Tomei uma posição sobre os protestos e manifestações desse final de semana. Não é a de ir às ruas nem hoje, nem amanhã, nem domingo. Não é também a de cruzar os braços e achar que está tudo perdido. É um caminho de contramão, o de repensar meu exercício de cidadania, de querer fazer ações práticas que de fato aponte um caminho e mudança de paradigma na nossa vida social.
Sim, as manifestações populares são legítimas, garantidas pela Constituição Federal e são um instrumento importante de posicionamento popular frente a questões inerentes ao nosso cotidiano. Mas será que só isso basta?
2013 ficou marcado por acontecerem em junho diversas manifestações em todo país. O estopim foi um aumento de passagem de transporte coletivo. Mas diversas bandeiras tomaram o corpo e reivindicaram suas melhorias. Foi lindo ver tanta gente na rua, as redes sociais sendo instrumento poderoso de divulgação, mas a herança disso não foi proveitosa.
Um buraco se formou no espaço de um ano entre as manifestações e as Eleições de 2014. O continuísmo da vitória de quem foi representado tanto por situação como por oposição em vários estados e na presidência foi um diagnóstico de que o efeito de todo barulho chegou só como um sussurro no momento fundamental.
O que faltou pra esse grito se propagar por mais tempo? O que mudou na participação cidadã de quem foi às ruas ao longo do ano? Não foi muita coisa!
Não adianta ir para a rua e continuar ignorando a ética com o “jeitinho brasileiro”, não adianta ir para ruas e se conformar com atos de corrupção que fazemos sem pensar no agravo, não adianta ir para as ruas e furar o sinal enquanto não tá vindo carro na hora, não adianta ir pra rua e usar carteirinha falsa para ter meia entrada, não adianta ir pra rua e sonegar impostos. Que moral eu tenho de cobrar de alguém uma postura que eu não tenho?
O agravo dos nossos erros são bastante relativizados na nossa sociedade. Se tenho uma atitude que parece que não vai prejudicar ninguém em meu beneficio, mas sei que foge do que é plenamente legal, passo por cima, mas não tolero quem faz o mesmo em uma proporção maior que parece prejudicar mais gente. A diferença é a perspectiva do prejuízo, mas o agravo existe da mesma maneira.
Algumas perguntas que venho me fazendo: Me perguntei qual a última vez que mandei um e-mail ou fiz outro contato com um governante ou parlamentar pra cobrar ou reivindicar algo, qual a última vez que pesquisei suas promessas e cobrei a realização das mesmas, qual a última vez que olhei os sites oficiais pra acompanhar projetos e matérias votadas que vão afetar meu dia dia? Qual a última denúncia passei para a imprensa dar visibilidade e provocar mudanças? Ir pra rua é melhor que fazer essas coisas?
Nossa democracia é bastante imatura, falta muito para sermos participativos ao ponto de dar o exemplo e inibir os que se corrompem. Mas a esperança existe, a construção de uma nova geração engajada é possível. Mas será impossível mudarmos algo se a nos participação for só na rua. Quem vai pra rua, o mínimo de coerência que se espera é fazer o dever de casa!
Paullo Di Castro é jornalista e estudante de teologia.