Batista Custódio é um grande frasista . Dos seus 50 anos de jornalismo, em Goiás, compartilhei 13 , iniciando como copidesque, repórter e depois editor do jornal Diário da Manhã. Batista fundou seu primeiro jornal, o 5 de Março, em 1959, em resposta ao autoritarismo praticado pelo governo de José Feliciano Ferreira (PSD).
Naquele dia jagunços do governador barbarizaram estudantes que protestavam na Praça do Bandeirante, ponto focal da política goiana nas décadas de 1950 até 1990. Nesta semana, voltou a analisar, como poucos, as entranhas do poder em Goiás.
Com a experiência de quem vivenciou a passagem de 25 governadores pelo Palácio das Esmeraldas, Batista Custódio especializou-se em identificar as idiossincrasias do poder. Sabe enxergar como poucos o falso moralismo daqueles que se colocam no pedestal dos ilibados à luz do dia, mas, na penumbra da noite, cometem excessos de corar Calígula.
Faço uso de uma frase, de sua autoria, que dá título a este artigo, que por certo, serve de reflexão sobre ídolos edificados pela mídia conservadora como Joaquim Barbosa, Gilmar Mendes, Roberto Gurgel, Celso Melo, Demóstenes Torres, Álvaro Dias, José Serra, Roberto Freire, Fernando Henrique Cardoso, Marconi Perillo e Aécio Neves: “ Essas vestais da rua de cima, conheço-as todas, como putas da rua debaixo”.
Nesta última terça-feira, Batista Custódio esquentou as teclas de sua Olivetti Lexicon 80 com o artigo “Manifesto à Vida II”, onde nos brinda com frases incisivas, cortantes, como esta, que talvez faria eco no STF:
-“O que dói não é o corte da lâmina do punhal nas costas. O que dói é a mão que está segurando o punhal”.
Ou quem sabe esta outra assertiva, que poderia resumir o conluio entre o crime organizado e agentes do poder público apontados pelo relatório da CPI do Cachoeira , feito pelo deputado federal Odair Cunha (PT-MG):
– “Todo poder é fraco quando perde a força da honra”.
E também esta frase, que com certeza o ilustre jornalista Paulo Henrique Amorin avalizaria na sua análise do PIG (Partido da Imprensa Golpista):
“É preciso ter autoridade moral para falar o que o povo precisa ouvir. Muitos dos que estão falando em nome do povo na mídia ficariam calados se ouvissem o que o povo anda falando deles nas ruas.”
As frases do decano ajudam a explicar porque o Brasil real é um e o visto pela dita “grande imprensa”, e pela oposição ultra-conservadora é outro. A realidade das ruas, como diz Custódio é a que reelegeu o presidente que transformou em marolinha a crise de 2008, e que em 2010 elegeu a presidenta que manteve o país de pé ante o vagalhão que varreu os EUA e a Europa em 2011.
Enquanto o povo percebe que o governo atual distribuiu renda e num país que tem o menor desemprego nos cinco continentes – 4,9%, contra 8,4% na Inglaterra,; 25,02% na Espanha ou 26,8% na Grécia -, a Rede Globo, o Estadão e a Folha insistem em jogar contra. Ora são notícias de que a Copa de 2014 não vai dar certo, ou do fictício racionamento de energia elétrica.
Mas não foram as patranhas da “grande mídia” nacional que motivaram o texto do editor-geral do DM. Sua reflexão é regional, embora, como bem disse o escritor russo Leon Tostoi: “Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”.
Goiás vive um período de excessiva censura sobre a mídia. Se no eixo Rio-SP, banqueiros e governos tucanos bancam a Globo de Ali Kamel para que ele “teste hipóteses” (http://migre.me/cPfKW) contra os governos do PT (Lula e Dilma), aqui nestas plagas, elementos ligados à Casa Verde exercitam o controle absoluto da notícia. Mais: sufocam jornais com o torniquete financeiro, tentando leva-los à falência. Perseguem jornalistas independentes, pedindo suas cabeças aos seus patrões na mídia. E é por isto que embora o Brasil veja como danosas ao interesse público as relações do contraventor Carlos Cachoeira com o governo de Goiás, por aqui é como se este assunto fosse proibido. Ou talvez, o “Ali Kamel” do governador Marconi tenha “testado esta hipótese”, rejeitando-a.
Parafraseando Batista Custódio, numa avaliação de outros tempos, diria que o problema de Goiás, em relação às putas e às vestais, é que ambas moravam em casas geminadas, as putas de um lado da parede, as vestais de outro lado. O “cachoeirismo” implodiu a parede e misturaram-se as gentes. Tá difícil saber quem é quem!
Marcus Vinícius é jornalista, economista, edita o Jornal Onze de Maio e o blog: www.marcusvinicius.blog.br