22 de novembro de 2024
Opinião
Publicado em • atualizado em 14/03/2022 às 18:15

MBL em baixa: como atuam os partidos paralelos?

Renan Santos, em destempero durante live do MBL (Foto: Reprodução)
Renan Santos, em destempero durante live do MBL (Foto: Reprodução)

Algumas organizações, no Brasil, funcionam como verdadeiros partidos paralelos, ou clandestinos. Ciro Gomes foi o primeiro a cunhar esta expressão, e o professor Paulo Ghiraldelli a consagrou, em outras ocasiões, na opinião pública. Se refere à organizações tais como o Movimento Acredito, com apoio e financiamento de Jorge Paulo Lemann, banqueiro brasileiro; o movimento RenovaBR; ou mesmo o Movimento Brasil Livre. Se auto-justificam como formadoras de quadros para a política brasileira. Possuem tendência econômica neoliberal, e com inclinação ideológica à direita. Exemplos desses quadros são o deputado Felipe Rigoni, primeiro deputado federal cego do Brasil; Tabata Amaral; ou mesmo Arthur do Val e Kim Kataguiri.

Entendo essas organizações como partidos paralelos porque atuam organicamente como um partido político tradicional, embora não possuam os registros oficiais e obrigatórios, e não somente como uma escola de formação de políticos. Fazem reuniões deliberativas, combinam atuação, votos e manifestações. Como não possuem os registros, os quadros formados entram nos partidos tradicionais e simplesmente não seguem suas diretrizes. Tabata Amaral, por exemplo, já passou pelo PDT e hoje atua pelo PSB. Felipe Rigoni atua, até o momento, pelo União Brasil. Kim Kataguiri, passou pelo DEM e hoje atua pelo PODEMOS; Arthur do Val possui uma biografia política semelhante.

Ou seja, essas organizações servem para se mobilizar na política. Não simplesmente para formação política, em geral. Nutrem os partidos tradicionais com quadros que, depois, não atuam segundo esses partidos legalizados mas segundo os movimentos dos quais são provenientes. Isso é perfeitamente legal. Não é um crime, nem nada. Mas é preciso esclarecer alguns fatores para a sociedade. Como disse, algumas dessas organizações são financiadas por banqueiros, ou por empresários. Mas de onde sai o dinheiro do MBL?

Nesse momento, a organização se encontra em uma situação ruim na opinião pública. Lembremos das falas do Kim relativizando o Nazismo no Flow Podcast com o Monark; e das recentes falas do Arthur do Val que, como apontei na coluna anterior, demonstram um sentimento de aversão aos pobres. Estes últimos acontecimentos deixam claro que esses partidos atuam em favor próprio, e não de acordo com as diretrizes dos partidos a que se vinculam. É por isso que esse pessoal troca de partidos com muita facilidade.

Agora, estão querendo a cassação do deputado Arthur do Val, mas esta percepção, mais ampla, de que respondem a um partido paralelo, surgiu dentro da sociedade. E isso é muito importante. Ela acontece através do Ministério Público, que voltou a investigar o Renan, presidente e criador do MBL, como apontou ontem o Diário de Goiás. A suspeita é a de lavagem de dinheiro. Até hoje ninguém sabe como o MBL pode ter essa movimentação, e ir para Ucrânia, por exemplo, sem capital declarado. Eles não apresentam suas contas…

A promotoria conseguiu ordem judicial para aprofundar a análise de transações de Renan dos Santos e familiares. Essa é a questão. A investigação, na verdade, já estava posta no passado ,mas agora reacendeu pelo MBL estar em baixa na opinião pública. É bom aproveitarmos, também, e investigar outras coisas também. Devemos lembrar das fotos dos garotos do MBL com Eduardo Cunha, pouco antes da prisão do ex-deputado. Como esse pessoal consegue fazer assédio judicial com vários de seus opositores? São vários processos, e sabemos que eles custam alto.

É uma espécie de lobby, dentro do Congresso. E isso sim, é a deterioração da democracia. E a nossa já tem problemas demais. Isso não pode mais continuar, e nossa sociedade está acordando para isso. É cedo para dizer mas esse, talvez, seja o fim do MBL.

Cristian de Paula Sales Moreira Junior é professor de História e mestre e doutorando em História Política pela UFG.

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