O que esperar de um povo que não se comove, que se torna totalmente indiferente, com uma montanha diária de 1.200 mortes? Uma sociedade que perdeu a capacidade para olhar para as camadas mais humildes da população, as minorias, com sentimento de solidariedade, empatia, e, acima de tudo, fraternidade.
Todos os dias estamos perdendo quase dez Boeings 737-200 de brasileiros, numa carnificina sem precedentes em nossa história.
A pergunta é: quando vamos nos indignar? Pelo jeito, nunca. Já se passaram cem dias de uma pandemia que, acima de tudo, evidenciou a falência no projeto de se construir uma nação justa, solidária, equilibrada, ambientalmente sustentável e fraterna.
Assim que este artigo for publicado, vão aparecer dondocas, conservadores de plantão, negacionistas, a dizer que isso é coisa de comunista, de esquerdista, de pessimista, derrotista e tudo quanto é ista.
No momento em que paro para refletir sobre o mundo que estamos construindo, muitas vidas foram ceifadas pela Covid-19 e vão ser apenas para a estatística da nossa indiferença.
Perdemos a capacidade de valorizar a vida. Estamos muito mais dispostos a falar asneiras, do que ouvir verdades. Enquanto isso, religiosamente, nos restou apenas o direito de contar friamente nossos mortos.
Muitos deles eram corpos insepultos, porque tinham morrido muito antes da chegada da peste, morrido para o estado, morrido para os poderosos, morrido para o vizinho.
Como diria Carlos Drummond de Andrade, “Eta vida besta, meu Deus!”
Marcos Cipriano é jornalista e advogado