono do partido, crítica velada que se repetiu agora, quando ele disser ser Aécio o nome para 2014?
FHC esperou tudo terminar e, perguntado, opinou. E opinou bem. Enquadrou os companheiros e estes não mereceriam melhor sorte. Arapucas partidárias de ponta decrua se posicionariam, no final dos trabalhos, como o fizeram os rapazes alegres da banda
indisciplinada do PSDB.
Direto no queixo
Por essa pancada os tucanos não esperavam. Acumpliciaram-se com a banda podre do PMDB, venderam os seus votos a Renan Calheiros, para ajudar que seja ele o novo presidente do Senado, tudo para que o relatório com o nome do Perillo não fosse aprovado (como se tal documento tivesse alguma importância ou alguma influência p\ara a pretendida mudança dos rumos). O governador de Goiás está sendo investigado em dois inquéritos que correm em Brasília, independente de CPMI: um, por sete crimes que teria cometido no imbróglio do Cachoeiragate e, outro, por conta de 2 milhões de reais que teria exigido de propina dos grandes frigoríficos, para modificar a lei do ICMS, de molde a beneficiá-los.
O recado a Perillo está explícito: “não tenho por que me solidarizar com erro, mesmo do próprio partido”. O ex-presidente simplesmente disse ao governador goiano: você está errado e não conte comigo. FHC simplesmente mandou dizer que, quem defende moral, ética, probidade, não pode se solidarizar com coisas erradas. E foi o que o partido dele fez. Escancaradamente.
Traição
A postura dos tucanos em relação ao deputado Carlos Alberto Lereia prova que há, ali, dois pesos e duas medidas. Marconi presta e Lereia não presta. Ambos têm envolvimento com o contraventor. Ambos são amigos do contraventor. A diferença é que Lereia o admite enquanto o outro foge. É velho amigo da família. Por ser verdadeiro, paga o preço da pusilanimidade do seu partido. Todos lhe viraram as costas, todos lhe enfiaram o punhal nas costas, inclusive o seu dileto amigo governador.
Lereia, o proscrito |
Que posição assumiu o diretório estadual do PSDB em relação ao seu filiado? Nenhuma. Ficou, como sempre, em cima do muro. Pelo dogma de FHC, Lereia deveria ter sido expulso, como havia defendido o senador Álvaro Dias. Ocorre que Álvaro é camaleônico. Pede o banimento de Lereia e me manda para Marte em defesa de Marconi.
“Lereia é réu confesso” – dizem os tucanos. Não, Lereia não é hipócrita. Marconi, ao negar, não se fez melhor do que o outro. Contra fatos não há argumentos. O deputado ficou com a imagem de quem não mente, enquanto, aos olhos do público, o mentiroso seria o governador.
P. S. – Neste novo ano, a previsão é de que teremos mudança de próteses no Senado, saindo Cyro Miranda e entrando Paulo de Jesus, presidente do PSDB goiano. Aguardar e ver. Paulinho é o segundo suplente do renunciante Perillo.