02 de setembro de 2024
Opinião
Publicado em • atualizado em 22/06/2023 às 14:36

Mulheres na política, feminicídio e a ascensão da nova direita radical

Ato simbólico promovido em 2015 por deputadas em defesa de uma maior participação das mulheres na política. Foto: Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados
Ato simbólico promovido em 2015 por deputadas em defesa de uma maior participação das mulheres na política. Foto: Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados

A misoginia e o machismo estrutural não nasceram em nossos tempos atuais, são parte estruturante de nossa sociedade baseada nas formas de poder do patriarcado. No entanto, vimos nos últimos anos, desde o golpe palaciano orquestrado contra a primeira mulher presidenta da República do país, Dilma Rousseff (PT), em 2016, um forte e desavergonhado crescimento dos ataques misóginos e feminicidas nas esferas públicas de poder do país. Na semana do feriado de Corpus Christi, infelizmente, testemunhamos a ameaça de morte à deputada federal Silvye Alves (União Brasil-GO) e seus familiares. Não aceitaremos esse tipo de ameaças institucionalizadas nas esferas de poder, que tentam minar a participação das mulheres na política e na vida social brasileira.

As cenas que antecederam e sucederam o golpe orquestrado contra Dilma Rousseff em 2016 não deixam dúvidas: o golpe foi contra um projeto político de cunho popular, mas com recortes absurdamente machistas, misóginos e de extremo ódio contra todas as mulheres brasileiras representadas na figura da presidenta da República. Cenas de verdadeiro horror machista viraram, desde então, uma tônica da extrema direita brasileira e foi usada insistentemente pelo fascista Jair Bolsonaro (PL) em sua campanha de 2018, durante todo seu governo e também nas eleições de 2022, na qual saiu derrotado. Acontece que o ovo da serpente do fascismo segue entre nós com força política pública. Seus aliados seguem atacando e ameaçando as mulheres no parlamento brasileiro, na vida cotidiana e em cada corredor da vida pública e privada por onde passam.

Esse também foi o caso das ameaças reveladas pela deputada federal goiana Silvye Alves no último dia 5 de junho, quando o líder de seu partido na Câmara pediu ao presidente da Casa que concedesse proteção policial à deputada e sua família 24h por dia em razão de ameaças contra sua vida e de seus familiares depois do posicionamento da deputada em pautas importantes em votação na Câmara. Nós solidarizamos com a luta que a deputada goiana vem confrontando com veemência as mentiras divulgadas por outro deputado federal, do PL, que faz uso da guerra das redes sociais para atacar a todas e todos que considera inimigos, fazendo uso de mentiras (fake news), prática recorrente do bolsonarismo.

Nós do PSOL goiano, a partir da nossa direção estadual, reforçamos nossa solidariedade a todas as mulheres vítimas de violência de gênero, inclusive à deputada Silvye Alves, tonificamos aqui a necessidade das mulheres em não aceitar seus corpos como instrumento fortalecedor da opressão e violência das pautas extremistas. Esse recente episodio torna notório que as mulheres, mesmo as que acham pertencentes ao grupo, são descartadas quando começam a pensar, opinar ou fazer o que querem.

Como disse a poetiza RupiKaur “os corpos de outras mulheres não são os nossos campos de batalha. E é deste modo que reafirmamos nosso compromisso com a democracia plena, que inclui a paridade de gênero em todas as esferas de poder da república, avançando decididamente pela ampliação dos direitos sociais e políticos da classe trabalhadora, dos povos indígenas e quilombolas e de todos os trabalhadores do campo que lutam pela reforma agrária em nosso país.

Exigimos uma forte e veemente declaração pública de todos os deputados goianos contra as ameaças sofridas pela colega Silvye Alves, e que essa declaração se estenda ao combate à extrema direita radical que é, infelizmente, apoiada pelo nosso governo estadual. Nós do PSOL não descansaremos no nosso combate pela equidade de gênero em todas as esferas políticas de poder, para combater o machismo e a misoginia da nossa sociedade e por um futuro sem opressões no nosso país. Machistas não passarão!

Cíntia Dias é socióloga, feminista e presidente do Psol Goiás

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